Do surto ao mito musical: a incrível saga do santista Moacir dos …

Ele usa peruca, terno branco e canta maravilhosamente bem. Não estamos falando de Cauby Peixoto, mas de Moacir Lima dos Santos, de 70 anos, um santista desconhecido na terra natal, mas reconhecido por onde anda em Buenos Aires.

No início da década de 1980, tomado por um surto psicótico causado após a morte da mãe e pela esquizofrenia paranoide que sofria, ele embarcou num ônibus e desceu na Argentina.

Lá, sobreviveu como lavador de carros antes de ser internado no hospital psiquiátrico Borda – de onde teve alta em 2011.

Não fosse a vocação para a música, sua vida teria passado em branco. Autor de inúmeros sambas, tangos, marchas de carnaval e boleros, Moacir nasceu em 8 de fevereiro de 1944, na Santa Casa da Misericórdia de Santos, filho de Graciliano Lima dos Santos e Alice Severina de Jesus, e cresceu no Morro do Pacheco. Sua biografia no Brasil acaba aqui.

Cidadão argentino há 30 anos, ele começou a sair do anonimato após ser um dos retratados no documentário "Fortalezas", de 2010, primeiro filme do cineasta Tomás Lipgot.
 

Retratado no cinema, o artista compõe boleros, sambas, tangos e marchas de Carnaval

O longa aborda a situação de pessoas confinadas em prisões, leprosários e hospitais psiquiátricos. Tomás conheceu Moacir quando ainda era paciente e fazia oficinas de arte-terapia.

Sua história, talento e carisma encantaram o diretor e não passaram despercebidos pelo público, que saía admirado das exibições do filme em festivais na América Latina, Europa, África e América do Norte.

Foi a deixa para Tomás rodar o segundo documentário, desta vez, somente sobre o brasileiro. Intitulado "Moacir", o filme ganhou trilha sonora original, composta pelo santista, e mostra sua saída do hospital, quando teve alta médica, e a gravação de um disco de composições próprias, cuja autoria registrou logo ao chegar à Argentina, ainda nos anos 1980.

Ambos os filmes do diretor ganharam prêmios em festivais mundo afora, além de repercussão na imprensa e em trabalhos acadêmicos.

Moacir, hoje, mora em uma pensão, em Buenos Aires, e vive com uma aposentadoria que recebe do governo. Eventualmente, canta em festas e bares da capital portenha.

Terceiro longa

Mas sua história não para por aí. Em um novo encontro com Tomás Lipgot, Moacir manifestou o desejo de dirigir seu próprio filme. Com o nome de "Opera Prima", o longa vai encerrar o que o diretor batizou de "Trilogia da Liberdade" – que inclui "Fortalezas" e "Moacir".

As filmagens começaram no ano passado e 50% das imagens foram captados. A outra metade será gravada em Santos, com a vinda de Moacir para a Cidade ainda este ano, provavelmente, em agosto.

Quem entrou em contato com A Tribuna para falar sobre o projeto foi a produtora paulistana Luciana Den Julio, que conheceu Tomás num festival de cinema no Uruguai, em 2013 e se ofereceu para trabalhar com ele.

Em janeiro do ano passado, Luciana veio a Santos para investigar o passado de Moacir. “Estive no cartório de registro civil para buscar informações do paradeiro da família. Até agora, tivemos acesso ao livro de seu registro, com informações do lugar onde nasceu, dados dos pais e dos tutores que eram legalmente responsáveis por ele”, conta ela.

A produtora também avançou com a pesquisa na escola de samba X-9, onde, supostamente, um sobrinho de Moacir tocou na bateria. “Os integrantes da escola não souberam localizar esse familiar porque dizem conhecer as pessoas geralmente por seus apelidos. Como faz muito tempo, fica difícil apurar.

Combinamos que a escola vai compor um samba-enredo em homenagem a Moacir, mediante remuneração. Queremos envolver a comunidade numa história que também é da Cidade”.

O fime vai misturar realidade de ficção, ao reconstituir o passado do artista. A parte mais documental ficará por conta da viagem de regresso ao Brasil, quando Moacir pretende voltar a Santos e reencontrar seus familiares e seus lugares na cidade.

Quem tiver lembranças ou convivido com Moacir pode entrar em contato com a produtora pelo e-mail: lucianadenjulio@hotmail.com ou contatorachelmunhoz@gmail.com.
 

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