O mestre e os aprendizes antecipam o Dakar 2015

"Sim, estou muito nervoso. É como se partisse para uma consulta no dentista", ironiza Jeroen van Daele, um dos muitos rookies a enfrentar as agruras do rali Dakar e um dos vários aprendizes a escutar nesta sexta-feira, em Buenos Aires, os conselhos do mestre Marc Coma, campeão na categoria de motos.

Carpinteiro de profissão, este holandês de 47 anos prepara a primeira aventura na competição. Só nas motos, serão cerca de 40 os debutantes que irão descobrir o terreno pedregoso da pampa argentina, a partir de domingo, com a esperança de passar pelo Chile, depois pela Bolívia e de marcar presença à chegada, novamente na Argentina. "O meu objectivo é apenas terminar. Se me aguentar até ao final, será como ser campeão do mundo", vincou van Daele.

À frente de Marc Coma, quádruplo vencedor do Dakar ao serviço da KTM, perfilou-se ontem mais de uma dezena de novatos à espera das dicas preciosas para uma longa jornada de todo-o-terreno, numa iniciativa do director desportivo da prova, David Castera. Entre eles contavam-se Christopher Cork, um pedreiro inglês coberto de tatuagens e amante de música punk, Paula Galvez, uma pequena chilena de 31 anos que competirá num quad, ou Florent Vayssade, antigo praticante de caiaque.

"Nas tendas, quando chegarem, o mais importante é comerem bem, tomarem um banho e lerem com atenção o roadbook, para prepararem a etapa do dia seguinte. Atenção ao tempo que perdem no Facebook para saberem novidades dos amigos... É energia perdida e vão precisar dela no final", atira Marc Coma, numa sugestão acolhida com um sorriso por Christopher, mais preocupado com os riscos de desidratação durante as etapas.

Mas esse é um factor que já não inquieta Paula Galvez. Para esta professora de educação física, o fundamental é dominar o seu Renegade 800, um quad de 350kg que a vice-campeã do Chile conta conseguir guindar até Buenos Aires. "O importante é estarmos concentrados e que a máquina responda bem", assinala.

"Medo não tenho verdadeiramente, mas alguma apreensão, especialmente em relação à altitude", expõe Florent Vayssade, que olha com especial cuidado para as 7.ª e 8.ª etapas, na zona de Uyuni, na Bolívia, com especiais a mais de 4.000 metros. "É preciso muita cautela na forma como atacamos a estrada".

Uma mensagem reforçada por David Castera, preocupado com a segurança dos pilotos. "O Dakar, não podemos esquecer-nos, é uma prova perigosa. É preciso estarem concentrados, pensarem apenas na estrada. Durante a prova, há que esquecer tudo o resto, senão sofrem uma queda", alerta.

Foi justamente para se preparar para estes riscos que Christopher escolheu treinar-se nas dunas da Líbia ou do Dubai. Para financiar o sonho de infância, foi obrigado a vender a casa, em Devon, no sudoeste de Inglaterra. "Afinal de contas, só vivemos uma vez", justifica.

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