Um campeão com ajuda divina

Se a fé move mesmo montanhas, pode também ganhar campeonatos. Quem não acredita pode perguntar aos torcedores do San Lorenzo de Almagro, que no domingo, 15 de dezembro, comemorou a conquista do seu 12º título argentino.

Mas o que tem a ver uma coisa com a outra? Para alguns, o campeão argentino recebeu uma ajuda divina do Papa Francisco, ilustre torcedor do time do bairro de Boedo. E embora a crença e a espiritualidade dependam de cada pessoa, a realidade indica que, desde que o novo Papa foi escolhido, o San Lorenzo, que estava havia seis anos sem títulos, foi vice-campeão da Copa Argentina e agora campeão do Torneio Inicial — e apenas dois dias antes do aniversário de 77 anos do Sumo Pontífice.

A relação, é claro, é levada na brincadeira, embora mais de um torcedor do Ciclón tenha rezado para Francisco durante a emocionante decisão do campeonato, que teve quatro equipes chegando à última rodada com possibilidades de título, e todas se enfrentando.

O San Lorenzo (33 pontos) ficou no 0 a 0 fora de casa contra o Vélez Sarsfield (31), mas foi beneficiado pelo empate em 2 a 2 em Rosário entre Newell's Old Boys (31) e Lanús (31): com esses resultados, não houve necessidade de jogo extra para definir o campeão.

O verdadeiro milagre ocorreu aos 44 minutos do segundo tempo, quando o goleiro Sebastián Torrico fez uma defesa impressionante em um arremate à queima-roupa de Agustín Allione. Naquele momento, um gol daria o título ao Vélez, um dos rivais históricos do San Lorenzo.

Marcelo Tinelli, vice-presidente do clube e famoso apresentador de TV na Argentina, sintetizou o lance. "A mão de Torrico foi a mão de Deus, a mão do Papa", disse.

As razões futebolísticas da conquista
Além das questões da fé, sobraram ao San Lorenzo méritos futebolísticos na conquista de um certame extremamente acirrado. De fato, o Ciclón foi o campeão com menor quantidade de pontos na história dos torneios curtos, com 33, três a menos que o Newell's de Américo Gallego no Apertura 2004.

"É injusto dizer que este foi um campeonato de baixo nível", disse o técnico campeão Juan Antonio Pizzi, que havia posto o cargo à disposição dos dirigentes após a derrota por 3 a 0 para o Arsenal de Sarandí na final da Copa Argentina. "O que ocorreu na verdade foi o contrário: um nível muito alto e competitivo. O equilíbrio é o culpado de não termos visto grandes jogos."

Pizzi, ex-jogador de Barcelona e FC Porto, formou uma equipe sólida, regular e que teve o segundo melhor ataque e a terceira defesa menos vazada. Uma equipe que, apesar daquele tropeço contra o Arsenal, soube superar também a lesão do goleador Martín Cauteruccio, que havia marcado cinco gols em seis rodadas antes de se contundir.

Sem estrelas, Pizzi depositou confiança em Torrico no gol, em Mauro Cetto na zaga e no talentoso Ignacio Piatti na meia-cancha. Piatti foi o artilheiro da equipe, com oito gols. Além disso, o técnico apostou na titularidade de pratas da casa como o meio-campista Ángel Correa e o atacante Héctor Vallaba.

"San Lorenzo campeão? Que alegria", disse o Papa Francisco, que receberá, em Roma, parte do plantel e da diretoria da equipe em uma audiência privada. A dúvida é: quem agradecerá a quem pelo título? 

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