SÃO PAULO, SP, 20 de março (Folhapress) - O papa Francisco receberá amanhã Adolfo Pérez Esquivel, militante de direitos humanos e ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1980. O ativista desmentiu as relações de Jorge Mario Bergoglio com a última ditadura militar argentina (1976-1983).
A informação foi revelada hoje pelo porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi. O encontro é mais uma forma de desvincular o papa das acusações de omissão e negligência no caso da prisão de dois padres jesuítas que trabalhavam em seu projeto social em Buenos Aires, na década de 1970.
Eles ficaram presos por cinco meses e foram torturados pelas forças de segurança do ditador Jorge Rafael Videla. Um dia após a escolha de Bergoglio como pontífice, Pérez Esquivel disse que ele não teve culpa das prisões.
"Não considero que Jorge Bergoglio tenha sido cúmplice da ditadura, mas acho que lhe faltou coragem para acompanhar nossa luta contra os direitos humanos nos momentos mais difíceis", disse o ativista, em nota divulgada na última quinta.
Um dia depois, o Vaticano saiu em defesa do pontífice e disse que o argentino é vítima de uma campanha "caluniosa e difamatória" na Argentina, e chegou a citar as declarações do próprio Pérez Esquivel e de pessoas que dizem que Bergoglio protegeu perseguidos pela ditadura.
"Nunca houve uma acusação concreta e confiável contra ele. A Justiça argentina o interrogou uma vez, mas como pessoa informada dos fatos, e jamais o acusou de nada. Sua origem anticlerical é muito conhecida e evidente", disse Lombardi.
Padre preso
Um dos padres envolvidos no caso, Francisco Jalics disse em comunicado que se reconciliou com Bergoglio em 2000, durante missa rezada pelos dois juntos. "Depois disso, celebramos uma missa pública juntos e nos abraçamos solenemente. Estou reconciliado com ele e considero o assunto encerrado".
Ele foi preso junto com Orlando Yorio em 1976, quando ambos atuavam em uma favela de Buenos Aires. No livro "O Silêncio", o jornalista Horacio Verbitsky diz que Bergoglio, líder do grupo de ajuda, foi cúmplice ao denunciar os sacerdotes, considerados subversivos.
No documento, Jalics atribui à "desinformação deliberada" a sua prisão junto com Yorio, e fala do período em que estiveram presos na ESMA, principal centro de torturas que funcionou em Buenos Aires no fim dos anos 70.
O padre frisa que nem ele nem Yorio tinham ligações "nem com a junta nem com a guerrilha", mas mesmo assim foram interrogados por cinco dias e, segundo conta, ficaram presos de olhos vendados por cinco meses.