Morreu o diretor, ator e cantor argentino Leonardo Favio, reconhecido como um dos maiores cineastas de seu país. Depois de sofrer por anos por conta de uma pneumonia, ele sucumbiu à doença nesta segunda (5/11), aos 74 anos. Favio não fazia aparições públicas desde agosto, quando realizou uma cirurgia, e estava há dias internado em um hospital em Buenos Aires, acompanhado daquilo que mais amava: familiares, amigos e música. “A música me permite viver com dignidade”, disse ele certa vez em uma entrevista. No entanto, seu maior reconhecimento veio graças a outra paixão, o cinema.
Ele nasceu Fuad Jorge Jury em 28 de maio de 1938 na província argentina de Mendoza. Passou por uma infância conturbada, inclusive tendo uma passagem pela prisão, mas começou a se encontrar no teatro. O início de sua carreira artística se deu no rádio, como ator, e ele seguiu para se tornar um cantor e compositor de sucesso, inserindo-se na onda das baladas românticas argentinas dos anos 1960 e 1970. Com 25 discos lançados, Favio emplacou sucessos como “Fuiste Mía un Veráno” (Foste minha um verão) e “Ella ya Me Olvidó” (Ela já me esqueceu).
Leonardo Favio cantor
O artista foi para Buenos Aires para se iniciar na música, e na capital argentina também descobriu outra área de interesse: o cinema. Começou trabalhando como ator, em filmes como “El Ángel de España” (1957) e “En la Ardiente Oscuridad” (1958), e se viu encantado com as possibilidades criativas do novo meio. Logo passou a escrevendo roteiros, e seus primeiros filmes foram os curtas-metragens “El Señor Fernández” (1958) e “El Amigo” (1960). Até se sentir confiante o suficiente para dirigir seus próprios textos.
Sua estreia na direção de um longa-metragem foi com “Crónica de un Niño Solo” (1965), que ele próprio escreveu, e em seguida realizou “El Romance del Aniceto y de la Francisca” (1967), outro texto de sua autoria. Estas duas obras são tidas pela crítica argentina como os melhores filmes já feitos no país. Em todos os tempos.
Crónica de un Niño Solo
Favio também figurou em premiações de cinema, ganhando um prêmio de melhor roteiro da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas da Argentina por seu último filme, “Aniceto” (2008), refilmagem de “El romance del Aniceto y de la Francista”. Por seu trabalho como diretor e roteirista, ele também ganhou quatro Condores de Prata da Associação dos Críticos de Cinema da Argentina e foi laureado no Festival de Cinema de Mar del Plata e no Festival Internacional de Cinema de Moscou.
Além de ser considerado o mais importante cineasta da história do país, Favio era reconhecido também pelo grande sucesso de público. Seu “Nazareno Cruz e o Lobo” (1975), inspirado em “O Lobisomem” (1941), foi assistido por mais de 3,5 milhões de espectadores na Argentina, até hoje o recorde de público para um filme do país. No entanto, depois de “Soñar, Soñar” (1976), o cineasta ficou muitos anos sem dirigir outra produção cinematográfica. Culpa da política.
Nazareno Cruz e o Lobo
Seguidor fiel do peronismo, Favio se exilou em 1976, quando a junta militar realizou o golpe de Estado que tirou do poder a então presidente María Estela “Isabelita” Perón, viúva de Juan Domingo Perón. A ditadura militar durou até 1983, mas Favio só voltou à Argentina em 1987. Ao retornar, retomou a carreira com o premiado “Gatica, o Macaco” (1993). Ele também realizou “Perón, Sinfonia do Sentimento” (1999), um documentário de quase 6 horas de duração sobre o peronismo e sobre a vida de seu ídolo político Juan Domingo Perón.
Reconhecendo a importância da figura de Favio na Argentina, a atual presidente do país, Cristina Kirchner, o nomeou Embaixador da Cultura em 9 de outubro de 2010. Leonardo Favio era casado com Maria Vaner e tinha dois filhos, sendo um deles o compositor Nico Jury.
Dirigindo cena de Aniceto
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