Mercado informal, uma legião do tamanho da Argentina

O mercado informal de trabalho apresenta um contingente crescente de pessoas atuantes, com a entrega indiscriminada de panfletos nos sinaleiros estratégicos que consideramos “um saco”. Outras pessoas estão oferecendo frutas, na maioria das vezes pencas de banana em sacos plásticos. Estes sofrem o “rapa” da Prefeitura. Algumas senhoras, com filhos no colo porque não tem como deixá-los em casa, procuram vender panos de prato e alguns até manufaturados com o uso de renda para melhor ornamentar a peça. Estas procuram vender também noutros locais, que consideram estratégicos, como supermercados, bares, restaurantes e outros.

Na prática, essas pessoas que nos “incomodam” são trabalhadores ou trabalhadoras que não encontram serviços com carteira assinada, que lhes dêem maior auto-estima. São pessoas que mantém a dignidade e preferem fazer o que fazem para não pedir esmola ou se prostituírem. Infelizmente, esse mercado tem crescido. E talvez comporte a população argentina, com seus 45 milhões de habitantes, num comparativo meramente populacional. 

Comendo num restaurante tipo self – service, desses que o freguês faz seu prato, pesa e paga, uma senhora passou oferecendo a R$10,00 o jogo de panos de prato. Fiquei imaginando porque não comprá-los para ajudá-la, e compensar em seu trabalho. Sua passagem foi tão rápida que pensei com meus botões: ela volta. Nisso, outra com filho no colo se aproxima. Comprei o jogo e bancando o bom samaritano ofereci a ela um prato de comida. 

Se no começo tentou bancar a educada e rejeitar, o sininho da fome bateu mais alto. Minha digníssima primeira dama ou companheira de primeira hora, como já tinha acabado de almoçar, se prontificou a servi-la, já que estava com criança ao colo e os devidos jogos de prato. Fez um farto pratão. Sentou-se à mesa, atendendo a meu pedido, porque até nisso ela sentiu-se acanhada com o seu nenê escanchado. 

Como já havia completado a refeição, saí para atender os meus compromissos pessoais. Volvi os olhos para verificar se estava tudo bem, a digna senhora comia e levava a colher à boca do filho. Qual não foi a minha surpresa. A criança fixava o seu olhar em mim, que parecia demonstrar o seu profundo agradecimento.

Veio-me à memória na hora um casal de ursos no pólo norte em que o filhote foi aprisionado por uma armadilha de caçadores. A dupla de guardas chegou a tempo de salvá-lo. Mas, acontece que os pais estavam nas proximidades. Os guardas ficavam com medo de serem atacados. O ursinho urrava de dor, a mãe querendo salvá-lo, mas não havia como. Parece que compreendendo a difícil situação, ela se afastou gradualmente para que os guardas se aproximassem. Liberto, o filhote correu, mesmo mancando, para o lado dos pais. A mãe voltou os olhos aos guardas, demonstrando profunda ternura e agradecimento. No caso da mulher dos panos de prato, o olhar terno partiu do filho, porque a mãe estava de costas e eu saí de fininho, sem chamar a atenção. 

Segundo mostra o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em sua Síntese de Indicadores Sociais – Uma análise das condições de vida da população brasileira 2012, a parcela de pessoas com 16 anos ou mais de idade ocupadas no mercado de trabalho brasileiro passou de 45,3% para 56% entre 2001 e 2011. No entanto, em 2013 o contingente de mão de obra informal somava 44,2 milhões de pessoas, em torno de 22% do total da população brasileira, estimada em cerca de 193 milhões.

Em mensagem por ocasião do Dia Mundial da Justiça Social, o diretor geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Guy Ryder, manifestou preocupação mediante um futuro mais incerto e menos próspero do que o que teve a geração anterior. A situação de muitos é tão desesperadora que parece difícil acreditar que pode piorar. Ao chamar a atenção dos governantes, ele observou que “antes mesmo da eclosão da crise financeira mundial em 2008, a metade da população mundial vivia com menos de dois dólares ao dia, milhões de pessoas eram vítimas da fome e muitas pessoas não tinham nenhuma expectativa de encontrar trabalho decente”. 

Em sua mensagem, acrescentou ainda que depois de seis anos de um crescimento econômico insuficiente e diante da falta de respostas políticas, milhões de pessoas ficaram para trás, sem trabalho e desamparados diante do aumento dos preços dos alimentos e dos serviços. A produção de alimentos corresponde por parte dos agricultores e pecuaristas. A distribuição, no entanto, fica a desejar.

Guy Ryder sustentou que a proteção social não é somente um direito humano, mas também uma aposta em uma política econômica eficaz. A seguridade social dá acesso ao cuidado médico, à educação e à alimentação. “Os sistemas de proteção social bem planejados são um apoio para a renda e o consumo interno, forjam o capital humano e aumentam a produtividade”, argumentou. 

Conclama, afinal, esforços gerais dos países, para a erradicação da pobreza depois de 2015, com o apoio das Nações Unidas. O pedido é meritório, mas difícil de ser cumprido. No Brasil, por exemplo, a população precisa ter seus pleitos de educação atendidos. Sem educação nenhum país alcançará a sua redenção econômica e social. Ela é a base para tudo. 

(Wandell Seixas, jornalista voltado para o agro, assessor de Comunicação Social da SGPA, autor do livro O Agronegócio passa pelo Centro-Oeste, bacharel em Direito e Economia pela PUC-GO, bolsista em cooperativismo agropecuário pela Histradut, em Tel Aviv, Israel)

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