Depois das negociações diplomáticas, é a vez de o conselho de administração da petrolífera Repsol decidir nesta quarta-feira se aceita pôr um ponto final no conflito aberto na sequência da nacionalização da companhia argentina YPF, onde era accionista maioritária até Abril do ano passado.
Se o cenário se concretizar — dando seguimento a um princípio de acordo alcançado em Buenos Aires entre os governos de Espanha, Argentina e México —, a Repsol deverá receber uma compensação de 5000 milhões de dólares (perto de 3700 milhões de euros) pela participação de 51% que detinha na YPF até ao momento da nacionalização. Essa era, segundo o jornal El País, uma das condições do acordo. Mas, para isso, a Repsol terá de abdicar das acções judiciais que colocou para contestar a expropriação da petrolífera.
Não é conhecido o sentido de voto dos 16 membros do conselho de administração da Repsol, mas, segundo as informações recolhidas pela imprensa espanhola, tudo aponta para que o acordo receba luz verde. Os governos da Argentina, Espanha e México chegaram a um princípio de acordo prevendo uma compensação a receber pela Repsol e a desistência das acções judiciais em curso. E nenhum sinal em contrário foi dado pela empresa espanhola, que em comunicado disse que esse documento será submetido “à consideração” dos 16 membros do conselho, que vão decidir nesta quarta-feira o que consideram “conveniente no exclusivo interesse da companhia e dos seus accionistas”. O pré-acordo foi bem recebido no mercado de acções, com a cotação da Repsol a valorizar na Bolsa de Madrid mais de 4%, para 19,24 euros.
A YPF passou no ano passado a ser controlada em 51% do capital pelo Estado argentino e províncias, depois de o Governo de Cristina Kirchner fazer aprovar no Parlamento a expropriação das acções que a Repsol detinha no grupo petrolífero. Num processo que gerou tensão diplomática entre Espanha e Argentina, o grupo petrolífero foi declarado de “utilidade pública”, passando o Estado argentino a assumir o controlo da produção petrolífera. Com o apoio diplomático do Governo espanhol, a Repsol contestou judicialmente a decisão: primeiro, apresentando um processo contra o Estado argentino, para obrigar que fosse lançada uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) sobre o capital que detinha na YPF; depois, com uma outra acção no Centro Internacional para a Arbitragem de Diferendos relativos a Investimentos (CIADI), do Banco Mundial.
O compromisso anunciado nesta terça-feira foi fechado em Buenos Aires. Para o negociar, foi mobilizada uma delegação espanhola ao mais alto nível, com a presença do ministro da Indústria e Energia, José Manuel Soria, que terá partido para a capital argentina com garantias de que haveria fumo branco. Um dos accionistas de referência e parceiro estratégico da Repsol, com interesses nas explorações de petróleo na Argentina, é a petrolífera mexicana Pemex. Daí que, segundo o diário El País, quando o ministro espanhol da Indústria partiu para Buenos Aires já tinha discutido as condições com o seu homólogo mexicano, Pedro Joaquín Coldwell, numa visita diplomática em meados de Novembro. A base das negociações foi, de acordo o jornal Expansión, um documento escrito pelo próprio presidente da Repsol, Antonio Brufau.
Mais tarde, em Buenos Aires, esteve ausente o presidente da Repsol. Mas a empresa fez-se representar por uma extensa comitiva: o director-geral de negócios, Nemesio Fernández-Cuesta, outros responsáveis que acompanharam todo o processo da nacionalização, o presidente do grupo financeiro CaixaBank (principal accionista), Isidro Fainé, e o director-geral da Pemex, Emilio Lozoya Austin.