Rodas de samba são cada vez mais comuns na Argentina

Rio - Basta ver a quantidade de rodas de batuque que surgem a cada semana em vários bairros, para comprovar que o samba está cada vez mais vivo no Rio. O que nem todos sabem é que a vitalidade do ritmo cruzou as fronteiras da cidade, do estado e até do país. Um fenômeno recente é a multiplicação de rodas de samba na Argentina.

Somente em Buenos Aires, por exemplo, há pelo menos 12 desses encontros de sambistas. Detalhe importante: a maior parte dos cantores e ritmistas dessas rodas não são brasileiros, mas nativos da terra do tango.

Foto: Divulgação

"Fiz no braço uma tatuagem em homenagem ao samba, porque mudou minha vida", diz o percussionista argentino Mario Damian Frezza, 33 anos, mais conhecido como Bebo da Sonora. "Na batucada, encontrei um lugar onde todo mundo pode ser igual".

A mais antiga roda argentina é a do Grupo Malandragem, que completou 15 anos neste sábado, com direito a grande show. Seus onze integrantes estiveram várias vezes no Rio para tocar em rodas como Tia Doca (em Madureira), Tia Ciça (em Irajá) e com o grupo Galocantô.

Bebo toca todas as quintas na roda “Bom Ambiente”, num restaurante do bairro de Palermo. “Quando começamos, há dez anos, não pensávamos em chegar tão longe”, admite. Os atuais sambistas tomaram contato com a música brasileira pelo chamado samba-reggae, graças ao sucesso do Olodum. Depois, com o câmbio favorável, muitos argentinos passaram a visitar com mais frequencia o Rio, na década de 90. Aí, a coisa mudou.

Foi o caso do hermano Mauro Aramendy, que começou tocando axé e desde que esteve pela primeira vez numa roda, em 2001, não larga mais o pandeiro. "Quando conheci o samba de raiz, o partido alto, descobri o que realmente gosto", conta ele, um participante do grupo "Demônios da Garrafa", na cidade de Posadas.

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Os nomes das rodas argentinas são curiosos. Tem “Pega Fogo”, “Deixa Pra Lá”, “Cariñosos da Garrafa”, “Quilombo da Mulherada”, “Só Um Pouquinho”, “Bagunça”, “Falsos Baianos”, “Roda Meu Lugar” e “Club de Samba y Choro de La Plata” ( dedicado à obra de Paulo César Pinheiro e João Nogueira).

Para se manterem atualizados, os sambistas portenhos costumam vir sempre ao Rio e alguns até entram nas rodas por aqui. "Vários já se apresentaram com a gente no Renascença", conta o cantor, compositor e percussionista Álvaro Santos. "Tocam igual a nós, a única diferença é o sotaque". A opinião do carioca Álvaro confirma o sentimento do argentino Bebo: na roda de samba todo mundo é igual. Ninguém lembra da rivalidade entre os dois países, a batucada transforma os hermanos em verdadeiros irmãos.

Ritmo seduz os vizinhos

A proliferação de rodas na Argentina é um passo adiante na invasão do samba em território dos países vizinhos. Já há muitos anos, o ritmo é admirado na América Latina, mas em outro formato: a batida forte e o colorido das escolas de samba. Tanto assim que existem em vários países similares bem interessantes das agremiações que desfilam na Sapucaí todos os anos.

No Chile, existem pelo menos duas, a Escuela de Samba Ziriguidum e a Escuela de Samba Kalahari. Ambas contam com a participação de brasileiros. No Uruguai há um desfile anual bastante organizado, que atrai multidões para a passagem das escolas locais, com passistas, fantasias multicoloridas, alas diversificadas, transmissão da TV e baterias compostas por dezenas de percussionistas. Na maioria das vezes, no entanto, o som resultante é uma mistura de samba com ritmo tribal africano.

É na Argentina onde se faz o samba mais parecido com o brasileiro. Os pais de Bebo, por exemplo, criaram há décadas, um bloco de Carnaval que hoje em dia é uma escola de samba, a Sonora da Talacha. Foi lá que ele aprendeu a tocar samba. Mas ele se realiza mesmo nas rodas. “No começo, os donos dos bares achavam que não ia dar certo, mas conseguimos convencê-los”.

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