35 anos depois, o cineasta espera retomar a escrita com o documentário "El (im)posible olvido", em processo de pesquisa e elaboração, que trata do desaparecimento do seu pai, motivo pelo qual ele prestou depoimento à Comissão da Verdade do Rio (CEV-Rio) e à Comissão Nacional da Verdade (CNV), nesta quarta-feira (30).
"Há uma versão de que Norberto teria sido sequestrado por ter trazido uma grande quantia de dinheiro para o Brasil, mas isso nunca foi comprovado. O que temos conhecimento é que ele foi detidos por três militares argentinos que, atualmente, estão presos na Argentina por causa de outro crime. Eles teriam tido a ajuda da repressão brasileira para capturá-lo", revelou Andrés. Os nomes dos militares argentinos são Enrique José Del Pino, Alfredo Omar Feito e Guillermo Victor Cardozo, presos em razão de crimes contra a humanidade cometidos em centros clandestinos de detenção e extermínio sob a jurisdição do Primeiro Corpo do Exército Argentino.
Andrés e sua mãe são testemunhas do julgamento do Plano Condor, que na Argentina se iniciou em março deste ano. O cineasta destacou que, com a criação da Comissão Nacional da Verdade e das Comissões Estaduais, aumentam as chances do caso ser solucionado. "O surgimento destas comissões me estimulou a vir prestar este testemunho, porque acredito que novas portas podem ser abertas. Convivi com um pai desaparecido toda a vida, e isso deixou marcas", disse.
Na ocasião, a CEV-Rio entregou para Alana Lomónaco, representante do governo da Argentina, um documento produzido pelo Centro de Informações da Aeronáutica (CISA), e disseminado para todo o sistema de repressão, datado de agosto de 1977. O informe, sobre a repressão aos Montoneros, comprova a existência de uma rede de informações entre as ditaduras do Cone Sul. O documento é inédito para a família e para o governo argentino.
Wadih Damous, presidente da CEV-Rio, ressaltou que a comissão estadual buscará mais informações junto à CNV e ao governo argentino: "A nossa intenção é procurar detalhes, porque a operação atuava em território brasileiro a partir de um conluio de diferentes ditaduras. Em conjunto com a Comissão Nacional, vamos pesquisar a melhor maneira jurídica para ingressarmos no processo argentino, pedindo esclarecimentos em relação aos agentes brasileiros que participaram do sequestro do Norberto", afirmou.
Norberto Armando Habegger (1941-1978)
Foi um jornalista e escritor argentino, nascido em Arrecifes, província de Buenos Aires. Casado com Florinda Castro Habegger. Norberto Habegger foi Secretário Geral da Juventude Democrata Cristã na Argentina, em 1964, e um dos fundadores do Partido Peronista Autêntico - braço político do movimento Montoneros. A 30 de julho de 1978, usando passaporte em nome de 'Hector Esteban Cuello', embarcou na cidade do México, em voo da Panam, para o Rio de Janeiro onde encontraria dois companheiros de sua organização política. De acordo com o livro "Direito à memória e à verdade", da Secretaria Direitos Humanos, o embaixador da Argentina no Brasil à época, Oscar Camilión, afirmou estar registrada a entrada no país de uma pessoa com nome de Hector Esteban Cuello no dia 31 de julho de 1978. Desde então, não se teve mais notícia de seu paradeiro.
Fonte: Portal da Comissão Nacional da Verdade