No país, balança comercial brasileira teve pior resultado desde 1998

Brasília - A balança comercial brasileira encerrou 2014 com um déficit de US$ 3,9 bilhões, o pior resultado desde 1998, ano em que houve saldo negativo de US$ 6,6 bilhões. A balança não encerrava o ano no vermelho desde 2000, quando o déficit havia sido de US$ 731 milhões.

Para justificar o resultado negativo, o governo aponta o cenário econômico internacional, o preço das commodities e o desempenho da conta petróleo. O novo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro, ainda não teve a cerimônia de transmissão de cargo, prevista para amanhã, mas já mandou o recado de que prepara medidas para estimular as exportações.

Em dezembro, a balança teve superávit de US$ 293 milhões, o pior resultado para o mês desde 2000, quando o saldo ficou negativo em US$ 211 milhões. O governo aponta que o déficit do ano passado representa apenas 1,7% do total de exportações do País. Em 1997, quando ocorreu o maior déficit da série histórica, de US$ 6,7 bilhões, esse valor representava 11,3% das vendas externas do Brasil.

A chamada conta petróleo, que leva em conta a venda e a compra de petróleo e derivados, é um dos principais motivos para o resultado negativo da balança em 2014. Na comparação com 2013, entretanto, houve melhora: o déficit dessa conta caiu de US$ 20,3 bilhões para US$ 16,6 bilhões no ano passado.

"Ainda temos um déficit bastante elevado na conta petróleo, que é fundamental para explicar a balança brasileira", afirmou ontem o secretário de Comércio Exterior do Mdic, Daniel Godinho. Além do aumento da produção e da exportação de petróleo no Brasil em 2014, que favoreceram a conta petróleo, houve impacto da queda do preço do produto.


Efeito
- Considerando que as importações de petróleo superam as exportações, o efeito é maior do lado das compras e, portanto, também colabora para a redução do déficit. O secretário argumentou, entretanto, que esse impacto só ocorreu no fim do ano e, portanto, não explica o comportamento durante todos os meses de 2014.

A queda dos preços de commodities superior à esperada (especialmente minério de ferro) e o cenário internacional desfavorável foram fatores que influenciaram o déficit da balança em 2014.

Devido à crise na economia argentina, os Estados Unidos se tornaram, no ano passado, o principal destino para os produtos manufaturados brasileiros, com avanço de 9,8% nas vendas. Com esse desempenho, os norte-americanos superaram os argentinos, que eram líderes de compra desses itens desde 2009. "A situação na Argentina atingiu duramente as exportações brasileiras de manufaturados. Com isso, tivemos uma perda de US$ 5,3 bilhões no ano", afirmou o secretário.

Godinho não quis cravar um número, mas afirmou que o governo espera um saldo comercial positivo em 2015. Ele listou o dólar mais alto frente o real, a queda do preço do petróleo, o crescimento maior nos Estados Unidos, entre outros fatores, como influências positivas para a balança comercial do ano.

Desafio - "Trabalharemos intensamente para a melhora da balança comercial, via aumento de exportações", disse. O secretário, que continuará no cargo, afirmou que o novo ministro da pasta, Armando Monteiro, anunciará medidas para aumento de exportações. Godinho não quis detalhar o teor dessas medidas e tampouco quando elas serão anunciadas.

Um desafio para este ano, segundo o secretário, é a incerteza relacionada ao desempenho da economia mundial. Ele citou a situação das economias da União Europeia, da Rússia e da Argentina e destacou a tendência de menor crescimento da economia da China - que é o principal parceiro comercial do Brasil.

No mercado, a avaliação é de que 2015 terá uma balança positiva. Natalia Cotarelli, do Banco Indusval ã Partners (BIP), ponderou que a retração nos preços do petróleo e o dólar mais valorizado poderão ajudar a melhorar o saldo comercial.

"Duas questões ainda devem atrapalhar o bom desempenho comercial em 2015: um crescimento global ainda modesto e a falta de uma retomada substancial dos preços das commodities", avaliou. O Boletim Focus divulgado ontem mostra que o mercado espera um superávit de US$ 5 bilhões no fim deste ano. (AE)

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