A deterioração do ambiente econômico na Argentina aumenta a insatisfação de grupos brasileiros com negócios no país. As incertezas decorrentes de medidas protecionistas, pressões inflacionárias, restrições cambiais e limitações à remessa de dividendos ao exterior começam a asfixiar a disposição de investir no vizinho. A suspensão do projeto Rio Colorado pela Vale
, anunciada em 11 de março, pode ser apenas a ponta de um iceberg de problemas.
Para especialistas, o movimento da mineradora só não causou um efeito dominó porque são poucos os grupos com cacife para deixar para trás investimentos já realizados. A insegurança jurídica torna a venda de ativos no país mais difícil e restrita a compradores ligados ao governo de Cristina Kirchner.
"O problema passa também por como sair de lá. Não basta vender, é preciso tirar o dinheiro", diz José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
A lista de companhias nacionais com projetos na Argentina inclui pesos pesados como Ambev, Vulcabrás, Petrobras, América Latina Logística (ALL), Odebrecht, Votorantim, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa - que, além da construtora, está presente no país com a Alpargatas e a cimenteira Loma Negra, subsidiária argentina que teve queda de 48% no lucro registrado em 2012.
Especializado em assessorar investidores estrangeiros, o advogado argentino Roberto Bauzá conta que a solução para as companhias tem sido segurar investimentos ou reinvestir na própria Argentina. "A pergunta é quando vão se cansar", diz.
Carol Monteiro de Carvalho, sócia do Bichara, Barata Costa Advogados, comenta que há consultas sobre o encerramento de operações na Argentina e o Uruguai começa a despontar como alternativa para o setor privado brasileiro no Mercosul.
Reinvestimento
A solução de reinvestir está em estudo pela brasileira Coteminas, dona de marcas de artigos de cama, mesa e banho. Em 2012, a empresa ampliou sua fábrica têxtil na província de Santiago Del Estero e quase dobrou as vendas no país. Agora, pensa em investir cerca de US$ 40 milhões em uma nova fiação.
"O problema cambial é uma restrição muito difícil. Uma das formas de contorná-la é reinvestindo os ganhos no país", diz o presidente da Coteminas, Josué Gomes da Silva. O empresário admite que o problema das remessas "não é trivial", mas diz que continua obtendo uma boa margem para seus produtos.
O presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais (Sobeet), Luís Afonso Lima, também reconhece a dificuldade enfrentada pelas companhias brasileiras. "Essa situação infelizmente está se consolidando. Ultimamente, temos ouvido muitas empresas reclamarem de dificuldades", revelou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.