Marcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires
Se o brasileiro olha para a taxa de câmbio e fica assustado, os vizinhos olham para a desvalorização do real e festejam: as próximas férias serão no Brasil. O país está cada vez mais barato para quem chega com moeda forte no bolso. Durante os últimos anos, o real valorizado afastava o turista estrangeiro e o custo de vida no Brasil fazia o turista conter o gasto, mas essa situação se inverteu. A próxima temporada de verão deve registrar um "boom" de turistas argentinos nas cidades brasileiras, por exemplo.
A desvalorização do real, sem o aumento proporcional da inflação, barateou o custo Brasil para os estrangeiros. É verdade que todas as moedas tiveram desvalorização perante o dólar norte-americano, mas o real brasileiro foi a que mais perdeu valor.
Vizinhos estão em situação melhor
No último ano, o real perdeu quase 70% do seu valor. Só neste ano de 2015, a erosão da moeda brasileira está acima de 55%. No mesmo período, o peso chileno perdeu 14% do seu valor, o peso uruguaio recuou 18% e o peso argentino, caiu 12%. Para os turistas da região, o Brasil ficou mais barato do que Chile, Uruguai e Argentina.
A desvalorização do real combina com alguns elementos únicos nesse momento na Argentina. Em primeiro lugar, estamos num processo eleitoral para presidente e o governo não pode permitir turbulências cambiais que assustem o eleitor e prejudique o candidato da presidente Cristina Kirchner, o governador da província de Buenos Aires, Daniel Scioli. Então, o peso argentino está sendo mantido artificialmente valorizado por meio de uma série de manobras financeiras.
Argentinos viajam ao Brasil antes da derrocada prevista do peso
Cristina Kirchner sabe que precisaria permitir uma desvalorização da moeda, mas não quer pagar esse custo político. Quer deixar o campo minado para o próximo governo, a partir de 10 de dezembro. Os argentinos sabem disso e antecipam as compras. Aproveitam essa valorização do peso, mas também aproveitam que podem pagar as despesas de forma parcelada entre 12 e 24 prestações sem juros. Essas condições num país com 30% de inflação são atraentes.
Como aconteceu com os brasileiros, os argentinos pagarão a conta depois da eleição presidencial. O mercado prevê uma forte desvalorização da moeda argentina no primeiro semestre de 2016. A farra de argentinos no Brasil é agora, enquanto o pior não chega.
Agências de viagem notam aumento da procura
As operadoras argentinas notam um aumento das reservas para o Brasil de 10% a 30%, conforme o destino. No Uruguai, as projeções são as mesmas.
A Embratur começa na semana que vem uma campanha para divulgar os destinos brasileiros nos países da América do Sul. Amanhã, será aberta a Feira de Turismo de Buenos Aires, a maior do país, onde o Brasil e a Embratur estarão em destaque.