No mesmo dia em que o oposicionista Mauricio Macri venceu as eleições presidenciais na Argentina e derrubou os 12 anos de hegemonia Kirchnerista, a presidente brasileira Dilma Rousseff entrou em contato telefônico com o novo mandatário do país vizinho e ouviu uma proposta de “relações dinâmicas e fluidas” a partir de agora entre as duas nações.
Conforme informou o Palácio do Planalto, Dilma convidou, na segunda-feira, o novo presidente argentino a vir ao Brasil antes mesmo de sua posse marcada para o dia 10 de dezembro em Buenos Aires, que deverá ter a presença da chefe de estado brasileira. Além das relações mais diretas com o Brasil, Macri garantiu à Dilma que quer dar nova vitalidade ao Mercosul, embora, extraoficialmente, já circule a possibilidade de sanções do bloco à Venezuela pela sua conduta com os chamados “presos políticos”.
Mauricio Macri, ex-empresário, presidente do Boca Juniors, deputado e prefeito de Buenos Aires, venceu em segundo turno as eleições diante do candidato da situação, Daniel Scioli, que representava a continuidade do projeto de esquerda inserido durante 12 anos de governos Kirchner, primeiro com Néstor de 2003 a 2007, e depois com sua esposa Cristina, de 2007 a 2015.
Macri, aliás, protagonizou uma vitória histórica na Argentina, já que pela primeira vez em 32 anos de democracia no país um pleito presidencial precisou de segundo turno. Além disso, ele havia sido derrotado no primeiro turno por Scioli, mas ganhou fôlego e respaldo do público na reta final e fechou as eleições com cerca de 52% dos votos, em números semelhantes aos que elegeram Dilma Rousseff no Brasil em desfavor de Aécio Neves nas eleições de 2014.
Dinâmica favorável
Joaquim Levy, ministro da Fazenda do governo Dilma Rousseff, viu com bons olhos a eleição do conservador Mauricio Macri no pleito presidencial argentino. Segundo ele, o novo governo do país vizinho deverá trazer uma “dinâmica favorável” à economia brasileira.
“Pela potencialidade que tem o país, certamente altera um pouco a dinâmica se forem pelo caminho de mais liberalismo econômico”, disse Levy, durante o seminário de Reavaliação do Risco Brasil, promovido pelo Centro de Economia Mundial da Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio de Janeiro.
Contudo, há algumas arestas a serem aparadas para que a relação entre a Argentina de Macri e o Brasil de Dilma flua perfeitamente. Oposicionista, Macri viu Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula, grande padrinho da atual presidente brasileira, fazer campanha à Scioli no mesmo palanque que Cristina Kirchner.
Ao mesmo tempo, o novo presidente da Argentina, em uma das suas primeiras movimentações, já sinalizou com a possibilidade de aplicar sanções do Mercosul à Venezuela por sua conduta em manter os “presos políticos”, posição na qual o Brasil não é favorável.
Dilma e Cristina Kirchner, publicamente, trocam elogios mútuos e posicionam-se como amigas. Nos bastidores, sabe-se que parte do empresariado brasileiro não aprova as barreiras comerciais implantadas pela Argentina. Em uma entrevista recente à mídia estrangeira, Macri garantiu que o Brasil seria o seu principal parceiro e que, inclusive, a relação entre os dois países seria “bem melhor” que a atual. Agora, é esperar para ver.