CARACAS - A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, chegou a Caracas com a esperança de conseguir, durante a Cúpula do Mercosul que ocorre nesta terça-feira na capital venezuelana, o apoio dos chefes de Estado do bloco em sua batalha contra os "fundos abutres", que pode resultar em um calote do país nesta quarta-feira. Segundo o jornal "La Nación", Cristina preparou um discurso "forte" e de alta "voltagem política", condenando o juiz americano Thomas Griesa, que ordenou o pagamento aos fundos de investimento.
Nos últimos dias, Griesa foi irredutível às argumentações da Argentina, que queria um novo stay, espécie de liminar que daria mais prazo ao governo para negociar com os chamados "abutres", que não aceitaram o acordo de reestruturação da dívida, após a moratória argentina de 2001. O juiz obrigou que o país pague US$ 1,5 bilhão aos "abutres". Em sua fala na Casa Amarela, sede do governo venezuelano, Cristina acusará Griesa de "extorsão" e repetirá que a Argentina "está sofrendo um ataque especulativo" por parte dos "abutres".
A presidente argentina também deve criticar o juiz pelo bloqueio do pagamento de US$ 1,1 bilhão dos investidores que aceitaram os termos da reestruturação, acordados em 2005 e 2010. Griesa congelou esses valores, afirmando que o pagamento era ilegal, a menos que os "abutres" também fossem pagos. O confisco ocorreu no dia 30 de junho, quando foi concedido um prazo de 30 dias, que se encerra nesta quarta-feira, quando a Argentina pode entrar no chamado "calote técnico" - quando o país tem intenção de pagar, mas é impossibilitado.
Ao chegar ao aeroporto na noite de segunda-feira, Cristina pediu por uma "ordem global mais justa".
- Isto (a crise) não precisa nos levar a um mal-estar, mas redobrar nossos esforços para conseguir uma ordem global mais equitativa, mais justa, multipolar, em que não haja subordinação de uns sobre os outros, com cooperação e vínculo entre as nações, como ocorre no Mercosul, na Unsasul e na Celac - afirmou a presidente.
- A expectativa é que o Mercosul formule um pronunciamento de apoio explícito à Argentina. Não sabemos se haverá um documento especial ou se se incluirá na declaração final - disse um funcionário não identificado ao "La Nación".
Fontes diplomáticas do Brasil admitiram ao jornal argentino que a crise argentina é tema de "intensa discussão" entre conselheiros. As pessoas ouvidas também admitiram que o Mercosul pode, de fato, apoiar a Argentina. O chanceler do Paraguai,. Eladio Loizaga, também antecipou que apoiará o país vizinho:
- Temos acompanhado a situação da Argentina. Aqui o que há que se buscar é a previsibilidade e segurança.