Mengele na Argentina


Mengele na Argentina


“O Médico Alemão”, filme da cineasta Lucía Puenzo volta a retratar o exílio do carrasco nazista na América do Sul


Juarez Compertino

Especial para o DC Ilustrado

Em 1960, Lilith (Florencia Bado) está se mudando com os pais e os irmãos para Bariloche, onde vão reabrir a hospedaria da família. Um alemão pede para segui-los na estrada: ele não conhece o caminho e está intrigado com Lilith, que tem 12 anos mas, baixinha, aparenta ter 9 – embora exiba proporções notavelmente harmoniosas, anota ele em sua caderneta. O carismático estrangeiro (o espetacular Àlex Brendemühl) que diz ser médico e se chamar Helmut Gregor, tem em Bariloche vários conhecidos alemães, que o tratam com deferência. É de Lilith, porém, que ele se aproxima. Quer medicá-la com hormônios para que cresça (a garota sofre bullying na escola por conta da baixa estatura) e também cuidar de sua mãe, grávida de gêmeos.

A verdadeira identidade do homem é Josef Mengele, conhecido como o “Anjo da Morte”, que não só mandou mais de 400 mil homens, mulheres e crianças para as câmeras de gás em Auschwitz como realizou escabrosos experimentos em seres humanos, na sua obsessão (e de Hitler) por desenvolver uma raça ariana superior. É fato que o nazista fugiu para a América do Sul, viveu sob falsa identidade e morreu afogado em uma praia de Bertioga, no litoral paulista, em 1979.

Baseado num episódio real da longa trajetória de fuga e exílio de Mengele, “O Médico Alemão” ( Wakolda, Argentina, 2014), escrito e dirigido pela cineasta Lucía Puenzo (a mesma do inesquecível “Depois de Lúcia”), fala da passagem do médico nazista pela Argentina, quando teria se envolvido com uma família dona de um hotel na Patagônia. Lilith se tornaria sua primeira cobaia humana no uso de hormônios de crescimento, que até ali Mengele testara apenas em gado.

A trama foca essa relação em ritmo de thriller, pois o pai não aprova a presença do médico e há ali uma fotógrafa que, na verdade, é uma espiã atrás de fugitivos nazistas.

Primoroso no ritmo controlado e na audácia com que apresenta a face simpática de seu protagonista à família de Lilith, o filme é rico em simbolismos ao demonstrar que o monstro pode estar onde menos se espera. Não chega a ser eletrizante, mas o caderno em que Mengele registra seus estudos é de tirar o sono. Disponível no mercado do home vídeo.

Leave a Reply