Debate deve mover pouco o eleitor argentino, dizem analistas

Esperado com muita expectativa, principalmente pelo candidato da situação, Daniel Scioli, o debate presidencial na Argentina não trouxe surpresas e deverá mover pouco o eleitorado do país às vésperas do segundo turno, dizem analistas.

No dia seguinte ao confronto televisivo, o primeiro desse tipo no país, a impressão que ficou é que ambos os candidatos tiveram seus altos e baixos e falaram aos seus públicos cativos, não podendo seduzir novos eleitores.

Em desvantagem nas pesquisas deste segundo turno, Scioli contava com o evento para virar o jogo contra o candidato da oposição Mauricio Macri, da coligação Mudemos. Pesquisa que circulou entre jornalistas nesta segunda (16) mostra que Macri tinha, antes do debate, sete pontos de vantagem sobre Scioli. O opositor marcava 49% contra 42,1% de Scioli. O segundo turno será no próximo domingo (22).

Responsável pela sondagem, Jorge Giacobbe Filho, da Giacobbe Associados, afirma que o percentual de indecisos é baixo (menos de 5%), e o debate não deve alterar o ânimo dos eleitores que já escolheram seu candidato.

"Não me parece que haverá mudanças. Cada um tratou de reforçar o discurso para o seu próprio eleitor", disse Giacobbe. "Os que votam em Scioli têm fobia a Macri, os que votam em Macri têm fobia a Scioli, isso não mudou com o debate".

Para Fabian Perechodnik, sócio do instituto Poliarquía, os dois candidatos se mantiveram dentro dos esquemas traçados por suas campanhas, sem surpresas. "Macri tentou mostrar-se mais relaxado, de acordo com a estratégia que tem empregado, da revolução da alegria. Já Scioli tentou ser firme ao ressaltar as dificuldades [econômicas] que podem aparecer se Macri chegar ao governo", disse.

"O cenário argentino me parece muito similar ao que aconteceu no Brasil em 2014, onde estavam em discussão dois modelos e dois estilos, representados por Aécio Neves e Dilma Rousseff", opinou.

Sem perguntas incômodas

Sem gravata e chamando Scioli pelo primeiro nome, Macri tentou ligar o adversário às mazelas do governo de Cristina Kirchner. A cargo de sua imagem está o equatoriano Jaime Duran Barba, que assessorou Marina Silva na campanha presidencial de 2010 no Brasil.

Já Scioli, usando uma gravata azul-celeste, optou por tratar Macri com o distanciamento de "candidato" e "engenheiro" e acusou o rival de planejar um doloroso ajuste econômico. O governista está sendo assessorado pelo brasileiro Augusto Fonseca, que trabalha atualmente para o PSDB.

Ambos os candidatos deixaram de responder a perguntas incômodas. Macri não disse se fará uma desvalorização do peso, e Scioli recusou-se a responder à crítica sobre problemas na rede pública de ensino da província de Buenos Aires, governada pelo presidenciável.

"Macri se mostrou mais tranquilo, mas não saiu como o ganhador claro. Já Scioli não conseguiu ajustar suas respostas ao tempo determinado, o que do ponto de vista emocional o coloca em desvantagem aos olhos do espectador", avalia Giacobbe.

O debate, porém, atraiu a atenção do eleitorado, que deu audiência média de 40% ao programa, com pico de 53%. Como comparação, o último confronto entre Dilma e Aécio antes do segundo turno no Brasil não superou 30 pontos de audiência.

"O debate em si tem o significado de ser uma novidade na política argentina. É a primeira vez no país que há uma eleição de segundo turno e é a primeira vez que os dois candidatos debatem. Em termos de democracia, foi um fato importante, visto por milhões de argentinos", disse Perechodnik.

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