A suspensão dos embarques de trigo da safra argentina 2012/2013 até 15 de dezembro e a intenção do governo de Cristina Kirchner de reduzir entre 5% a 10% as licenças de exportações do grão deverão aumentar a tendência de elevações nos preços da farinha e do pão no Estado ainda neste mês. A provável redução das importações da Argentina preocupa as indústrias tritícolas e de panificação gaúchas, que contavam com o produto do país vizinho para suprir a queda na produção de trigo no Estado na última safra.
Conforme José Antoniazzi, presidente do Sindicato da Indústria do Trigo do Rio Grande do Sul, o Brasil consome anualmente 10,5 milhões de toneladas do cereal. Com a frustração de safra no Rio Grande do Sul, causada pelas intempéries climáticas, e a redução de plantio no Paraná, onde os produtores optaram pelo milho, o País deve colher apenas 3 milhões de toneladas com condições para transformação em farinha. “O Paraguai e o Uruguai podem suprir 1,5 milhão de toneladas. Mas o resto viria da Argentina”, explica Antoniazzi.
Oficialmente, os argentinos afirmam que irão exportar 6 milhões de toneladas de uma safra de 11 milhões de toneladas do grão. No entanto, o governo iniciou negociações para autorizar apenas 4,5 milhões para venda no mercado externo. “Com isso vai faltar trigo para as indústrias brasileiras”, afirma Antoniazzi. Segundo o dirigente, os moinhos nacionais serão forçados a importar o produto dos Estados Unidos, que é mais caro. “Enquanto o trigo argentino custa US$ 425,00 a toneladas, o americano chega a US$ 500,00”.
O custo mais elevado deverá se refletir no preço do pão. Segundo Arildo Bennech Oliveira, presidente do Sindicato das Indústrias de Panificação do Estado (Sindipan), o produto deve ficar de 10% a 20% mais caro em dezembro. “Se houver um novo aumento no custo da farinha em torno de 20% em janeiro, então o pão deverá encarecer mais 10% no próximo mês também”, declara.
Para tentar combater a elevação da farinha, as indústrias panificadoras solicitaram na semana passada, ao governo federal, a redução do imposto de 10% cobrado pelo trigo de fora do Mercosul, assim como da taxa de frete de 25% da marinha mercante. “Esperamos que o governo atenda a esse pedido logo. Hoje o quadro do setor é muito preocupante, pois se não forem liberados em breve os embarques da Argentina, faltará trigo em janeiro”, declara Oliveira.
Segundo Hamilton Jardim, presidente da Comissão de Trigo da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), o Brasil deverá gastar US$ 2,5 bilhões com importação de trigo para suprir a necessidade nacional do grão. “Estamos sangrando os cofres públicos por não termos uma política definida para a triticultura.” Jardim estima que o Estado deve colher 1,85 milhão de toneladas de trigo, das quais apenas 550 mil toneladas terão qualidade suficiente para atender à indústria moageira, devido às perdas sofridas com as intempéries climáticas de agosto e setembro.
No entanto, o presidente da comissão acredita que, com incentivo governamental, o Estado poderia aumentar sua produção e atender à demanda nacional. “Nós plantamos apenas um milhão de hectares de trigo. Mas temos potencial para ocupar 1,8 milhão de hectares e colher até 5,4 milhão de toneladas. Em condições favoráveis, o Rio Grande do Sul e o Paraná poderiam atender a toda a necessidade da indústria nacional.”