Turista pode tirar vantagem do peso argentino

ARQUIVO PESSOAL /DIVULGAÇÃO/JC

Um lugar onde o real é uma moeda forte. Assim dá para descrever a atual Buenos Aires e outras cidades argentinas, que desde 2012 amargam com a queda diária da cotação do peso local, agravada nos últimos meses com alta da inflação. Enquanto no Brasil o peso argentino custa em torno de R$ 0,30 (cotação de sexta-feira), no câmbio oficial para turistas, em Buenos Aires o mercado paralelo – realizado abertamente em hotéis, restaurantes e nas principais ruas da região central, via ambulantes – possibilita a aquisição de 1 peso por modestos R$ 0,22. No entanto, a economia daquele país está “dolarizada”, e cada setor busca driblar a crise de uma forma diferente, o que confunde um pouco os turistas.

“Vale a pena levar dólares e reais, comprar pesos no Brasil, não!”, opina a jornalista e prestadora de serviços de guia personalizado (local friend), Gisele Teixeira, que mora na capital argentina. É aconselhável levar uma tabela de conversão, quando a ideia é escolher com qual moeda pagar, ensina a diretora da operadora Personal Turismo, Jussara Leite. Ela avalia que os dólares são “mais bem aceitos” em qualquer lugar do mundo, o que barateia os custos, dependendo da situação. “Não encontramos muitos lugares que aceitassem pagamento em reais”, concorda a estudante de Jornalismo Paola Ramos, que viajou com um grupo de amigas para Buenos Aires durante o Carnaval. “Onde aceitavam reais, a cotação não era tão vantajosa”, diz Paola.

A estudante afirma que preferiu pagar tudo em moeda local. Diariamente, ela comprou pesos no câmbio paralelo: no hostel em que ficou, em restaurantes, e até em uma banca de revistas. Paola explica que no mercado negro, praticamente oficializado após o fechamento de diversas casas de câmbio oficiais, se paga quase a metade do preço pelas moedas argentinas. Neste sentido, Gisele faz coro: “no mercado oficial, o dólar vale 8 pesos argentinos, enquanto que no paralelo custa 10,50 pesos. Tem que se encher de coragem e trocar no cambista de rua mesmo.”

De fato, o viajante brasileiro que deixar para fazer o câmbio em terras argentinas terá mais vantagens do que aquele que comprar peso em solo nacional, concorda o presidente da regional da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav-RS) e sócio-diretor da Turismo Isatto, Danilo Kehl Martins. No entanto, alerta o dirigente, é preciso cuidar com as notas falsas, que têm se reproduzido facilmente em diversos locais públicos, principalmente entre os taxistas e cambistas paralelos. Martins concorda que tanto o dólar quanto o real são alternativas “tranquilas”, quando o objetivo é comprar na “Paris da América do Sul” (como é conhecida Buenos Aires). Mas admite que, na terra de Diego Maradona, faz mais gols o turista que levar muitos dólares para gastar, porque assim consegue preços mais baixos nos restaurantes e lojas.

“Mas a instabilidade é tanta, que tudo está muito variável por lá. O melhor é levar as três moedas”, pondera, enumerando algumas dicas ao turista de primeira viagem. Entre elas, levar pequenos valores em pesos, para lanches, cafés e artigos baratos e reservar uma quantia de dólares para shows e alimentação. “De preferência, pagar com notas baixas os serviços de táxis, e olhar a numeração de série, para não ser enganado”, alerta, referindo-se ao truque do do golpe da nota falsa, onde o motorista troca a verdadeira e reclama por outra ao passageiro. “É bom evitar receber troco em pesos, porque as vezes podem vir notas falsas.”

No mais, é curtir o passeio em locais cultuados como a rua-museu Caminito, onde alguns casais dançam tango e abordam os turistas para uma foto em troca de alguns pesos, apreciar monumentos, como o Obelisco da Plaza de Mayo e visitar a Feira de San Telmo, onde se vendem muitos produtos artesanais, obras de arte e antiguidades. “Apesar de a inflação estar alta, vale a pena visitar a cidade, que continua segura e muito linda para os turistas”, afirma Gisele. “Mas o câmbio, que um dia foi risível, agora faz com que não compense vir para compras” alerta, emendando que no caso do setor de gastronomia ainda é conveniente. Para se ter uma ideia, um jantar em bom restaurante no bairro nobre Puerto Madero custa em torno de US$ 11,00.

Operadoras de viagens criticam a falta de voos diários diretos

Se por um lado a inflação está espantando os brasileiros que deslocavam até Buenos Aires para comprar produtos de diversos gêneros — e que hoje procuram destinos como Miami e o Panamá —, os visitantes que apreciam a rotina que a capital argentina oferece, com seus charmosos cafés, livrarias e bons restaurantes, permanecem fiéis. “As vendas para o feriado de Páscoa já esgotaram”, garante o sócio-diretor da Turismo Isatto, Danilo Kehl Martins. Ele reclama da baixa oferta de voos diários diretos de Porto Alegre para o país vizinho. “Estamos deixando de vender, há mais procura do que oferta de acentos em aviões”, concorda a diretora da Personal Jussara Leite. Segundo ela, também há bastante demanda para cidades como Mendoza, Bariloche, Ushuaia, El calafate e Puerto Madryn.

Jussara afirma que ainda é “barato” comer e passear em qualquer um destes destinos. Para se ter uma ideia, os pacotes de 3 a 4 dias, na maioria das agências, custam em torno de US$ 500,00 a US$ 700,00, incluindo voo de ida e volta, hospedagem com café da manhã, transfer de chegada e saída e city tour. “O câmbio lá compensa. Não recomendo sair do Brasil com pesos”, chama a atenção. Jussara também não aposta no cartão de crédito, que encarece as compras em 10%, calculando o IOF (de 6,38%) mais as taxas de utilização da ferramenta no exterior. “Isso sem contar que na hora de pagar vai valer a cotação do dia, é um tiro no escuro.”

Este pensamento é quase unânime entre agentes de turismo e viajantes. Mas não é bom para quem vende moedas estrangeiras. “As notícias sobre facilidade do câmbio paralelo contribuíram para diminuir a compra de pesos nas casas de câmbio oficial”, garante o proprietário da CTR Turismo e Câmbio, Marcelo Oliveira. “Mas tem que considerar que o mercado negro é clandestino”, adverte.

O gerente da União Alternativa Corretora de Câmbio, Carlos Leandro da Silva, justifica que, mesmo com a inflação na Argentina, está barato para o turista brasileiro comprar alguns produtos. Ele aconselha o uso de dólares, mas sugere que se leve uma quantia em pesos. “Na prática, o pessoal compra muito no (câmbio) paralelo por lá”, revela Silva, que considera o uso do cartão pré-pago “mais seguro”, evitando perdas e roubos.

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