Gustavo Nielsen lança seu primeiro livro no Brasil

María Silvia López Coda/Divulgação/JC

Nielsen é escritor, desenhista e arquiteto

Visitante da Feira do Livro há 15 anos, o argentino Gustavo Nielsen, veio, pela primeira vez, lançar a sua obra no Brasil. Conhecido por seus contos e romances, sempre muito ligados à questões imagéticas, ele falou com o público às 19h desta sexta-feira (2). Em uma conversa descontraída, o evento se passou na sala dos Jacarandás, no Memorial do Rio Grande do Sul, e teve a presença de Lélia Almeida.

Nascido em Buenos Aires, Nielsen recém completou 50 anos. O livro que lança aqui, A outra praia (Dublinense), lhe rendeu um prêmio Clarín, na categoria romance, em 2010. Quando perguntado sobre a sensação da obra internacional, Nielsen não esconde o sorriso e nem a modéstia: “Me sinto muito bem.” Apesar de reconhecer que a tradução seja problemática e desfavoreça, em parte, o tom urdido da obra. “Mas em qualquer país há isso. O espanhol não é o mesmo no México, na Argentina e no Uruguai”, brinca.

Além de escritor, ele também é arquiteto e desenhista. Foi nesse limiar das letras e imagens que iniciou sua trajetória. “Comecei a escrever aos 13 anos, e nessa idade me sentia um romancista, o que é terrível”, diz. Ele afirma que insistiu na arquitetura, porque já era escritor e sempre o seria. Mas vê nas duas profissões uma relação muito próxima: “O desenho tem uma conexão especial com a arquitetura, um arquiteto vive rabiscando, inclusive como modo de dialogar com os outros.”

Nielsen possui um estúdio na Argentina, onde recebe pessoas do mundo inteiro. “Muitas vezes acontece que o idioma não serve para nos comunicarmos. No entanto, o desenho é universal, todo mundo entende”, comenta. Para ele, a imagem é tão transmissora de linguagem, quanto a palavra. Porém é quando escreve que se sente livre.

Neste seu último romance, o desenho e a escrita se conectam. “Essa história surgiu com uma série de rabiscos. Era uma chuva caindo sobre o mar, em preto e branco”, ele explica que pintou isso em painéis que sobraram de uma construção. “No começo. Não sabia qual era o significado, apenas desenhava”, ele narra. A obra está permeada de sentimentos fortes, entre eles o medo da morte e da perda da memória, como explica o autor.

Contudo, Nielsen gosta de ser dramático e persuasivo. Ele acredita que o texto deve causar alguma mudança no leitor: “Escrever, de certa maneira, é um ato de manipulação. E eu gosto quando esse mecanismo funciona.” Ele esclarece que se importa muito com a crítica de seu público e que escreve com a finalidade de se comunicar.

“Gosto que meus livros e obras arquitetônicas sejam tão bons para os receptores, que eles possam construir outras coisas, como um veículo de ampliação da cultura. Por isso, gosto quando querem fazer filmes dos meus textos”, revela Nielsen. Ele sustenta que a boa história é aquela que capta as pessoas sem a necessidade de sequestra-las. 

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