O “Superclásico” de Sergipe só teve um capítulo

Uma das maiores rivalidades do futebol mundial é argentina e tem mais de um século de idade. Os duelos entre Boca Juniors e River Plate fazem tremer a Bombonera e o Monumental e polarizam mais de 70 por cento dos argentinos. O “superclásico” de Buenos Aires é um espectáculo de cor, som, de excessos e de paixão que nada tem a ver com o “superclásico” que surgiu, a 3.500 quilómetros de distância, em Sergipe durante o século XXI. Um duelo entre o Boca Júnior (assim mesmo, sem o “s” e com acento no “u”) de Estância e o River Plate de Carmópolis só aconteceu uma vez e não irá acontecer nos próximos tempos.

A versão sergipana mais antiga é a do Boca. Fundado em 1993 por um grupo de brasileiros adeptos do gigante argentino, este Boca só teve autorização para usar o nome se mudasse a grafia original. O emblema também não é igual, mas o equipamento apresenta o amarelo e o azul, tal como o Boca argentino, cujas cores têm origem na bandeira de um navio sueco que aportou em Buenos Aires. Gilson Behar, o presidente do Boca, é tão fanático que deu o nome Riquelme, uma das lendas da versão argentina, ao filho, nome completo, Riquelme Miguel da Silva Santos.

Só em 2004 é que este Boca passou a ter futebol profissional, mas ainda lhe faltava qualquer coisa, um rival com o nome à altura, que só podia ser um. E assim nasceu, em 2007, o River Plate de Carmópolis, por iniciativa de Beto Caju, compositor de música forró e amigo do presidente do Boca. Na verdade, foi mais uma refundação. Caju assumiu a presidência de um clube chamado São Cristóvão, propôs aos sócios a mudança de nome e estes aceitaram. Só havia um problema. Boca e River estavam em divisões diferentes e não se poderiam enfrentar – na Argentina apenas em 2012 não houve “superclásico” porque o River esteve na segunda divisão.

Após seis anos de desencontros, ambos coincidiram em 2013 no mesmo escalão e defrontaram-se pela primeira vez no Estadual de Sergipe. Foi a 6 de Março que se jogou o primeiro (e único) “superclásico” de Sergipe, não na Bombonera ou no Monumental, mas no Estádio Governador Augusto Franco, o “Francão”, em Estância, um recinto com capacidade para oito mil espectadores. Ganharam os “millionários” por 2-1, num jogo que até mereceu alguma cobertura mediática por parte dos argentinos.

Mas este seria mesmo a única vez que os dois “times” se encontraram em campo, porque o River, que até tinha sido campeão estadual por duas vezes, decidiu não se apresentar a competição nos próximos dois anos por razões financeiras. O Boca continua a existir, mas a rivalidade ficou em “stand by”.

Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos

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