(SÃO PAULO) – O crescente infortúnio econômico da Argentina não está dissuadindo os investidores em bonds.
As notas externas do país deram um salto de 4,3 por cento neste mês, em comparação com uma perda de preço média de 0,2 por cento nos mercados emergentes. Seus US$ 4 bilhões em bonds denominados em dólares com vencimento em 2033, emitidos na reestruturação da dívida há uma década, subiram para US$ 1,07 por dólar, o valor mais alto desde 2007.
O rali reflete como as baixas reservas de moeda estrangeira e a crescente inflação da Argentina estão assumindo um papel secundário, pois os investidores acreditam que o vencedor da eleição presidencial de outubro acabará com a disputa com credores, que está em andamento há uma década, e tirará o país do calote. As reservas da segunda maior economia da América do Sul beiram o valor mais baixo desde 2006, ao passo que os aumentos anuais dos preços superam 27 por cento, estimam os economistas.
“Ninguém se importa com o fato de que as reservas estejam mais baixas, com que a inflação esteja mais alta nem com nada – ninguém se importa”, disse Alejandro Bueno, diretor mundial de traders da BancTrust Co., em entrevista por telefone, de Buenos Aires. “Claramente, há muitas expectativas para o novo governo, e as pessoas estão estimando-as nos preços dos bonds”.
Otimismo
Os investidores estão otimistas de que o sucessor da presidente Cristina Kirchner desfaça políticas econômicas que vêm alimentando a inflação, paralisando o crescimento econômico e impedindo que o país arrecade dinheiro no exterior durante os oito anos de administração dela. O juiz distrital dos EUA Thomas Griesa proibiu o país de honrar sua dívida externa enquanto o governo não chegar a um acordo com credores de títulos não reestruturados (holdouts) do calote de 2001.
Cristina, que chama os investidores de “urubus”, se recusou a acatar o veredicto em 2014, empurrando a Argentina para um calote pela segunda vez em 13 anos.
As pesquisas mostram que Daniel Scioli é o favorito para se tornar o próximo presidente do país. Seu assessor Miguel Bein disse em uma entrevista no dia 2 de setembro que um novo governo teria que negociar com os credores, liderados pelo hedge fund Elliott Management. Scioli é o candidato do partido governante e foi vice-presidente do marido de Cristina, o falecido Néstor Kichner.
Mauricio Macri, o principal candidato de oposição, também disse que ele negociaria para terminar com o impasse.
Agustín Honig, diretor de vendas e trading da AdCap Securities em Buenos Aires, disse que os ganhos nos bonds da Argentina provavelmente vão começar a desacelerar.
“Nesses patamares, muitas das expectativas de mudança após as eleições já foram contabilizadas”, disse ele, por e-mail. “Ainda resta muito crescimento, mas temos que começar a ver algumas mudanças concretas”.
Por Katia Porzecanski
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