Gustavo Nielsen é destaque no dia da América Latina na Feira do …

Arquiteto, artista plástico, escritor, blogueiro y otras cositas más. O escritor argentino, nascido em Buenos Aires, Gustavo Nielsen, 50 anos, tem no bom humor uma das suas principais características. Ele mesmo desenha as capas dos seus livros e o blog Milanesa Con Papas é uma diversão só com fotos e textos engraçados e sérios, alternadamente.

O autor traz para a 58ª Feira do Livro de Porto Alegre o livro “A Outra Praia”, vencedor do Prêmio Clarín de Romance 2010, com tradução de Henrique Schneider, em edição da gaúcha Dublinense. O livro será autografado nesta sexta, às 20h, no Memorial do Rio Grande do Sul, logo após a participação na mesa “Literatura do Sul – Estética e Cenário”, prevista para as 19h, com Lélia Almeida, e mediação do escritor e amigo Henrique Schneider.

Sobre o livro, a sinopse diz que o personagem principal Antonio não ama mais sua mulher e a única coisa que o excita é a fotografia – seja observando imagens de desconhecidos e especulando sobre a vida deles, seja com sua própria câmera. Um dia, foca a atenção em uma jovem desconhecida e a fotografa sem parar. A moça misteriosa se torna uma obsessão e o ponto de partida de uma jornada na qual uma casa na praia, um escritor de livros de terror e o enigma eterno da morte terão um papel decisivo.

Sobre a obra, a jornalista e escritora espanhola Rosa Montero, disse: “Um romance muito original, sutil, comovente. Magnificamente construída, a surpreendente história vai revelando seus mistérios à medida que se avança a leitura. Possui esse encanto irresistível dos bons espetáculos de magia”. Em entrevista ao Correio do Povo, Nielsen fala do livro, do que o encanta na literatura, sobre seus outros romances e sobre a situação da América Latina, que é dia temático da Feira do Livro nesta sexta.

Correio do Povo – Nos seus livros, parece que o escritor mergulha profundamente no tema para descrevê-lo, como é o caso da fotografia que conduz a narrativa de “A Outra Praia”. Como é este processo de imersão?
Gustavo Nielsen –
Sempre foi assim é uma imersão de um ano ou dois, em que sei absolutamente tudo sobre aquele tema, como um expert, mas depois parece que tudo se apaga. Quando estava escrevendo “El Corazón de Dolly”,eu abordei a clonagem e falava de igual para igual com a gente de biogenética e sempre que me pediam opiniões sobre clonagem eu as dava. Após terminar e publicar o livro, era como se eu não soubesse mais nada. Quando escrevi “A Outra Praia” dominava o tema fotografia. Trabalhei com revelador e fixador em laboratório. Hoje não sei mexer direito na máquina digital. Penso que são saberes inúteis que vem e vão.

CP – “A Outra Praia” parece dois livros, um até o capítulo 7 e outro depois, dê-nos um pouco do gostinho de desvendar a obra?
Nielsen –
Ele é dois livros. Primeiro, até o capítulo 7, temos o personagem Antonio, que parece que vai sair de casa e que fotografa obsessivamente uma moça, Lorena. Depois as histórias deles não se enquadram no tempo. A realidade está mais adiante. Os dois vivem uma outra vida, com outra família, outros filhos e amigos. Têm pontos em comum, mas não são evidentes e depois tem conexões com esta vida descrita anteriormente.

CP – O leitor não tem escolha a não ser entrar na sua proposição?
Nielsen –
Sim, pois eu considero que a literatura deve induzir. Julio Cortázar dizia que há que romper o contrato. O livro te confunde com todas aquelas imagens, personagens e descrições. Eu gosto da literatura como manipulação, que possamos conduzir o leitor e que ele se deixe levar por certas dúvidas. Como leitor me interessa a intriga, a dúvida. Não sou daqueles que lê por esforço. Para terminar o “Ulisses”, de James Joyce, precisei de um outro livro que o explicava: “Ulises – Claves de Lectura”, de Carlos Gamerro.

CP – Além de escritor, arquiteto e artista plástico, você é um blogueiro de mão cheia. Fale sobre o blog.
Nielsen –
Milanesa con Papas é como um diário. Lá estão as minhas obras como arquiteto, os meus desenhos e telas, como a que ilustra a capa de “A Outra Praia”, que é um mar que está chovendo em uma rocha que é uma ilha-habitação. Tenho mais de 200 acessos ao dia, o que é muito para um blog, uma ferramenta já um pouco antiga em relação às redes sociais.

CP – Que sabes dos autores gaúchos ou brasileiros?
Nielsen –
Conheço o casal Max Malmann e Adriana Lunardi. Zigurate, de Max, é uma grande obra. Quando vou ao Rio de Janeiro, fico na casa deles. Tem também o Henrique Schneider, meu amigo, que traduziu A Outra Praia para a Dublinense. Sou personagem de um livro dele: “A Segunda Pessoa”. Com ele me sinto muito bem, é como férias, acho que a identificação é porque ambos temos outras ocupações além da escritura, ele é advogado e eu sou arquiteto.

CP – Para finalizar, nesta sexta o dia temático é América Latina. Como você acha que está o continente atualmente?
Nielsen –
A América Latina está bem, com a maioria dos governos tentando desfazer os séculos de dominação da direita monopólica reinante e do liberalismo econômico, dos bancos e governos que enriqueceram muito à revelia da população. A presidente argentina Cristina Fernández está utilizando esta autoridade para barrar esta direita reinante. Uma das coisas boas da América Latina é que os presidentes agora têm a cara dos países. Evo Morález parece um boliviano, Hugo Chávez parece um venezuelano, Cristina parece argentina e Lula teve a cara do Brasil quando governou. É a primeira vez que há um conceito social estabelecido, à exceção do Chile.

Fonte: Luiz Gonzaga Lopes / Correio do Povo

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