Kuñá Pyrendá, uma plataforma feminina em busca do poder no …

Assunção, 28 out (EFE).- Encorajadas pelos exemplos da Argentina e do Brasil, as integrantes do movimento Kuñá Pyrendá apostam em uma lista exclusivamente feminina para a eleições de 2013 no Paraguai, onde as mulheres quase não ocupam postos no poder.
Kuñá Pyrendá (Plataforma de Mulheres, em guarani) se lançou ao mundo da política em março deste ano, e conseguiu, no último dia 11, o registro no Tribunal Superior de Justiça Eleitoral.
À frente do movimento estão Lilián Soto, ex-ministra da Função Pública do governo de Fernando Lugo, e Magui Balbuena, dirigente da Conamuri, uma organização de trabalhadoras rurais e indígenas.
Casos como o de Michele Bachelet, no Chile, e das três mulheres que agora governam a Argentina, o Brasil e a Costa Rica, "geram um cenário internacional, regional e propício, porque já não se vê como algo impossível que as mulheres exerçam papéis importantes em nossos países", disse Lilian em entrevista à Agência Efe.
A dupla Lilían-Magui, candidatas à Presidência e Vice-Presidência do Paraguai, respectivamente, medirá forças no pleito de 21 de abril de 2013 com os dois grandes tradicionais partidos - Liberal e Colorado - e outros como Unace, Pátria Querida e os grupos de esquerda que há pouco formavam a Frente Guasú.
"Nossa aposta é que, em 2013, o Paraguai possa ser liderado por mulheres com consciência clara da necessidade de igualdade", acrescentou Lilián, que não descartou futuras conversas com os partidos da Frente Guasú, pois a sua plataforma também é "socialista-feminista".
A violência doméstica, o tráfico de mulheres para prostituição e a falta de políticas de co-responsabilidade familiar são, segundo Lilán, os principais problemas da mulher paraguaia em uma sociedade ainda muito tradicionalista.
O peso demográfico da mulher em uma nação que ficou dizimada pela Guerra da Tríplice Aliança (1865-1870), sua maior expectativa de vida e sua incorporação ao mercado de trabalho fazem com que muitas famílias tenham "chefia feminina": são 28%, segundo dados oficiais de 2008.
A taxa de fecundidade caiu, notavelmente, de 4,3 filhos por mulher em 1995 a 2,5 em 2008, mais ainda se mantém alta, particularmente entre as adolescentes, com 63 nascimentos a cada mil meninas.
Porém, a mulher paraguaia ocupa apenas 12% das cadeiras no legislativo e 28 postos ministeriais, além de ser quase invisível à frente das grandes empresas do país.
"Queremos a metade do céu, a metade da terra e a metade do poder", reivindica uma integrante do movimento, na sede da Kuñá Pyrendá, um casarão antigo de cor rosa no centro de Assunção.
Solteira e sem filhos, Lilián se formou em Medicina em 1998, mas saltou à política já em 1992, como vereadora em Assunção.
Magui, por sua vez, começou a se interessar por política em 1971, em plena ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989), como membro da Juventude Agrária Católica, e lembra que as mulheres tinham uma participação "ínfima" e nenhum protagonismo.
Solteira, com dois filhos e dois netos, em 2000 fundou a Conamuri que, como relatou, custou "ser aceita (como organização) pelo profundo machismo e predominância de um sistema patriarcal no país".
Para Magui, a mulher rural enfrenta problemas como gravidezes complicadas por conta da contaminação do meio ambiente, "devido ao modelo de monoculturas que se aplica no país, como a soja", aos agentes tóxicos e às sementes transgênicas empregadas no campo.
Para ela, "seria muito importante que as mulheres lutem contra essa submissão, contra viver sem voz, por assim dizer, viver atrás de uma porta onde ninguém te escuta e nem te vê. É o momento das mulheres lutarem pelo poder".
"Acho que é o momento das mulheres", corroborou Lilián, reiterando o lema do partido. "Nossa política já teve agressão o suficiente, um tempo no qual a cultura política que se desenvolveu foi uma cultura baseada no confronto, baseada talvez, em muita testosterona", concluiu. EFE
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(vídeo) (foto)

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