Superclássico das Américas: as brigas e polêmicas de Brasil x …

O clima de rivalidade já passou dos limites algumas vezes no clássico, isso sem falar nas reclamações contra os juízes...

Por Tauan Ambrosio (@ambrosiotauan)

A centenária história do clássico entre Brasil e Argentina no futebol tem infinitos craques, golaços e belas jogadas. Mas também tem confusão, catimba, provocações e tensão. Se atualmente o clima do confronto parece cada vez mais amistoso - principalmente pelo grande entendimento entre Neymar e Messi, principais estrelas das respectivas equipes - o passado mostra que o gramado pode virar uma panela de pressão quando as camisas amarela e alviceleste se encontram.

Preconceito motiva a primeira tensão

Os primeiros jogos entre brasileiros e argentinos foram marcados por respeito e certa cordialidade, muito comuns nos primeiros anos do futebol. Mas em 1920 o panorama começou a mudar. Dias antes do amistoso marcado para 6 de outubro, o jornal Crítica publicou uma charge retratando a delegação brasileira como um time de macacos. A infeliz ilustração ainda era acompanhada por um texto igualmente racista.
 

 
Publicação do jornal argentino dias antes do amistoso em 6 de outubro de 1920 

Quando a publicação chegou nas mãos dos atletas da Seleção, houve um racha: de um lado os que se recusavam a entrar em campo, do outro os que defendiam a realização do encontro em respeito ao público. Embora ainda jogasse pelo Fluminense, Oswaldo Gomes teve que abandonar a função de dirigente com a qual havia viajado e entrou em campo. Além disso, outros quatro argentinos completaram o time brasileiro para que houvesse 11 jogadores.

No entanto, o público não se enganou: reconheceu os atletas portenhos e começou a atirar objetos em campo. O encontro foi paralisado. A solução encontrada, já que era impossível devolver o dinheiro aos que pagaram pelos bilhetes, foi fazer a partida com sete para cada lado. Castelhano, jogador do Santos, balançou as redes para o Brasil, mas Echeverría (2) e Lucarelli garantiram o triunfo da Albiceleste. No dia seguinte, para apaziguar os ânimos, os brasileiros foram homenageados.

Briga e reconciliação no histórico campo do San Lorenzo

Brasileiros e argentinos decidiram, em jogo-extra, quem seria o campeão sul-americano de 1937. Aos 36 minutos do primeiro tempo, os mais de 60 mil torcedores que lotaram o antigo estádio El Gasómetro viram o brasileiro Carnera atingir Varallo com um pontapé. O atacante argentinou não deixou barato e revidou com socos, transformando o jogo de futebol em uma exibição de luta livre. Não demorou para torcedores invadirem o gramado para lutarem e a polícia teve que intervir.

Depois de 42 minutos de paralização, a bola voltou a rolar... mas aí foi a vez de Roberto se envolver em confusão com Cherro e as cenas se repetiram no estádio do San Lorenzo. O primeiro tempo teve que ser encerrado antes da hora. No intervalo, os dois times conseguiram apaziguar os ânimos e a etapa derradeira transcorreu normalmente. A partida terminou sem gols e acabou indo para a prorrogação. Vicente de la Mata marcou duas vezes e garantiu mais um título para os nossos vizinhos, mas após o apito final os times deram exemplo de civilidade: volta olímpica conjunta e respeito aos hinos nacionais, além de aplausos.

Pancadaria em campo, Batalha de Rosário, água batizada e mão divina de brasileiro

 
Caniggia celebra o famoso gol marcado contra o Brasil, na Copa do Mundo de 1990 

Em 1946, as equipes novamente decidiam o título do Sul-Americano (atual Copa América). A partida foi em Buenos Aires, e em um Monumental lotado, o clima já começou hostil. Amparado por duas pessoas, o zagueiro Battagliero fez uma entrada dramática para saudar o público argentino. Ele havia fraturado a perna na disputa da Copa Roca do ano anterior, e isso aflorou os ânimos da torcida.

Tudo piorou quando Jair Rosa Pinto acabou quebrando a perna do zagueiro Salomón após dividida aos 28 minutos: novo confronto em campo e desta vez até os policiais agrediram os atletas brasileiros. Os comandados do técnico Flávio Costa estavam decididos a não voltarem para o gramado, mas o policiamento os convenceu. A Argentina venceu por 2 a 0 e ficou com o título.

Décadas depois, o Brasil já havia conquistado a Copa do Mundo três vezes. Em busca de seu primeiro título mundial, a Argentina sediava o torneio em 1978 e fez um confronto repleto de faltas, pontapés e catimba com a Seleção. Não à toa, aquela partida ficou conhecida como “Batalha de Rosário”, que terminou sem gols. A Albiceleste iria eliminar a equipe comandada por Cláudio Coutinho, mas por tabela. A polêmica goleada sobre o Peru tirou dos brasileiros a chance de decidir o torneio.

Três Copas depois, em 1990, o Brasil era comandado por Sebastião Lazaroni e fazia uma fraca campanha. Mas no confronto diante do eterno rival parecia estar se encontrando em campo. Acabou que, após linda jogada de Maradona – que no Mundial de 1982 foi expulso de campo no enfrentamento -, Caniggia fez o gol que manteve os argentinos no certame. Anos após eliminar os brasileiros, o camisa 10 confessou que deu uma água ‘batizada’ para o lateral Branco.
 

 
Adriano beija o troféu da Copa América de 2004: inesquecível para os brasileiros, dolorido para os argentinos 

O troco veio na Copa América de 1995: nas quartas de final, o atacante Túlio matou a bola no braço antes de empatar em 2 a 2 o confronto. A Albiceleste seria derrotada nos pênaltis. Em 2004, novo empate por dois gols seguido de vitória brasileira nas cobranças alternadas. Mas esta com um sabor ainda melhor: a de ser acompanhada com o título continental. Os portenhos já comemoravam a vitória por 2 a 1 quando Adriano, nos acréscimos, igualou. Após a derrota, muita reclamação argentina com os minutos adicionais.

Futebol globalizado: tensão diminui, mas não tira a expectativa sobre o confronto

Com seus principais jogadores cada vez mais próximos em ligas e clubes da Europa, as brigas diminuíram ao longo do tempo. Mas isso não diminuiu em nada a vontade que um tem de superar o outro. Na última Copa do Mundo, Brasil e Argentina poderiam tem feito a finalíssima no Maracanã. No entanto, só a Albiceleste conseguiu chegar na decisão que acabou perdendo para a Alemanha.

O caminho do vice-campeonato argentino foi pavimentado por uma música que embalou seus torcedores, que perguntavam como os brasileiros se sentiam ao ver argentinos fazendo a festa em suas arquibancadas. Os brasileiros responderam à provocação (abaixo, confira as duas versões). Enquanto os germânicos comemoravam o título mundial, camisas da Albiceleste e da Canarinho se provocavam apesar das derrotas. Só mais uma prova, dentre tantas outras, que Brasil e Argentina protagonizam um campeonato à parte.

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