O presidente do organismo que elabora os exames nacionais e os seus critérios de classificação, o Instituto de Avaliação Educativa (Iave), considera que o treino intensivo para estas provas, que tomou conta das escolas, “é o maior erro que se comete em matéria de prática de sala de aula”.
Hélder de Sousa, professor de Geografia do secundário, que antes esteve à frente do Gabinete de Avaliação Educacional, o organismo que precedeu ao Iave, lamenta que a análise exaustiva das respostas dos alunos por domínio, que anualmente é devolvida às escolas, não se tenha ainda traduzido na ultrapassagem das dificuldades que ali são identificadas, sempre as mesmas de ano para ano.
Assume que os exames ainda não geraram melhores aprendizagens, uma situação que descreve como sendo o “calcanhar de Aquiles” do sistema. E como a prestação dos alunos não tem melhorado, admite que o conseguir-se melhores resultados nos exames passa essencialmente por pequenas correcções nas provas ou nos critérios de classificação, como voltará acontecer este ano.
Em 2014 na maior parte das disciplinas do ensino secundário as médias de exame subiram, à excepção da Matemática e de Física e Química e de poucas mais. Tendo em conta a vossa capacidade de anteverem resultados pela análise exaustiva que têm feito das respostas aos exames já realizado, conta que esse fenómeno se passe outra vez este ano?
Esta discussão anual sobre as subidas e descidas de resultados está muito empolada porque se valorizam oscilações que, do ponto de vista estatístico, têm uma amplitude muita reduzida. Basta haver uma variação de oito décimas, meio valor ou até um para se ficar imediatamente com a sensação, que é errada, que o sistema está a melhorar ou a piorar. Só que estas oscilações, e porque estamos a falar de provas que todos os anos são novas, são perfeitamente naturais e não significam que possa estar a haver uma melhoria ou uma regressão. Estas conclusões só são possíveis quando se verifica uma tendência persistente por exemplo de subidas de resultados, mesmo que pequenas. Mas o que se tem passado é que os resultados têm subido ligeiramente, voltado a descer, voltado a subir e portanto do ponto de vista estatístico estamos perante uma tendência irrelevante.
Também queria referir que quanto à polémica [levantada pelo presidente do Conselho Científico do Iave], que foi mal colocada, sobre a encomenda feita pelo ministério a propósito dos exames, é que esta incide sobre algo que nós já fazemos há anos e que é manter a estabilidade das provas.
Estabilidade em que aspectos?
Na dimensão das provas, na dificuldade dos itens, temos itens com uma dificuldade variada, mas que à partida se mantém de ano para ano, no tipo de itens, se são de escolha múltipla, se são de resposta extensa, no tipo de exercícios que são propostos, etc. Ou seja, há uma preocupação de manter os instrumentos de avaliação estáveis.
E quanto à possibilidade de preverem os resultados dos exames? Como é que fazem?
Só conseguimos prever resultados com um elevado grau de certeza porque os alunos, de uns anos para os outros, nem melhoram, nem pioram. E porque apesar de as provas serem públicas, tentamos que sejam muito similares entre si de ano para ano. Se já sabemos de antemão que os alunos não têm mostrado grandes diferenças nos seus desempenhos, é lícito pensar que se a prova tem características semelhantes os resultados também vão ser semelhantes. É nesta perspectiva que dizemos que temos capacidade de previsão.
Não lhe vou pedir para me revelar os conteúdos das provas, mas como estas já estão feitas há meses volto a insistir sobre qual é a vossa previsão quanto aos resultados deste ano. No ano passado houve oscilações significativa, por exemplo a Biologia e Geologia que, depois de vários anos com resultados negativos, voltou a uma média positiva.
É verdade, mas volto a dizer que quando se comparam apenas dois anos pode-se ter a sensação de que houve um salto grande, quando o que existe é uma subida de 10, 12 pontos percentuais, por vezes de um valor. Percebo que, do ponto de vista dos media, a preocupação seja comparar sempre com o ano anterior, mas isso é muito redutor do ponto de vista da análise.
Volto a insistir, não se esperam grandes surpresas nos resultados dos exames este ano?
No secundário há algumas áreas que nos têm estado a preocupar, que são sobretudo as ligadas à parte das tecnologias, a Física e a Matemática. E preocupam-nos porque tem havido sem grande razão, principalmente na Matemática, uma variação anual que, embora seja reduzida, tem sido nos últimos anos sempre no mesmo sentido, para baixo. Há dois, três anos, estávamos a gerar uma prova que era reconhecidíssima pela Associação de Professores de Matemática, pela Sociedade Portuguesa de Matemática, com uma dificuldade ajustada e adequável, e que estava a gerar classificações médias dos alunos internos da ordem dos 10,5, 10,6, o que me parece perfeitamente equilibrado.