Cena do crime de Nisman foi alterada

JUAN VARGAS/AFP/JC

Imagens divulgadas pelo jornalista Jorge Lanata na noite de domingo mostram partes do vídeo feito pela perícia argentina no apartamento do promotor argentino Alberto Nisman, encontrado morto na noite de 18 de janeiro. Conforme as imagens, o local sofreu interferências que prejudicaram a obtenção das provas.

No vídeo, é possível ver um técnico limpando a arma que efetuou o disparo com papel higiênico, o que teria dificultado para a perícia identificar impressões digitais no revólver. O técnico retira o cartucho das balas usando luvas sujas de sangue, contaminando o cartucho que até então parecia limpo e de onde se poderia eventualmente coletar impressões digitais. Em seguida, coloca os projéteis sobre o bidê, interferindo na cena onde Nisman foi encontrado morto.

Pelas imagens, também é possível notar que havia muitas pessoas dentro do apartamento no momento em que os peritos recolhiam provas. Entre os espectadores, estava o secretário de segurança do governo federal, Sérgio Berni. Algumas das pessoas entraram no banheiro e pisaram no sangue, outros estavam sentados no sofá da sala.

Nisman morreu na véspera de apresentar provas contra a presidente Cristina Kirchner e seus aliados políticos por supostamente tentarem encobrir os responsáveis pelo atentado à entidade judaica Amia, em 1994. Segundo o promotor, Cristina teria negociado com o Irã a retirada dos suspeitos, altos funcionários do país, dos alertas de captura da Interpol. O governo nega a acusação.

Em entrevista na manhã de ontem, a promotora Viviana Fein, responsável por investigar o caso, afirmou que as provas foram preservadas. Segundo ela, limpar a arma com papel higiênico é um procedimento usual e necessário para verificar o calibre e a numeração do revólver.

"Não se limpou toda a arma, só o local onde havia o calibre e a numeração", disse em entrevista à rádio argentina Vorterix. As imagens mostraram também outros peritos trabalhando sem luvas, recolhendo papéis, pendrives e um disco rígido de computador de um cofre do promotor.

Viviana afirmou que a investigação agora está concentrada nos exames de criminalística, que devem identificar em que posição Nisman morreu, segundo indícios dos respingos de sangue encontrados no banheiro. O objetivo é tentar desvendar se havia outra pessoa (um assassino) no banheiro na hora de sua morte.

A promotora confirmou que foi registrado um acesso ao computador de Nisman na noite de domingo, 18 de janeiro, em um horário em que o promotor já estaria morto, segundo as perícias. Viviana disse que a promotoria está, neste momento, checando se o relógio do computador estava correto ou se poderia ter sofrido algum tipo de manipulação que induzisse à conclusão de que a máquina foi invadida após a morte de Nisman.

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