Cinema e crítica social no Brasil

Com mais de 40 anos de carreira no cinema brasileiro, Héctor Babenco é responsável por grandes clássicos como ‘Pixote, a lei do mais fraco’, ‘O beijo da mulher aranha’ (pelo qual recebeu indicação ao Oscar na categoria Melhor Diretor) e ‘Carandiru’. Babenco nasceu em Buenos Aires, capital da Argentina, em 1946. Veio para o Brasil aos 19 anos, e é naturalizado brasileiro desde 1977. O cineasta é conhecido por trabalhar temas considerados pesados em relação à situação político-social do país, tocando em vários pontos fracos da estrutura do país, como a fragilidade do sistema penitenciário e as crianças de rua.

Apesar de ter escolhido o Brasil como sua pátria “oficial”, as produções de Babenco são rodadas em várias partes do mundo. Ao longo de sua consagrada carreira, teve a oportunidade de trabalhar com atores mundialmente conhecidos. Em 1987, dirigiu o longa-metragem estadunidense ‘Estranhos na mesma cidade’ (Ironweed), que contava com Jack Nicholson e Maryl Streep nos papeis principais. Os dois foram indicados ao Oscar naquele ano nas categorias melhor ator/atriz. Também participou do filme o cantor Tom Waits, considerado um dos expoentes do experimentalismo musical na década de 1980.

O cineasta também é conhecido pela franqueza, e muitas vezes utilizou o espaço reservado a ele na mídia para falar das dificuldades de se produzir cinema no Brasil. O preço das produções foi lembrado por ele em entrevista ao site Uol entretenimento em 2014. “Hoje fazer um filme no Brasil custa aproximadamente 60% mais caro do que na Argentina. (…) Diria que o Estado é o pior parceiro que um ser humano lúcido merece ter na vida”. Sobre sua preferência entre os filmes produzidos no Brasil e na Argentina, ele afirma que “ás vezes gosta mais do cinema brasileiro do que argentino” e que “o cinema argentino pensa como pensa a Argentina e que o cinema brasileiro como pensa o brasileiro”.

Para Welton Pinheiro, usuário da rede social Filmow, os principais filmes de Héctor Babenco são uma prestação de serviço à sociedade. “Babenco é um cara que sabe chegar ao ponto certo. Preferiu fazer seu nome metendo as caras em problemas que não eram dele, mas dos quais se sentia parte”. Ele completa ainda dizendo que “Pixote, Carandiru e O Beijo da Mulher Aranha certamente marcaram seu nome pra sempre não somente na história do Cinema, mas também na das pessoas que fizeram algo de útil para a humanidade”.

O filme ‘Pixote: A lei do mais fraco’ foi lançado em 1981 e tinha no elenco nomes consagrados como o da atriz Marília Pêra e o de Jardel Filho, ícone do cinema novo brasileiro por ter trabalhado com Glauber Rocha em ‘Terra em transe’. O ator principal do filme, Fernando Ramos da Silva, foi descoberto pelo diretor nos subúrbios de são Paulo. A história principal do filme gira em torno da vida de Pixote, um garoto de rua que acaba se envolvendo em uma série de crimes. Aos onze anos, ele sobrevive através do trafico de drogas, de assassinatos e do gerenciamento de prostitutas.

As opiniões em relação ao filme são no geral positivas, e sustentam-se no choque de realidade que a obra causa em seus espectadores. Alcides Alencar ressalta o teor realista-horrorizante percebido por ele durante a exibição: “Marília Pera arrasa no papel, bem como os atores mirins, neste filme pré-Estatuto da Criança e do Adolescente. E tem gente que ainda diz que não se fazia filmes bons e sérios nos anos 70/80. Este é uma obra-prima, comovente e assustador”. Um outro fator bastante lembrado por aqueles que assistiram o filme é o fato dele ter sido produzido durante o período da ditadura militar no Brasil.

O filme ‘Carandiru’ de 2003 teve divulgação mais ampla, apesar de ter sido recebido de forma um pouco mais controversa pela crítica. Foram tecidas críticas principalmente ao ritmo arrastado do filme, bem como ao fato de um narrador acompanhar as imagens em praticamente todas as cenas. O filme também tocou na ferida do público conservador, como podemos ver no comentário de Pedro Silva, extraído do Filmow. “Um filme bem dirigido e bem produzido. O aspecto dramático do filme soou um tanto pueril, haja vista dramatizar histórias de criminosos e tentar nos levar a crer que sociedade é a culpada pela situação que eles se encontram”.


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