A comparação é rasteira, mas é a primeira que vem à cabeça quando se coloca no papel o que acontece na Liga dos Campeões da Europa e a nossa Copa Libertadores da América.
Daqui a pouco chegarei a essa comparação, se houver essa possibilidade.
Da Libertadores vi o nascimento quando empresários, comerciantes ligados ao futebol notadamente uruguaios, argentinos e alguns chilenos se reuniram na sede da Confederação Sul-Americana de Futebol que ficava numa salinha escondido e difícil de ser localizada no estádio Nacional de Lima, no Peru.
Empresário de futebol hoje é quem aplica seu dinheiro no mesmo, seja emprestando aos clubes, seja adquirindo ou simplesmente bancando com seu dinheiro a transferência de jogadores.
Naquele tempo eram os homens que organizavam os roteiros das equipes que viajavam principalmente pelo Continente americano e do Brasil, sendo Santos, Palmeiras, São Paulo e Botafogo eram seus clientes principais.
Julgaram que iriam perder um bom naco de seu ganha-pão, mas mesmo assim não tiveram meios de combater a iniciativa modernizante.
O presidente da Sul-Americana era o peruano Teófilo Salinas e ainda não havia sido elaborada a pouco expressiva sigla Conmebol, como hoje é conhecida.
Depois a organização cresceu, mudou-se para o Paraguai e por uma questão de conveniência os grandes do futebol no Continente, Brasil e Argentina e Uruguai resolveram que continuasse na mão de um dos pequenos.
Assim foi o Paraguai que sediou a entidade, construiu-se uma sede própria em Luque, na região de Assunção e no melhor estilo das velhas dinastias oriundas da Sicília ou Palermo escolheu-se um, digamos, sub-poderoso chefão.
O sub não impediu que Nicolas Leóz tomasse assento na presidência e dela jamais se afastasse.
Nesse caminho chegou ao status de milionário, tal qual Grandona, Havelange ou Teixeira.
O paraguaio Leóz foi aquele que aceitou seguir pretensões ingleses contra Joseph Blatter, numa possível reconquista da FIFA desprezando o dinheiro oferecido, mas dando seu voto desde que recebesse em contrapartida e humildemente uma comenda que lhe conferisse o título de Sir da monarquia britânica.
Teófilo Salinas, o peruano fundador, não viveu para tanto, mas é inegável que se tivesse nascido um pouco depois chegaria a fazer parte da “famiglia”, pois também era bom manipulador e tal qual Leóz sabia a quem baixar a cabeça.
Julgo conveniente fazer agora a comparação aludida no início destas mal traçadas entre os dois torneios, a Libertadores que vai começar e a europeia que entrará em sua fase de oitavas.
Desta voltaremos a ver os belos gramados, arenas de estádios modernos, com acomodações confortáveis e plenas de público no outro lado do Atlântico enquanto aqui ainda teremos soldados protegendo atletas com suas couraças metálicas para que escanteios possam ser batidos.
A Conmebol anuncia novidades para este ano e que poderão ser o início de uma possível reabilitação aos olhos do mundo.
Certos fatos como os registrados na final da última Copa Sul-Americana não serão mais aceitáveis.
Faltará ainda muito a ser feito para que o torneio sul-americano atinja a magnitude do europeu e que o planeta no seu todo se interesse em tê-lo em suas tevês.
Um aeroporto, pelo menos, a 100 km no máximo de um estádio onde haverá uma partida é só um primeiro passo, mas já é alguma coisa.
Jogos na altitude continuarão a prejudicar a quem sobe e beneficiar àqueles que fazem da mesma seu habitat.
Na fase preliminar o Brasil terá dois participantes e não vejo maiores problemas para que o São Paulo passe pelo Bolívar a quem enfrentará no dia 23 em São Paulo e no dia 30 em La Paz.
Pode fazer um placar confortável no primeiro jogo e depois jogar garantido quando sofrer os efeitos da altitude.
Tarefa um pouco mais difícil, mas também contornável a do Grêmio que se haverá contra a LDU equatoriana que sempre tem boas equipes além de contar com os efeitos da altitude de Quito.
O Grêmio irá á histórica capital equatoriana no dia 23 e decidirá em casa, em seu novo e belo estádio construído com seus esforços próprios no dia 30.
A fase de grupos da Copa Libertadores acontecerá de 6 de fevereiro a 17 de abril , seguindo-se oitavas, quartas, semifinais e finais, estas nos dias 17 e 24 de julho.
Verdade mesmo? A Libertadores começará para valer a partir de 24 de abril quando serão iniciadas as oitavas e restarão somente 16 agremiações com uma faxina razoável que eliminará equipes sem maior consistência técnica.
No mês de junho o torneio será interrompido pela realização da Copa das Confederações no Brasil.
Os representantes brasileiros este ano na Libertadores serão o Corinthians, atual campeão da Copa, Fluminense, campeão brasileiro, Palmeiras, vencedor da Copa do Brasil além de Atlético Mineiro, vice do país, Grêmio, terceiro do país e São Paulo, quarto colocado do BR/12.
Estes dois últimos como já escrevemos terão que disputar jogos de qualificação para os quais, repito, são favoritos.
Favoritismo muito afeito ao respeito que devem prestar aos adversários e adversidades.
A partir daí as equipes serão divididas em 8 grupos de 4 equipes cada jogando em ida e volta e com definição de qualificados onde se somarão os execráveis gols marcados em maior quantia no território adversário.
Não é fácil apontar nesta fase os clubes mais qualificados, mas geralmente os de maior experiência e títulos conquistados seguem em frente.
O Grupo 1 não tem brasileiros: Barcelona, de Guayaquil, Equador; Nacional do Uruguai, Boca Juniors, argentino e Toluca, mexicano, são os componentes.
O Boca é favorito, o Nacional de há muito vive do nome, o futebol mexicano não tem em seus clubes a mesma ação progressiva de sua seleção e o Barcelona equatoriano de grande time só tem o nome.
No Grupo 2 caiu o Palmeiras, o mais fraco dos brasileiros na atualidade e que foi dos primeiros do país a compor a vanguarda dessa Copa quando a mesma nasceu embora só a tenha conquistado 39 anos depois.
É incrível, mas nesse momento depressivo que atravessa, o Palmeiras caiu num grupo fácil onde se contasse com alguma qualidade em sua equipe passaria fácil.
Sporting Cristal, do Peru, Libertad do Paraguai; o vencedor entre Tigre, argentino e Deportivo Anzoátegui da Venezuela são os outros componentes.
A possível presença do Tigre já é mostra suficiente do que se reserva ao grupo.
O Tigre é uma equipe fraca tecnicamente e que tenta se valer de aspectos que deveriam estar mortos e sepultados num continente que se rivalizava com o europeu nas conquistas de seus maiores.
As recentes disputas dessa equipe argentina, o Tigre, nas finais da Copa Sul-Americana diante do São Paulo evidenciaram que se futebol ele não possui seus pontapés são dos mais doidos e sua indisciplina a sua maior arma.
É o remanescente de uma fase incipiente do futebol sul-americano que não mais se pode suportar embora tenha ainda muitos seguidores.
Prognóstico é impossível nesse grupo que é uma verdadeira sopa de restos de geladeira onde sempre pode haver um condimento que dê um sabor mais sensível à geleia geral.
Sinceramente não vejo favoritismo de ninguém.
O Grupo 3 trás o Arsenal argentino, o The Strongest boliviano, o Atlético Mineiro e o vencedor de São Paulo e Bolívar.
Não é preciso conhecer mais profundamente a qualidade das equipes para atestar que os dois brasileiros são os melhores do grupo.
O 4 também não conta com nossos patrícios: Velez Sarsfield, argentino; Peñarol uruguaio; Emelec equatoriano e o vencedor dos jogos entre Deportivo Iqueque, chileno e Leon, mexicano, o compõe.
O Peñarol é outro que vive de suas tradições, mesmo assim nesse grupo tem que estar colocado entre os favoritos junto ao Velez, argentino, que muito tem progredido.
O grupo 5 trás Corinthians, San José da Bolívia, Millionários, da Colombia e Tijuana, do México.
O Corinthians é favorito e hoje, com o cartel adquirido de campeão do mundo não deverá ter nenhum Tolima à sua frente.
Para acompanhá-lo opto pelo Millionários.
No Grupo 6 também não teremos brasileiros: Independiente Santa Fé, de Bogotá, Colômbia; Cerro Portenho, do Paraguai; Real Garcilaso, do Peru e vencedor de Tolima, olha o Tolima ai, gente! e Universidad de Lima, Peru.
Não vi nenhum desses clubes com nomes esquisitos e novidades na competição mostrar nada de bom em ocasiões anteriores.
Esse grupo é dos mais fracos e destaca-se o Independiente e o Cerro, mas tudo pode acontecer.
O Grupo 7 tem Deportivo Lara, da Venezuela; Universidad do Chile; Newell`s Old Boys, de Rosário, Argentina e o vencedor de Olímpia do Paraguai e Defensor do Uruguai.
Coloco minhas fichas na equipe chilena e no ainda dependente de classificação Olímpia, paraguaio.
Finalmente no grupo 8 estará o Fluminense na companhia de Huachipato, do Chile, Caracas da Venezuela e o vencedor de Grêmio Portoalegrense e LDU do Equador.
Mesmo considerando que o Grêmio terá dificuldades contra a equipe de Quito considero que estará nas oitavas na companhia do Fluminense, que é franco favorito do grupo.
Como tudo isto foi escrito olhando pelo retrovisor é bom desconfiar um pouco, ou melhor, é bom desconfiar muito.
Prognósticos são prognósticos e futebol, mesmo o de baixa qualidade como deve ser esse da etapa de grupos de Libertadores ainda é futebol.
Proximamente faremos um estudo igual com a fase de oitavas de final do certame de campeões europeus.
(Flávio Araújo)