BUENOS AIRES — O presidente sírio, Bashar al-Assad, declarou neste sábado em entrevista a um jornal argentino saudar uma iniciativa de paz russo-americana para pôr fim à guerra civil na Síria, mas afirmou não ter planos de renunciar.
"Renunciar seria fugir", declarou ao jornal Clarín, quando perguntado se consideraria deixar o poder, como sugeriu o secretário de Estado americano, John Kerry.
"Eu não sei se Kerry ou qualquer outro foi constituído de poder pelo povo sírio para falar em seu nome sobre quem deveria partir e quem deveria ficar. Isto será determinado pelo povo sírio nas eleições presidenciais de 2014", afirmou.
Assad falou ao Clarín e à agência de notícias argentina Telam em uma longa entrevista concedida em Damasco, na qual ele também negou que seu governo tenha utilizado armas químicas contra a população civil de seu país.
Seus comentários vêm a público em meio a uma rara ação conjunta dos Estados Unidos e da Rússia para convocar uma conferência de paz em Genebra, que reuniria membros do regime e rebeldes que lutam para depor Assad.
"Nós recebemos bem a acolhida russo-americana e esperamos que haja uma conferência internacional para ajudar os sírios a superarem a crise", afirmou Assad, citado pelo Clarín.
No entanto, "não acreditamos que muitos países ocidentais realmente queiram uma solução na Síria. E não pensamos que as forças que sustentam os terroristas queiram uma solução para a crise", acrescentou.
"Precisamos ser claros", afirmou. "Há confusão no mundo sobre uma solução política e o terrorismo. Eles pensam que uma conferência política deteria o terrorismo em campo. Isto é irreal", prosseguiu.
A pressão por uma ação na Síria aumentou após relatórios de inteligência ocidentais apontarem o uso pelo regime de armas químicas em pelo menos duas oportunidades e o número de mortes aproximando-se dos 95.000 após 26 meses de guerra, segundo um grupo de observação sírio.
Assad negou, em declarações à agência Telam, que seu governo tenha usado armas químicas contra sua população civil e afirmou que as mortes não poderiam ter sido omitidas caso o regime tivesse realmente utilizado estas armas.
"As acusações contra a Síria a respeito do uso de armas químicas ou minha renúncia mudam todo dia. E é provável que isto seja usado como um prelúdio para uma guerra contra o nosso país", afirmou.
"Eles disseram que nós usamos armas químicas contra áreas residenciais. Se foram usadas em uma cidade ou um subúrbio com apenas 10 ou 20 vítimas, isto seria crível?", questionou.
Seu uso, afirmou Assad, "significaria a morte de milhares ou dezenas de milhares de pessoas em questão de minutos. Quem poderia esconder algo assim?", argumentou.
Assad também questionou as estimativas sobre o número de mortos feitas por grupos humanitários, mas reconheceu que "milhares de sírios morreram" na guerra civil.
"Não deveríamos ignorar que muitos dos mortos dos quais eles falam são estrangeiros que vieram matar o povo sírio", afirmou, culpando "o terrorismo local e aquele vindo de fora" pela violência.
Segundo o Clarín, Assad negou que seu governo esteja usando "combatentes de fora da Síria ou de outras nacionalidades e que precise de apoio de qualquer país árabe ou estrangeiro".
"Há gente do Hezbollah no Irã, na Síria, mas eles entram e saem da Síria muito tempo antes desta crise", concluiu.
Copyright © 2013 AFP. Todos os direitos reservados.
Mais »