A polmica sobre a cerimnia de posse do presidente eleito da Argentina, Mauricio Macri, ganhou um novo captulo neste domingo (6), com comentrios da atual mandatria, Cristina Kirchner.
Em 74 mensagens no microblog Twitter em uma hora, ela disse que Macri lhe telefonou aos gritos no sbado (5).
"Devo confessar que fiquei surpresa com a exaltada, eufemismo de gritos, verborragia do presidente eleito [Macri]. Quando consegui que me deixasse falar [...] tive que lembr-lo que, alm de nossos cargos, que ele era um homem e eu, uma mulher, e que eu no merecia ser tratada daquela forma", escreveu Cristina.
Eitan Abramovich - 25.nov.2015/AFP
A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, acena para o pblico em pronunciamento em novembro
"Ele continuou gritando e dizendo que no assim, que eu tenho que esper-lo na Casa Rosada depois que ele faa o juramento e discurse no Congresso. Bem, a eu pensei: 'Acabou o amor' e lhe lembrei de trs coisas: primeiro, no sou sua acompanhante; segundo, 10 de dezembro no seu aniversrio, mas o dia em que assume como presidente de todos os argentinos; terceira, no penso em continuar tolerando em silncio, como at agora, os maus tratos pessoais e pblicos que me d."
Macri emitiu um comunicado no sbado informando que sua posse ser na Casa Rosada e que havia ligado para a presidente para informar-lhe sobre sua deciso. O eleito alega que quer receber a faixa e o basto presidenciais na Casa Rosada, como ocorreu com os ex-presidentes Ral Alfonsn (1983-89), Carlos Menem (1989-99) e Fernando de la Ra (1999-2001).
Nstor e Cristina Kirchner foram empossados no Congresso, ritual que os kirchneristas insistem em manter na posse de Macri. O impasse est atrasando a organizao da cerimnia e confundindo delegaes estrangeiras sobre onde ser a transmisso de mandato. At o momento, s foram distribudos convites para o juramento, no Congresso.
O governo diz que ser servido um almoo na chancelaria, que fica no Palcio San Martn, j os macristas dizem que o presidente eleito receber os chefes de Estado convidados na Casa Rosada.
Em seus comentrios nas redes sociais, Cristina afirma que a Constituio argentina informa que o presidente eleito recebe oficialmente o cargo no momento em que faz o juramento diante dos parlamentares.
Neste momento, argumenta Cristina, ela pretende entregar os atributos para que o sucessor assuma a Presidncia. J Macri quer recuperar a tradio de posse que existia at a chegada do kirchnerismo ao poder.
Macristas argumentam que a posse de Nstor Kirchner no Congresso, em 2003, ocorreu de maneira excepcional, pois o pas vivia um perodo poltico conturbado.
Cinco polticos passaram pela Presidncia da Argentina no fim de 2001 e Eduardo Duhalde assumiu o governo aps um acordo entre congressistas para superar o colapso econmico de ento.
Cristina manteve a cerimnia do marido, segundo os macristas, sem motivo evidente. Em seus comentrios no Twitter, Cristina afirma que Macri teria se referido ao evento como "sua cerimnia" e contou que um de seus aliados, o deputado Federico Pinedo, teria dito que a cerimnia na Casa Rosada ajudaria a dar autoridade ao presidente eleito.
"Imagem de autoridades? Mas se o acabam de eleg-lo com 51% dos votos... est bem, 49% no o votaram, mas a democracia assim, se ganha ou se perde por um voto", escreveu Cristina, lembrando que o marido assumiu a presidncia com 22% dos votos, aps a desistncia de Carlos Menem de concorrer no segundo turno.
"A autoridade no se conquista em uma cerimnia de transmisso de mandato e muito menos gritando-se a uma mulher ao telefone", postou a presidente.
PASSAGEM
O bate-boca sugere que Cristina no dever entregar a faixa a Macri, caso o eleito insista no evento na Casa Rosada. Em entrevista apresentadora Mirtha Legrand, neste sbado (5) noite, Macri disse que, em caso de ausncia de Cristina, poderia receber a faixa e o basto presidenciais das mos do presidente da Suprema Corte, Ricardo Lorenzetti.
Pelo Twitter, Cristina demonstrou desacordo. "Alm do disposto na Constituio Nacional, o ato de transmisso de mandato, por simples compreenso de texto, exige a presena de duas pessoas: a que entrega o mandato e a que a recebe", escreveu ela. "No se trata de uma cerimnia de ningum em especial, mas sim de um ato institucional".
A presidente disse ainda que tem pressa para terminar o evento, pois pretende voar no mesmo dia para Ro Gallegos, capital da provncia de Santa Cruz, de onde vieram os kirchner e onde assumir como governadora sua cunhada, Alicia Kirchner.
"O voo regular das Aerolneas Argentinas para Ro Gallegos no vai me esperar", escreveu Cristina, fazendo referncia ao fato de que deixar de usar o avio presidencial Tango 01. "Quero estar no juramento de Alicia Kirchner como governadora, j que ela atrasou sua posse para as 20h para eu pudesse participar."
Cristina disse que, como "um gesto de cordialidade", tinha mandado plantar flores amarelas nos canteiros da residncia oficial de Olivos. "Amarelo a cor favorita do presidente eleito", disse Cristina, num comentrio que soou um tanto sarcstico.
Macri usa o amarelo para identificar lixeiras, bicicletas, placas e outros investimentos de sua gesto na capital Buenos Aires, o que criticado por seus opositores. Com o comentrio, Cristina postou uma foto do canteiro de flores de Olivos.
"Ficaram muito lindas e em algumas semanas vo parecer ainda melhores, quando floresam com todo seu esplendor", escreveu a presidente.
RESPOSTA
Os comentrios da presidente na rede social tiveram repercusso imediata. A vice-presidente de Macri, Gabriela Michetti, defendeu o poltico tambm pelo Twitter.
"D pena ter que responder os tutes da senhora presidente porque triste que ela falte verdade", escreveu Michetti. "Mauricio Macri no um homem que falte ao respeito com ningum. uma pessoa muito educada, a quem nunca escutamos subir o tom de voz".
A vice-presidente, que tambm cadeirante, reafirmou que a cerimnia ser na Casa Rosada e que se Cristina no aparecer, a faixa e o basto presidenciais sero entregues pelo presidente da Suprema Corte.
" lamentvel que tenhamos esse problema quando existem tantas coisas importantes com as quais temos que nos ocupar no pas".
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