Francisco não deve se envolver


Buenos Aires. A presidente Cristina Kirchner, na conversa que manteve com o papa Francisco na última segunda-feira, fez o convite formal para que ele venha à Argentina em julho, por ocasião da visita que fará ao Brasil durante a Jornada Mundial da Juventude. A amabilidade entre os chefes dos Estados Argentino e o do Vaticano chama a atenção de quem conhece o histórico de conflito entre os dois.

"Cristina está tentando tirar algum proveito da popularidade do papa. Criticá-lo agora seria suicida", analisa o cientista político Marcos Novaro, do Centro de Investigações Políticas (Cipol).

Malvinas

Um dos pedidos de Cristina ao papa foi a mediação na disputa com a Inglaterra pelas Ilhas Malvinas. Mas Novaro não acredita que o papa atenda a reivindicação. "Ele é um político habilidoso e não vai se meter nesta confusão", disse.

No ano passado, o então cardeal Bergoglio realizou uma missa pelas Malvinas e afirmou: "Quantas cicatrizes, quantas famílias destruídas pela ausência definitiva ou por um retorno truncado. A pátria tem que se lembrar de todos eles".

Qualquer coincidência da declaração dele com a agenda política do governo argentino se encerra aí. Temas como direitos civis e de minorias são prioritários na pauta de Cristina. No Congresso Argentino, tramita um projeto de novo código civil e, em 2012, foram aprovadas leis garantindo o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a mudança de gênero.

Enquanto cardeal, Bergoglio foi muito crítico a estas questões e não se espera mudanças profundas na Igreja em temas como divórcio, aborto ou casamento de pessoas do mesmo sexo.

Novaro acredita que na direção contrária pode haver um sacrifício desta agenda por parte do governo. "O kirchnerismo excluiu a Igreja do debate e agora não pode mais excluir", aposta. O advogado Andrés Prietro, que conviveu com Bergoglio na Igreja desde criança, sabe das convicções do papa, mas acha que algum avanço é possível. (MM)

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