Buenos Aires - A pergunta foi feita esta semana a Thierry Frémaux, o todo-poderoso Diretor do Festival de Cinema mais importante do mundo, durante sua aula magna realizada terça-feira na capital da Argentina.
A aula fez parte do Ventana Sur 2014, que termina amanhã, evento organizado em conjunto pelo Instituto Nacional de Cine y Artes Audiovisuales Argentina e o Marché du Film do Festival de Cannes. Em sua sexta edição, o Ventana Sur tem como objetivo principal estimular a circulação e a comercialização em todo o mundo de filmes realizados na América Latina.
Para Frémaux, a ausência de filmes brasileiros é um “mistério”, afinal a realidade há dez anos era bem diferente. Hoje, no entanto, o francês diz não saber o que ocorreu com a nossa cinematografia. Ele foi incapaz sequer de citar diretores nacionais, lembrando-se apenas de Walter Salles, cujo último longa, ‘On The Road’, produção internacional com elenco estrangeiro, participou da Competitiva de Cannes em 2012 e teve recepção fria da crítica.
“Mandem-nos uma lista de filmes”, pediu, dividindo a responsabilidade com entidades públicas e privadas brasileiras cuja função é divulgar nosso cinema no exterior. “Não existe só Cannes”, cutucou. “Tampouco vejo o Brasil se destacando em outros festivais. É realmente um mistério”, concluiu, esquecendo-se da participação de ‘Praia do Futuro’, de Karim Aïnouz na competitiva de Berlim deste ano e do prêmio obtido por ‘Hoje eu Quero Voltar Sozinho’ no mesmo festival.
Ao DIA
, presente no Ventana Sur, Frémaux respondeu à pergunta sobre o impacto provocado pela exibição de ‘Bem-vindo a Nova York’, de Abel Ferrara, numa sessão exclusiva fora do Festival. Frémaux interpretou o gesto como uma provocação da produtora Wild Bunch pelo filme não ter sido selecionado.
Acrescentou que a reação só servia para engrandecer e mostrar a força do festival, usado como plataforma para a polêmica sobre o filme e também para estimular o debate sobre a decisão da produtora de lançá-lo primeiro nos serviços de compra por assinatura e só depois nos cinemas.
Frémaux revelou também, em primeira mão, duas novas medidas que terão forte impacto no festival do próximo ano. A primeira está relacionada diretamente à provocação dos produtores do filme de Carrara. Ela determina que os novos participantes de Cannes terão que seguir um cronograma de lançamentos que inclui primeiramente as salas de projeção e só depois as outras janelas. Os que descumprirem a determinação terão suas futuras participações sujeitas a restrições. Mais polêmica à vista.
A outra medida, que certamente também causará muito rebuliço, diz respeito à conduta dos convidados durante a cerimônia de subida do tapete vermelho. A partir de 2015, os selfies na escadaria de Cannes serão rigorosamente proibidos. Como isso ocorrerá, no entanto, é uma incógnita, sobretudo em tempos em que o celular tornou-se adereço tão indispensável quanto o smoking para os homens e as joias para as mulheres que desfilam na passarela. Mais curiosa ainda é a alegação de que a medida visa conter o “egocentrismo” dos convidados. Como assim? Logo no umbigo do egocentrismo das celebridades mundiais? É ver para crer.
Para Frémaux, a ausência de filmes brasileiros é um “mistério”, afinal a realidade há dez anos era bem diferente