Candidato opositor ficou a dois pontos do kirchnerista, sendo agora o favorito para ganhar a 22 de novembro
Foi uma derrota com sabor a vitória para Maurício Macri, o candidato da aliança opositora Cambiemos (Mudemos) à presidência argentina. O antigo presidente do clube de futebol Boca Juniors conquistou 34,3% dos votos nas eleições de domingo, ficando a apenas 2,5 pontos percentuais do rival, Daniel Scioli, que conta com o apoio da popular presidente Cristina Kirchner. Antes do escrutínio, havia quem apostasse na vitória de Scioli à primeira volta. Agora, Macri é o favorito para ganhar o duelo final de 22 de novembro.
"A palavra mudança pode ser muito atrativa, mas temos de ter uma discussão profunda sobre que tipo de mudança queremos na Argentina", disse Scioli numa conferência de imprensa ontem de manhã, no rescaldo da noite eleitoral. Foi a primeira reação oficial do candidato da Frente para a Vitória, que na véspera falou aos apoiantes reunidos no auditório Luna Park antes de serem conhecidos os resultados.
O governo tardou seis horas a divulgar os números oficiais, sem explicação, e quando o fez, com 67% dos votos contabilizados, Macri surgia dois pontos percentuais à frente de Scioli. No discurso prévio, já o candidato kirchnerista deixava antever a possibilidade da segunda volta: "Continuarei a procurar pontos de encontro para alcançar a vitória de todos os argentinos, com mais fé e esperança do que nunca." Apesar de ter dito que voltaria quando fossem conhecidos os resultados, Scioli não voltou ao auditório.
No Centro de Congressos Costa Salguero, os apoiantes de Macri faziam a festa. "O que aconteceu muda a política deste país", disse Macri, eufórico. Ontem, o chefe do governo da Cidade de Buenos Aires estendeu a mão a Sérgio Massa - o dissidente kirchnerista que ficou em terceiro lugar na primeira volta, com 21% (cinco milhões de votos). "Na próxima etapa na Argentina é preciso ser aberto ao diálogo, temos de ter consciência", afirmou Macri. "Da nossa parte, existe predisposição para levá-lo a cabo desde o primeiro dia", acrescentou.
Scioli também já anda atrás desses votos, lembrando que os eleitores da Frente Renovadora (de Massa) estão "muito mais longe de Macri" do que da Frente para a Vitória. "O problema é dele, não é nosso", afirmou, mostrando-se agora aberto a um debate com o adversário (o que recusara na primeira volta).
Histórico
Pela primeira vez, os eleitores argentinos vão eleger o futuro chefe de Estado na segunda volta - a não ser que se repita o cenário de 2003. Nesse ano, o Partido Justicialista não chegou a acordo e apresentou três candidatos - entre eles o ex-presidente Carlos Menem e o governador de Santa Cruz, Néstor Kirchner. Apesar de Menem ter ganho na primeira volta, as sondagens apontavam para uma vitória esmagadora de Kirchner na segunda, e o ex-presidente optou por desistir.
Foi o início do kirchnerismo, que continuaria em 2007 com a eleição de Cristina, mulher de Néstor (falecido em 2010). Reeleita em 2012, a presidente estava impedida de se candidatar a um terceiro mandato, apesar de uma popularidade superior a 40%. Apesar do mau resultado kirchnerista, que perdeu também o governo da província de Buenos Aires, o nome Kirchner continuará ligado ao poder - Alicia, irmã de Néstor, foi eleita governadora de Santa Cruz e Máximo, o primogénito do casal presidencial, vai ser deputado.