Publicado em: 10/01/2016 09:05 Atualizado em:

O cenário internacional tem sido agitado nas últimas semanas por indicadores ruins sobre a economia da China, que sinalizam desaceleração mais forte do gigante asiático. Ainda assim, a expectativa é que o superávit da balança comercial brasileira cresça quase 80% este ano, ajudado por nova queda das importações e uma melhora nas exportações para alguns mercados importantes, como Estados Unidos e Argentina. Há ainda expectativa de desvalorização adicional do câmbio, o que favorece os exportadores e representa um desestímulo às importações.

O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) informou nesta semana que a balança comercial brasileira teve superávit de US$ 19,681 bilhões em 2015, o melhor resultado desde 2011. Para este ano, a pesquisa Focus, do Banco Central, revela uma expectativa de US$ 35 bilhões, o que representaria um salto de 77,8% sobre o ano passado.

Bruno Lavieri, economista da 4E Consultoria, diz que a situação da China será essencial para a balança comercial brasileira este ano, não apenas porque se trata do principal parceiro comercial do País, mas também porque a demanda chinesa tem sido determinante para os preços das commodities. "Existe claramente o risco de que a desaceleração da China seja muito mais forte do que está sendo noticiado pelo governo chinês", aponta.

Para ele, os preços das commodities têm espaço para cair mais este ano, mas não na magnitude de 30%, 40%, como aconteceu em 2015 com o petróleo e o minério de ferro, por exemplo. Lavieri prevê que as exportações totais brasileiras crescerão 3,9% em 2016, para US$ 198,5 bilhões, resultado de uma queda de 2,3% no preço e uma alta de 5,8% nos volumes. "Os volumes devem continuar razoavelmente altos, parecidos com 2015", explica.

Em 2015, o Brasil exportou US$ 36,607 bilhões para a China, uma queda de 12,33% em relação a 2014. Em termos de volume, no entanto, foram vendidas 252,208 milhões de toneladas para os chineses, um crescimento de 9,9% na mesma base de comparação. Os principais produtos comercializados foram: soja, com 40,925 milhões de toneladas (alta de 25,3%); minério de ferro, com 175 739 milhões de toneladas (+0,5%); e petróleo bruto, com 13,156 milhões de toneladas (+135,9%).

Na avaliação de Fábio Silveira, diretor de pesquisa econômica da GO Associados, a expectativa do MDIC de um saldo comercial de US$ 35 bilhões este ano é muito otimista. Ele também espera quedas modestas nos preços das commodities este ano e diz que o superávit deve ficar entre US$ 25 bilhões e US$ 27 bilhões. "Eu ainda não comprei a ideia de um pouso forçado da China, com crescimento de 5% este ano, mas se houver uma descrença na retomada chinesa por parte dos investidos internacionais e dos atores locais, nós brasileiros vamos passar por dificuldades. Um ajuste chinês teria proporções chinesas", alerta.

O analista lembra que o governo chinês é rápido em adotar medidas e vai recorrer a todos os instrumentos necessários para conter a desaceleração da economia, incluindo redução no compulsório bancário e novas desvalorizações da moeda local. Já Lavieri, da 4E, acredita que as recentes quedas do yuan são apenas para corrigir uma alta excessiva - já que a moeda é atrelada ao dólar - e que o governo não deve alterar muito essa variável. "Eles não costumam fazer muito barulho, geralmente fazem as coisas mais graduais", opina.

A economista da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), Daiane Santos, salienta que a melhora esperada para a balança comercial brasileira tem origem em uma nova queda nas importações, após o tombo de 25,2% no ano passado, e uma leve melhora nas exportações. "A China deve crescer menos este ano do que em 2015 e os preços das commodities também não vão ajudar, então temos mais notícias ruins do que boas", pondera.

Argentina
Com as incertezas que pairam sobre a China, o Brasil poderia se voltar para a Argentina, antigo parceiro comercial, mas cuja corrente de comércio perdeu muito espaço nos últimos anos. Agora com a posse do presidente Mauricio Macri, há a expectativa de melhora na economia do vizinho e afrouxamento nas restrições ao comércio internacional. O novo presidente já eliminou o imposto de exportação sobre alguns grãos e, com mais dólares entrando no país, as importações também ficam mais fáceis.

Mesmo assim, os analistas lembram que a Argentina continua em recessão e que a forte desvalorização do peso encarece as compras externas pelo país. "Esperar que aumentem as exportações para a Argentina por enquanto ainda é sonho. Talvez possa ser viável no médio e longo prazo", comenta Daiane, da Funcex. Em 2013, o Brasil vendeu US$ 19,615 bilhões para os argentinos, com as exportações caindo para US$ 14,281 bilhões em 2014 e US$ 12 800 bilhões no ano passado.

Para Lavieri, da 4E, realmente é difícil prever o que vai acontecer com o comércio Brasil-Argentina este ano. Mesmo assim, ele aponta que após as grandes restrições dos últimos anos, qualquer melhora gerará benefícios para o Brasil, ainda que lentamente. "A indústria automobilística argentina praticamente parou, porque eles não conseguiam importar peças. Agora pode haver um avanço".

A retomada do crescimento nos EUA também é uma esperança para as exportações brasileiras. Daiane aponta que no ano passado as vendas para os norte-americanos encolheram 10,91%, para US$ 24 079 bilhões, mas as exportações de manufaturados cresceram 1 00%. "Mesmo assim, nosso market share nas importações feitas pelos norte-americanos não mudou, ou seja, não ganhamos mercado" diz.

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