O mundo dos Borges

Victor Bandarra

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O mundo dos Borges

Jorge Luís Borges antecipou a “literatura fantástica”, António Borges antecipou a “economia fantástica”...

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Por:Victor Bandarra, jornalista (vmbandarra@tvi.pt)

 

 

Fala-se da Argentina, de Messi, do "caos que governa o mundo" e de um tal Jorge Luís Borges, com ancestral na nordestina Torre de Moncorvo. No intervalo do Benfica-Barcelona, o meu amigo Zé dos Pneus encarrila na conversa e decreta: "Esse gajo, o Borges, que vá chamar estúpido ao avôzinho dele lá em Trás-os-Montes!" Baralhados q.b., percebe-se que, em Portugal, nestes tempos de caos e irrealidade, Borges só há um, o António e mais nenhum.

António Borges, filósofo da TSU, brilhante currículo de professor e economista, nasceu e fez-se homenzinho no Porto. Foi por duas vezes campeão nacional de voleibol pelo FCP. Mais tarde, universitário em Lisboa, jogou pelo Benfica e não mais ganhou. Nos intervalos, jogou ténis, obviamente.

Borges, o Jorge Luís, brilhante escritor labiríntico, nasceu em Buenos Aires, fez-se homenzinho na Suíça e um dos bisavôs era natural de Moncorvo. Não consta que tenha jogado voleibol nem ténis, mas era fluente em várias línguas e saberes, tal como António. Jorge Luís viajou pela Europa e pelos Estados Unidos, tal como António, que viveu cinco anos na Califórnia e mais uns quantos em Londres. António, teórico, congemina que "é preciso baixar os salários, já!"

Jorge Luís, realista, dissertava que "o presente não se detém". António, de sua fé, previu em passado recente que "a crise será breve e passageira". Jorge Luís, futurista, questionava-se: "Não é extraordinário pensar que dos três tempos em que dividimos o tempo – passado, presente e futuro –, o mais difícil, o mais inapreensível, seja o presente?" Jorge Luís, inteligente e culto, antecipou a "literatura fantástica". António, culto e displicente, antecipou a "economia fantástica" e esbanjou coragem e leviandade ao chamar "ignorantes" aos compatriotas empresários.

Quase todos lhe caíram em cima. António, enredado em seu labirinto, há-de insistir na sua razão. Aliás, por linhas ainda mais tortas, Gaspar encarregou-se logo de lhe dar razão – o que não é sacável com a TSU, é sacável com o IRS. Uma questão de "passar bem a mensagem", dirá o Professor Marcelo. "Com manteiga", acrescenta o meu amigo Zé dos Pneus.

Borges, o Jorge Luís, nunca ganhou o Nobel da Literatura, para tristeza de muito boa gente. Ninguém acredita que Borges, o António, venha a ganhar o Nobel da Economia. Para tristeza de Passos Coelho.

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