Macri traz novo alento ao acordo Mercosul-UE, segundo analistas …

Cleyton Vilarino.

São Paulo, 20 dez (EFE).- A recente eleição na Argentina de Mauricio Macri como presidente trouxe um novo ânimo aos entusiastas das negociações entre o Mercosul e a União Europeia (UE), que se estendem há quase 15 anos, afirmaram neste domingo analistas consultados pela Agência Efe.

No governo do Brasil as conversas foram conduzidas pela ministra da Agricultura, Kátia Abreu, que em reiteradas vezes expressou seu desejo por uma rápida conclusão das negociações que permitirão ao país aumentar em 20% suas exportações agrícolas.

No entanto, apesar da pressão do setor agrícola brasileiro para acelerar as negociações, a Argentina tinha se mostrado com uma postura mais protecionista com a presidente anterior, Cristina Kirchner; mas, de acordo com vários analistas brasileiros, essa situação pode mudar com Macri.

A entrega da proposta sul-americana estava prevista para este fim de ano sem uma data definida, mas esse prazo poderia estender-se para 2016 segundo o ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro, que justificou o adiamento precisamente pelas eleições argentinas.

"Agora há um entendimento conceitual e os dois países estão muito mais próximos do que estavam na época do governo Kirchner", comentou o economista e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Ernesto Lozardo.

Para o analista, "há um entendimento que é necessário abrir o mercado e a discussão de que produtos negociar para esta integração econômica e essa é uma barreira vencida com a eleição do novo presidente da Argentina".

De acordo com o especialista, que também foi secretário de Planejamento e Economia do estado de São Paulo, "o Brasil deseja isto há tempos, e durante quase dez anos carregou a Argentina em suas costas, recuando muitas vezes por culpa do vizinho".

Na opinião de Lozardo, a atual crise econômica brasileira pode, a partir de agora, ser responsável por retardar as negociações, embora as decisões passem a ser tomadas dentro de um contexto no qual há maior convergência entre os dois países.

Desde que assumiu o governo argentino no começo do mês, Macri adotou diversas medidas liberais, como sua intervenção no mercado de câmbio e a derrubada de impostos sobre a exportação de setores agrícolas, entre eles o trigo,

"Harmonizando rapidamente a política econômica no Brasil, e na Argentina também, acredito que em 2016 poderemos ter um avanço muito grande no acordo com a UE que será um sinal de progresso econômico na região", comentou o acadêmico.

A grande dúvida, no entanto, ainda é a política brasileira, que torna imprevisível a conclusão ou não do acordo no próximo ano como esperam os setores produtivos do Brasil.

O professor de Economia Internacional da Universidade Federal Fluminense (UFF) e do MBA em Comércio Exterior da FGV, André Nassif, destacou que "o cenário político brasileiro está tão sombrio que não sabemos exatamente o que pode acontecer nos próximos dois ou três meses".

Nassif indicou que existe uma natural falta de "convergência de interesse" entre os dois blocos e "isto não é uma crítica nem para um lado nem para o outro".

"É natural que países em desenvolvimento busquem uma maior liberalização em produtos em que são mais competitivos, principalmente alimentos e produtos agrícolas, e que países desenvolvidos busquem liberalização de setores em que eles, na média, são mais competitivos, como os manufaturados", apontou.

O especialista ressaltou a postura muito mais liberal do atual governo argentino com relação ao Brasil, fazendo com que Macri possa, em tese, "pressionar o Mercosul para levar o acordo adiante".

Já o professor de Economia Brasileira da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (USP), Paulo Feldman, duvida que haja um esforço da Argentina para concretizar as negociações via Mercosul, bloco integrado também por Paraguai, Uruguai e Venezuela, além da Bolívia em processo de adesão.

"Minha impressão é que Macri não vai perder muito tempo com o Mercosul. Ele nunca falou que o Mercosul era importante e anunciou que a Argentina pode entrar no Tratado Transpacífico (TPP)", concluiu.

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