Perícia é inconclusiva sobre causa da morte – Tribuna do Norte

Brasília (AE) - A perícia feita nos restos mortais do ex-presidente João Goulart por uma equipe internacional coordenada pela Polícia Federal brasileira não encontrou nenhuma substância tóxica ou medicamentosa que possa ter provocado a morte do político. Os especialistas explicam, no entanto, que o envenenamento não está descartado. Segundo eles, entre a morte de Jango na década de 1970 e hoje, o veneno pode ter sumido e, por isso, não foi achado.

“A verdade é que não podemos dizer que é morte natural ou violenta. Cientificamente falando, é um caso que não está acabado”, disse na manhã de ontem (1º) o perito cubano Jorge Perez, designado pela família de Jango para acompanhar as análises. Perez participou, em Brasília, de um evento organizado pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República para divulgar o resultado da perícia. Também estiveram presentes a ministra dos Direitos Humanos, Ideli Salvatti, e João Vicente Goulart, filho de Jango. Eles defendem que a morte de João Goulart continue sendo investigada com base no contexto da época em que a morte ocorreu e dizem que há evidências que impedem descartar o assassinato.

Jeferson Evangelista Corrêa, perito médico da PF, afirmou que milhares de venenos que poderiam ter sido usados na época da morte de Jango foram procurados nos restos mortais, mas nenhum foi encontrado. Foram identificadas, no entanto, substâncias como um remédio que o ex-presidente tomava para seu problema cardíaco e restos de xampu. O perito disse ainda que o remédio era tomado em doses normais.

A mesma precisão, no entanto, não pôde ser obtida em relação aos venenos. Isso se deve, de acordo com o especialista, por causa das mudanças químicas ocorridas desde a década de 1970. Ele disse que essas alterações influenciam o material e, por isso, não é possível atestar que a morte foi devida a um infarto - segundo consta no atestado de óbito produzido na época - ou ao envenenamento - tese que ganhou força recentemente.

Os resultados da perícia foram apresentados apenas verbalmente. A ministra Ideli Salvatti explicou que a família de Jango revisará o material para decidir o que poderá ser divulgado. João Vicente Goulart explicou que essa medida, que foi garantida pela família na Justiça, pretende apenas preservar imagens do corpo e a privacidade da família. Segundo a ministra, o material ficará integralmente sob a guarda da Polícia Federal, que poderá autorizar e supervisionar o eventual acesso de interessados.

A tentativa de definir a causa da morte de Jango patrocinada pelo governo federal faz parte de um conjunto de ações da administração de Dilma Rousseff voltadas para o período da ditadura militar. Familiares do ex-presidente reclamam que, em 1979, quando ele morreu na Argentina, nenhum exame pericial foi feito e o infarto ficou constando como causa oficial de sua morte. Na época, no entanto, estava em curso a Operação Condor, uma ação conjunta das ditaduras sul-americanas para eliminar potenciais opositores. A tese do envenenamento ganhou força recentemente, quando o ex-agente da ditadura uruguaia, Mario Neira Barreiro, passou a sustentar essa versão em público.

Comentários

    Open all references in tabs: [1 - 6]

    Leave a Reply