JUAN MABROMATA/AFP/JC
Crescem na Argentina as denúncias de corrupção contra o governo Kirchner, que administra o país há uma década. Depois das denúncias da ex-secretária particular de Néstor Kirchner (2003/2007), morto em outubro de 2010, de que funcionários levavam sacolas de dinheiro à Casa Rosada, o mais recente desdobramento é que o arquiteto responsável pela construção da residência de Néstor e de sua esposa e sucessora, Cristina Kirchner, em El Calafate, confirmou que desenhou e construiu uma caixa-forte na casa.
Reportagem investigativa do programa de TV PPT (Periodismo Jornalismo para Todos) exibiu o projeto da residência e entrevistou o arquiteto Antonio Cañas. Ele detalhou como foi construída e onde está localizada a caixa-forte que, supostamente, guarda o dinheiro. No térreo, existe uma academia de ginástica, uma sala de máquinas e um cofre de um metro de profundidade por 2,50m de altura, encomendado pelo próprio ex-presidente para guardar “objetos de valor e documentos”.
A revelação confirma denúncias anteriores investigadas pelo mesmo programa sobre a “rota do dinheiro K” (Kirchner), envolvendo o empresário Lázaro Báez, apontado como testa de ferro, sócio e amigo da família. Em uma série de reportagens e entrevistas, o programa apontou que ao menos € 50 milhões teriam passado por lavagem de dinheiro. O esquema, conforme a reportagem, envolveria voos noturnos, compra de divisas e bolsas de dinheiro que circulavam na Casa Rosada. A primeira confirmação foi feita pela ex-secretária do falecido presidente.
O arquiteto contou que recebeu a ordem para incluir a caixa-forte no projeto da casa por meio de um dos secretários de Néstor, Ricardo Barreiro. O lugar foi planejado para instalar uma porta blindada que custou US$ 13 mil. O arquiteto deixou de trabalhar para os Kirchner em 2005 e quem terminou a obra foi Pablo Grippo, que também construiu o hotel de luxo que a família presidencial possui, Los Sauces. Outras entrevistas apontaram a existência de mais caixas-fortes nas propriedades dos Kirchner e o enriquecimento de vários dos principais aliados de Cristina e Néstor, entre eles, os ministros de Planejamento, Julio De Vido, e de Saúde, Juan Luis Mansur.
Casal já sofreu três acusações de enriquecimento ilícito nos últimos anos
O casal Kirchner já foi acusado de enriquecimento ilícito em três oportunidades, mas nenhum processo avançou. No primeiro deles, enquanto investigava as denúncias, o promotor da causa, Eduardo Taiano, sofreu uma grave ameaça: o filho dele foi sequestrado. O caso veio à tona no fim de semana, em reportagem do jornal Perfil, em meio à polêmica reforma do Judiciário promovida pelo governo, que tomará o controle do organismo que nomeia e destitui os juízes em todo o país.
A última denúncia, em 2009, foi arquivada pelo juiz federal Norberto Oyarbide, apontado pela oposição por ser conivente com a Casa Rosada. O patrimônio dos Kirchner passou de sete milhões de pesos, em 2003, a 82 milhões de pesos, em 2012. Outro promotor público, Guillermo Marijuán, que investiga as denúncias sobre a “rota do dinheiro K” e Lázaro Báez, recebeu ameaças contra sua vida e a de suas filhas.
As ameaças foram denunciadas na semana passada e Marijuán e sua família estão sendo protegidos por seguranças policiais. A ex-secretária de Néstor também está sob os cuidados de seguranças especiais e entrou para o programa de testemunhas. Hoje ela vai prestar depoimento.
Ao mesmo tempo, a reportagem alerta para a manobra que o governo está articulando para calar a imprensa não alinhada à Casa Rosada, por meio da intervenção no Grupo Clarín e da expropriação de 24% da única fábrica de papel de jornal, Papel Prensa, que pertence ao Clarín (49%), La Nación (22,5%) e o Estado (28%).
Paralelamente ao projeto de expropriação que daria ao governo o controle da fábrica de papel, a Comissão Nacional de Valores (CNV) prepara o terreno para colocar em prática a nova lei de mercado de capitais que permite a intervenção do Estado em qualquer empresa de capital aberto. Se confirmada essa iniciativa, o governo fecharia o cerco do controle à imprensa, já que, além de controlar o papel de jornal no país, terá em suas mãos o principal jornal crítico à situação, o Clarín e suas redações de TV TN e América.