Filme brasileiro está na disputa pelo Oscar

Leonardo Resende
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Oscar é o prêmio de cinema mais famoso e cobiçado do mundo. Apesar de ser ignorado por muitos, que pregam não passar de um evento de cartas marcadas, este ano, o número de inscritos para a categoria de melhor filme estrangeiro chegou a 83 pré-selecionados. O número surpreende se o compararmos ao ano passado, que reuniu 76 filmes. Dentro desta leva, com o que há de melhor (ou quase) da cinematografia mundial, estreia, amanhã, nos cinemas o longa Relatos Selvagens, dirigido por Damián Szifron (do seriado Os Simuladores), selecionado para representar a Argentina na categoria e que mistura suspense, drama e comédia. Do lado de cá, o delicado Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (2014) é nosso candidato.

Com elenco comandado por Ricardo Darín, o filme hermano promete dar trabalho ao Brasil na acirrada disputa pelas indicações, já que coleciona ótimas críticas internacionais. O escolhido pelo México, Cantinflas, também chega às telonas amanhã. Estreia do diretor Sebastián del Amo, o filme é a cinebiografia do comediante mexicano Mario Moreno, que teve seu auge nos anos 1950. O título foi detonado pela crítica norte-americana, tendo percentual de aprovação de 29% no site de cinema Rotten Tomatoes.

Atrás de uma  vaga

Irã, depois do seu primeiro Oscar pelo arrebatador A Separação (2011), apresenta agora Today (2014), muito bem-recebido no Festival de Toronto deste ano. O longa é dirigido, produzido e escrito pelo renomado Seyyed Reza Mir-Karimi, aclamado pela crítica por Under the Moonlight. Today ainda não tem data de estreia marcada no Brasil.

Baseado numa história real, o suíço The Circle foi premiado no Festival de Berlim 2014. A Suíça não é indicada ao Oscar desde 1990, quando ganhou com A Viagem da Esperança, de Xavier Koller.

Gostinho de amargura já dura 15 anos

Ao assistir, ano após ano, a entrega dos prêmios da Academia, o espectador deve sentir um nó na garganta. O Brasil está ausente da disputa de melhor filme estrangeiro há 15 anos, quando concorreu com o realista Central do Brasil, de Walter Salles, em 1999, protagonizado por Fernanda Montenegro, primeira artista brasileira a ser indicada ao prêmio de melhor atriz.

O único vencedor brasileiro do Oscar é Orfeu Negro (1959), mas não vale porque foi creditado como sendo francês. O Beijo da Mulher-Aranha (1985), co-produção norte-americana, recebeu quatro indicações, mas só levou a de melhor ator para o estadunidense William Hurt.

Favela movie mais bem-sucedido do País, Cidade de Deus é o filme inteiramente brasileiro com mais indicações ao Oscar da nossa história. São quatro: melhor roteiro adaptado, melhor edição, melhor fotografia e melhor diretor. Depois de sua participação, em 2004, o Brasil nunca mais deu as caras na premiação.

Forte candidato

Ano passado, tínhamos ótimas chances de conseguir uma indicação pelo forte O Som ao Redor, de Kleber Mendonça Filho. Mas a Academia preferiu dar preferência a Bélgica, Camboja, Dinamarca, Palestina e Itália, que acabou levando.

Além da tocante película de Walter Salles, o Brasil competiu antes com os longas O Que é Isso Companheiro (1998),  O Quatrilho (1996) e O Pagador de Promessas (1963).

Esperança brasileira na disputa

Representante do Brasil este ano, o longa-metragem Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, de Daniel Ribeiro, tem charme e simpatia o suficiente para a vitrine internacional, com estreia marcada para 7 de novembro. “Acredito que seja um filme que fala de temas universais, que podem dialogar bem com o público norte-americano”, destaca o cineasta Daniel Ribeiro.

“Além disso, trata da homossexualidade, um tema que ainda hoje gera muito debate e pode atrair o interesse também”, completa. 

O filme gira em torno das descobertas de um garoto cego, que se apaixona por um novo colega da sala de aula. A entrada do jovem no cotidiano do menino mexe com a relação que ele mantém com sua melhor amiga e o leva a descobrir o primeiro amor.

Premiado em diversos festivais internacionais de cinema, o filme paulistano desbancou produções nacionais de destaque, como Tatuagem, de Hilton Lacerda; Praia do Futuro, de Karim Ainouz; e Serra Pelada, Heitor Dhalia.

Itália: grande vencedora

A Europa é a grande vencedora do Oscar de melhor filme estrangeiro, mais especificamente a Itália, com dez homenzinhos dourados, sendo quatro adquiridos pelo mestre Federico Fellini. No primeiro ano de indicação, o país ganhou por Vítimas da Tormenta (1948), de Vittorio de Sica.

Para glorificar o cinema com o clássico do neorrealismo italiano, surge Ladrões de Bicicleta (1957), também de Sica. Depois de um jejum de 15 anos, desde A Vida é Bela (1999), de Roberto Benigni, A Grande Beleza (2014), de Paolo Sorrentino, arrebatou o Oscar, Globo de Ouro, o Bafta e vários outros prêmios importantes.

Antes do filme de Sorrentino receber o troféu, a Itália estava empatada com a França, com nove estatuetas cada uma.

A França também tem papel de destaque colaborando para o cinema, principalmente com filmes como O Discreto Charme da Burguesia, de Luis Buñuel (1972), e A Noite Americana (1973), de François Truffaut. O Capelão das Galeras (1947), de Maurice Cloche, foi a primeira conquista no Oscar.

Há 20 anos, a França não leva um troféu para casa. A última indicação foi O Profeta (2010), dirigido por Jacques Audiard. 

Esse ano, a aposta francesa é o filme biográfico do estilista Yves Saint Laurent, chamado Saint Laurent, de Bertrand Bonello. A produção, contudo, tem opiniões divididas na crítica especializada.

Mas muitas surpresas podem acontecer. A Alemanha, por exemplo, era considerada favorita em 2010, com A Fita Branca, de Michael Haneke, mas o premiado longa perdeu para o argentino O Segredo de Seus Olhos.

A história do troféu

No final da década de 1920, Louis B. Mayer, diretor executivo da recém-falecida Metro Goldwyn Mayer, juntamente com um grupo formado por atores, diretores e produtores, criou um incentivo para produção de filmes. Nascia então o Academy Awards, mais conhecido como Oscar, que antes tinha o objetivo de aumentar a máquina capitalista de filmes, mas acabou virando uma das referências em avaliação do cinema.

Para o resto do mundo, o Oscar era visto com um produto exibicionista de poder instituicional, mesmo que visasse o desenvolvimento técnico.

Em 1934, as produções estrangeiras podiam aparecer entre os indicados, desde de que fossem gravadas em inglês.

Língua nativa

Oficialmente, a categoria de Melhor Filme Estrangeiro só aparece em 1957, como algo honorário, chamado de Prêmio da Academia ao Mérito. Ao contrário do que acontecia antes, os filmes deveriam ser produzidos em línguas diferentes do inglês. É um prêmio entregue anualmente desde então.

Queridinho da Argentina

 Sisudo e mal-humorado são adjetivos que combinam com os últimos personagens da filmografia de Ricardo Darín, ator e diretor argentino que é um dos destaques do filme Relatos Selvagens, que estreia amanhã. No longa que representa a Argentina, ele interpreta um engenheiro incorporado com o espírito de revolta de Michael Douglas em Um Dia de Fúria (1993), de Joel Schumacher. Os maiores sucessos do ator são Nove Rainhas (2000), O Filho da Noiva (2001), A Aura (2005), 

O Segredo de Seus Olhos (2009) e Um Conto Chinês (2011). Darín ganhou destaque da crítica internacional com o drama Nove Rainhas, mas seu grande destaque é mesmo O Segredo de Seus Olhos, que ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro. Suas últimas películas com personagens complexos também foram muito bem-recebidas pela crítica, como os longas Elefante Branco e Abutres.

Assista ao trailer de Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, de Daniel Ribeiro:

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