Por IANTHE JEANNE DUGAN
Quando um fundo de hedge de Nova York deteve um navio de treinamento naval argentino em Gana no início deste mês, atraiu a atenção internacional para um grupo de lobby que está no centro de um poderoso cabo de guerra financeiro.
Como Larry Matlack, um fazendeiro do Kansas, acabou associado com o grupo é um mistério para ele.
Matlack é presidente do Movimento Americano de Agricultura, um grupo de defesa de produtores rurais dos Estados Unidos que foi listado entre os cerca de 40 membros da Força-Tarefa Americana Argentina, cuja missão declarada é ajudar investidores a recuperar dinheiro perdido durante a moratória da dívida pública argentina de 2001 e posterior reestruturação.
Mas Matlack e alguns líderes de outros grupos que representam pecuaristas, professores e agricultores estão confusos sobre por que a força-tarefa listou suas organizações como membros "unidos por uma reconciliação justa e equitativa" da moratória argentina.
Em entrevista ao The Wall Street Journal, Matlack disse que nunca tinha ouvido falar da Força-Tarefa Americana Argentina. "Não temos nada a ver com a dívida da Argentina", disse ele.
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A fragata 'ARA Libertad' foi apreendida em Gana numa briga de investidores para recuperar perdas com a moratória
Também perplexos estão os líderes do braço no Estado do Colorado da Associação Americana de Professores Universitários, que foi listado entre os membros e simpatizantes. "Isso é absolutamente estranho para mim", diz Ray Hogler, diretor legislativo do grupo acadêmico.
Ambos os grupos foram retirados da lista depois que o WSJ alertou a força-tarefa sobre as discrepâncias.
Robert Raben, diretor-executivo da Força-Tarefa Americana Argentina, disse que o grupo lobista tem um modelo opcional de participação e todos os listados como membros em algum momento assinaram uma autorização. Raben, um ex-procurador-geral assistente do governo americano que dirige uma empresa de consultoria, disse que vai entrar em contato com os membros e atualizar a lista, se necessário.
O grupo de lobby chamou atenção na semana passada, depois que um apoiador, o fundo de hedge Elliott Management Corp., deteve o ARA Libertad, um navio de 103 metros de comprimento. Foi o esforço mais recente de uma unidade do Elliott, a NML Capital, para coletar US$ 1,6 bilhão que os tribunais dizem que a Argentina deve em consequência da sua moratória.
A Argentina afirma que o navio foi para Gana para desempenhar funções militares e estava protegido de apreensões. Quinta-feira, um juiz comercial de Gana rejeitou esse argumento e ordenou que o barco permaneça num porto de Gana até que a Argentina pague uma fiança de US$ 20 milhões. A Argentina deve recorrer.
Um porta-voz do Elliott se recusou a comentar.
Em comunicado, o Ministério das Relações Exteriores da Argentina citou a conexão do Elliott com a força-tarefa. Argumentando que a Argentina tem o dinheiro, mas se recusa a pagar, o grupo gastou mais de US$ 3 milhões em lobby desde 2007, contando entre suas vitórias legislação pendente nos EUA que basicamente forçaria a Argentina a pagar os investidores.
Jorge Arguello, embaixador da Argentina nos Estados Unidos, criticou há pouco tempo a força-tarefa como um "fundo de abutres [...] sob uma fachada de lobby" com "o objetivo de receber milhões pelo que adquiriu por meros tostões."
A força-tarefa afirma que o governo simplesmente não está gostando da atenção que o tema tem gerado. "O status da Argentina como um país que despreza as leis internacionais tem sido bem documentado", declarou em um comunicado recente.
Em 2007, a força-tarefa listou cinco apoiadores, incluindo o Elliott.
"Novos membros têm entrado e saído ao longo dos anos, e eu acredito que continuarão a fazê-lo enquanto a Argentina lutar tanto para evitar honrar seus compromissos", disse Raben em um e-mail. "Essa é a única razão pela qual nós nos unimos e o interesse exclusivo da força-tarefa é chamar a atenção para o mau comportamento da Argentina".
Jess Peterson, produtor rural do Estado americano de Montana e vice-presidente executivo da Associação dos Pecuaristas dos EUA, diz que seu grupo entrou para a força-tarefa porque os agricultores são afetados pelas políticas comerciais relacionadas às importações de carne e outras culturas. Já os professores têm investimentos na Argentina através de fundos de pensão.
"Estamos gratos que a força-tarefa está divulgando o mau comportamento da Argentina — e sobre como isso afeta tudo, desde os professores até empresários e a zona rural americana", disse Peterson.
Mas outros dizem que suas filiações parecem ter sido extrapoladas de cartas que escreveram a legisladores americanos, muitas das quais foram publicadas no site da força-tarefa.
Antes de o WSJ levantar questões, o site da força-tarefa exibia uma carta de 2007 do Movimento Americano da Agricultura citando seu presidente Matlack, o agricultor do Kansas. Matlack diz que a carta não foi escrita para a força-tarefa. David Senter, um consultor de Washington para o grupo de agricultura, diz que se lembra vagamente de um encontro há vários anos em que os agricultores se reuniram para discutir a Argentina.
"Talvez uma carta tenha sido escrita pedindo apoio para resolver a situação da moratória", diz Senter. "Alguém deve ter desenterrado a carta daquela época."
Alguns dizem que eles não têm a menor ideia de por que foram listados. "Eu nunca ouvi falar da Força-Tarefa Americana Argentina", diz Nate Hair, presidente da associação de pecuaristas de Washington, uma entidade de classe, cujo nome também foi retirado da lista depois de consultas do WSJ.
Um dos presidentes da Força-Tarefa Americana Argentina é Robert Shapiro, um ex-subsecretário de Comércio dos EUA que agora dirige uma empresa de consultoria. A outra presidente é Nancy Soderberg, que serviu como embaixadora da ONU e assessora de política externa do falecido senador Edward M. Kennedy. Soderberg não respondeu a pedidos de comentários.
Shapiro disse que os membros têm um interesse forte "em normalizar as relações econômicas e comerciais entre os EUA e a Argentina. É por isso que eles se juntaram [...] Nem eu nem a embaixadora Soderberg jamais toleraria a listagem de qualquer organização que não tenha se unido" voluntariamente.