ESPECIAL: o atacante argentino não está feliz no clube catalão, e só foi convencido a ficar na última temporada pelo ex-técnico Tito Vilanova
Por Ben Hayward | Correspondente de futebol espanhol
Um discurso diferente. As afirmações de Lionel Messi, que não sabe mais se seu futuro a longo prazo está no Barcelona são frutos da crescente frustração no clube catalão. Do casamento dos sonhos, Messi e o Barça podem estar agora próximos de uma conturbada separação.
O argentino costumava reafirmar seu desejo em se aposentar no Camp Nou, ou ao menos, permanecer até os anos avançados de sua carreira antes de encerrá-la no Newell’s Old Boys, clube de sua juventude. O tom mudou. Na terça, ele afirmou ao jornal Olé que não sabia o que o futuro reservava. E não foi uma coincidência.
Em meio às críticas sofridas quando sob o comando de Gerardo Martino, Messi pensou até na possibilidade de deixar o clube na última temporada, chegando ao ponto de falar sobre isso com o ex-técnico Tito Vilanova antes de seu falecimento, em abril passado. Ele acabou convencendo o camisa 10 a permanecer, mas tanto o jogador quanto o Barça analisaram uma proposta do Paris Saint-Germain na ocasião.
No entanto, o ex-presidente Joan Laporta, cada vez mais favorito a vencer as próximas eleições dos Blaugranás, deverá intervir para tentar garantir a permanência do argentino. Foi na sua gestão, aliás, que Messi foi alçado ao estrelato, e desempenhou papel central para as conquistas do Barça de Pep Guardiola, que proferiu certa vez: “O Barcelona vai bem quando Messi vai bem, e para Messi estar bem, ele precisa estar feliz.”
Agora, porém, ele não está feliz.
O atacante brigou com Guardiola nos últimos meses de seu comando de quatro anos à frente dos catalães, em função de uma discussão acalorada a respeito da escalação da equipe num Clássico contra o Real Madrid, em abril de 2012, vencido pelo time da capital no Camp Nou (2 a 1). Mas os verdadeiros problemas viriam depois da saída de Pep, dois meses mais tarde.
Um dos principais motivos que levaram Pep a deixar o Camp Nou foi a falta de harmonia com a diretoria do clube, liderada por Sandro Rosell. Nada muito diferente da relação de Messi com a chefia de Josep Maria Bartomeu – que assumiu com a renúncia de seu antecessor, em janeiro – que é, no máximo, cordial. A boa interação dos tempos de Laporta jamais retornou, e levaram Messi a suspeitar que o clube poderia tentar negociá-lo.
“Com a contratação de Neymar, eu pensaria em vender Messi”, disse a lenda do Barça, Johan Cruyff, a partir da chegada do brasileiro no ano passado. Eles pensaram nisso, de fato, embora a punição imposta pela Fifa para novas transferências tenham influenciado na decisão.
“A pressão em Messi é enorme”, acrescentou o holandês. “Todos vão ao estádio esperam que ele faça maravilhas mas, para que isso aconteça, a equipe precisa trabalhar de forma eficiente.”
Se Guardiola trouxe nomes como Alexis Sánchez para complementar Messi, o argentino pensou que a chegada de Neymar significava o aparecimento de um eventual substituto. Seria um passo importante para essa diretoria, determinada em reconstruir um time vencedor sem a sombra daquela criada na era Laporta.
O alto salário e luvas pagos a Neymar – na época, com 21 anos de idade – também desmotivaram Messi, que só passou a receber melhores valores no final de 2013, quando da sua renovação contratual. Esse sentimento cresce à medida em que o ex-Santos pode estar próximo de ganhar um novo acordo ainda melhor, mesmo com pouco mais de um ano defendendo as cores blaugranás.
Além do mais, os atuais mandatários seguem cometendo deslizes na relação com o jogador. No ano passado, o vice-presidente Javier Faus afirmou que o clube não tinha a intenção de oferecer uma renovação a Messi, que levaram o argentino a rebater que o cartola “não sabia nada de futebol” e, subsequentemente, à própria assinatura do novo contrato. Mas isso deteriorou ainda mais o casamento.
Se antes Messi era protegido publicamente por Guardiola e Laporta, hoje se sente insatisfeito pela falta de apoio institucional dos últimos anos. Acha pouco, para alguém que já marcou de forma permanente seu nome entre os grandes da história do clube.
As acusações de fraude fiscal investigadas pela Justiça espanhola e as críticas que considera desproporcionais que vem recebendo desde a temporada 2012-13 também cansaram o jogador.
Em campo, as coisas não vão bem. Messi parecia uma figura desamparada na vitória recente sobre o Almería, quando foi escalado mais recuado para buscar jogo, e acabou pedindo a Luis Enrique que escalasse Xavi na equipe. O técnico, aliás, vem perdendo credibilidade no vestiário pelas constantes alterações táticas e alguns resultados decepcionantes, como as derrotas para Real Madrid e Celta de Vigo.
Publicamente, Messi diz que o Barça “tem jogadores de suficiente qualidade para vencer títulos” nesta temporada, mas não está totalmente de acordo com Luis Enrique e o atual projeto sendo executado pelo clube. O fato de o Barcelona negociar nomes como Alexis e Cesc Fàbregas (com o qual ele e a parceira Antonella Rocuzzo têm excelente relacionamento) contribuíram para essas incertezas.
Então, mesmo que o pai do atacante, Jorge, disse que seu filho quer permanecer no Camp Nou – e que o próprio jogador tenha dito numa entrevista que “se dependesse de mim, ficaria para sempre” – Messi irá estudar propostas para sair, a menos que os catalães se esforcem para garantir sua felicidade no Camp Nou.
Um raio de esperança para os torcedores do Barça, porém, é o provável retorno de Laporta, que deve entrar em contato com o quatro vezes vencedor da Bola de Ouro para começar a construir um projeto de futuro centrado no argentino. As eleições presidenciais serão realizadas em 2016, e um segundo mandato de um dos maiores aliados de Messi será um fator determinante em sua permanência ou não na Catalunha para os próximos anos.