O candidato da situação, Daniel Scioli, e seu principal adversário, o conservador Mauricio Macri, coincidiram neste sábado em apelar ao voto peronista, o principal movimento político dos últimos 70 anos na Argentina, para conquistar votos, a oito dias das eleições.
Uma caravana encabeçada por Daniel Scioli percorreu os bairros mais humildes e um ato de Macri, ambos na periferia de Buenos Aires, foram celerados no chamado Dia da Lealdade Peronista, nos 70 anos de uma manifestação multitudinária popular na Praça de Maio, em 17 de outubro de 1945.
Este dia é considerado a data de fundação do movimento peronista, liderado pelo falecido presidente Juan Perón (1946/55, 1973/74).
"Esta é a melhor forma de comemorar estes 70 anos das bases de fundação do peronismo: a justiça social, água potável, esgoto, moradia", disse Scioli, de 58 anos, que lidera as pesquisas de intenção de voto para as eleições de 25 de outubro e que se autodefine como o candidato "mais previsível e confiável".
O candidato apoiado pela presidente Cristina Kirchner também percorreu a pé, cercado de centenas de militantes e vizinhos, bairros pobres da periferia sul da capital, os quais denominou de "lugares emblemáticos que mostram os feitos alcançados com estas políticas que dão dignidade e trabalho".
Scioli pertence ao peronismo, que abarca tendências diferentes e até mesmo antagônicas, do conservadorismo à esquerda, e que governou a Argentina em 24 dos últimos 26 anos.
É peronista a presidente de centro-esquerda Kirchner, que entregará o governo em 10 de dezembro após 8 anos de governo, sem poder aspirar a um terceiro mandato consecutivo. Também o é o presidente neoliberal Carlos Menem (1989/99).
O peronismo "é um fenômeno cultural", explicou à AFP o analista Raúl Aragón.
"Não é uma ideologia, é uma metodologia para obter, manter e exercer o poder, por isso pode haver neoliberais ou populistas", acrescentou.
"Verdadeira lealdade"
Em um ato perante 300 pessoas, ao norte da populosa periferia da capital, Macri, de 56 anos, convocou as mulheres a votar nele, situando-se, segundo as pesquisas, em segundo lugar, mas seguido de perto por Sergio Massa, outro opositor de centro-direita.
Em meio a balões coloridos, a marca de sua campanha, e com a distribuição de flores às mulheres pelo Dia das Mães, que se celebra este domingo na Argentina, o prefeito da capital abordou a desigualdade salarial entre os sexos e outras questões de gênero.
"Hoje, no Dia da Lealdade, quero convocar todas as mulheres peronistas a que entendamos que a verdadeira lealdade não é ao poder, nem aos dirigentes que levantam bandeiras em benefício próprio; é aos valores, à justiça social, à igualdade de oportunidades, à pobreza zero", disse Macri, líder de um partido que tacha o peronismo de populista.
Em 8 de outubro, aniversário de nascimento de Perón, falecido em 1974, ele já tinha inaugurado o monumento a Perón em Buenos Aires, em uma praça a 300 metros do prédio do governo, a Casa Rosada.
Partidos conservadores ou de direita, como o macrista Proposta Republicana, exerceram historicamente uma oposição feroz aos governos peronistas, mas analistas consideram que Macri tenta captar votos de setores do peronismo que repudiam Kirchner.
Scioli aparece em primeiro lugar em todas as pesquisas, com 38% a 42% das preferências do eleitoral, Macri é o segundo (entre 25% e 30%). Ainda há dúvidas sobre se haverá um segundo turno, previsto para 22 de novembro.