Canto, representação e um cenário que recorreu ao vídeo foram os elementos que se envolveram num ambiente que fizeram da história de Eva Perón um espetáculo rico em história e emoção. Foi em busca da amada Evita da Argentina que nos dirigimos ao Teatro Miguel Franco, em Leiria, para assistir à peça ¡Evita, y yo! Historia de los Argentinas. Inserida no És Cena – 2. ª Mostra Latino-Americana de Teatro, esta peça argentina procurou fazer-nos refletir sobre a prática das arte cénicas na América Latina.
Faltavam cinco minutos para o espetáculo começar e a sala parecia não ir encher mais. Pouco mais de 20 pessoas compunham a audiência. No palco, estava um quadro de Eva Perón, a figura de quem se iria falar nos próximos 90 minutos, e um microfone, o que fazia prever a existência do canto pela magnífica voz de Sonia Belforte. As luzes apagam-se e a história da Argentina começa.
Sonia Belforte, a única em palco, conta a história de si própria e da carismática e controversa Evita Perón. Ambas argentinas, ambas emigraram, ambas foram procurar realizar os seus sonhos e conseguiram: tornarem-se atrizes. Sonia é uma apaixonada pela história de vida de Eva e procura entendê-la diariamente e explicá-la ao seu público.
Evita nasce em 1919, num local ainda hoje pouco certo. Entre humilhações e privações, cedo reage com grande energia e lucidez. Aos 15 anos parte para a metrópole, Buenos Aires, em busca de uma compensação social e com o desejo de se tornar atriz.
Numa coincidência do destino, Eva conhece o político em ascensão, Juan Domingo Perón, na altura Vice-Presidente da República e Ministro da Guerra e Chefe da Secretaria de Trabalho e Previdência, num evento organizado pelo próprio. Sonia Belforte diz-nos que foi neste momento que aquelas duas almas se uniram, se prontificaram a assumir as suas vontades e desejos juntos. No ano seguinte, em 1945, Perón foi preso por militares descontentes com a sua política, voltada para a obtenção de benefícios para os trabalhadores. É neste momento que a força e persistência de Eva acabam por se tornar decisivas. A carismática figura organizou comícios populares que forçaram as autoridades a libertá-lo. Pouco depois casam-se, e Perón é eleito presidente em 1946.
Sonia vai-nos falando de toda esta vida como uma alegria e paixão como se de um ídolo se tratasse. E na verdade foi. Eva tornou-se tão ou mais importante do que a própria imagem da Argentina. Conquistou o povo e o seu apoio, e assim tornou-se na figura mais amada do país.
O momento mais emotivo e carregado de tristeza chega, por fim. Ouvimos uma gravação de rádio, com a data de 26 de julho de 1952. Eva morre, aos 33 anos com um cancro do útero. As luzes ficam mais fracas e Sonia está triste, desolada e até revoltada. Revolta-se contra a vida, contra quem decide quem morre e quem vive. Ninguém poderia decidir tirar Evita do seu povo, o seu querido povo. Vídeos correm atrás de Sonia, e mostram multidões a chorar a morte de Eva. Tão injusto e tão cruel!
A peça termina com a voz inigualável de Sonia, que canta entusiasticamente Todo Cambia. A atriz deixa no ar a esperança, a luta por algo melhor e a possibilidade de também nós sermos sempre melhores.
Aconselhamos esta peça a todos aqueles que, de uma forma ou de outra, se apaixonam pela História Mundial. Eva Péron faz parte dela, marcou-a e agora marca-nos também. ¡Evita, y yo! Historia de los Argentinas é a história de um amor, de uma luta, de uma vitória e de uma morte, contada por Sonia Belforte que, ao longo da peça recorre a emoções que estão explícitas nas suas palavras e nos seus gestos. A atriz procura sempre estabelecer um contacto com o público e com a imagem de Eva, que nunca abandonou o palco.
Fotografiass de J.Pesqueira
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