O Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, encerrado neste sábado 23/01, foi marcado pelo protagonismo de uma nova figura no cenário político latino-americano: Mauricio Macri. Eleito presidente da Argentina no ano passado, Macri trouxe o país de volta a Davos após uma ausência de 12 anos, período em que o país foi governado pelo casal Kirchner.
Página virada
A agenda de Macri gerou uma enorme repercussão e o presidente argentino foi um dos mais citados nos debates do encontro econômico. Rompendo com a tensão em torno das Ilhas Malvinas, Macri propôs uma reaproximação com o Reino Unido. No âmbito comercial, a intenção do presidente argentino é acelerar o acordo entre o Mercosul e a União Europeia, travado em virtude de exigências argentinas. Na conversa com o vice-presidente americano Joe Biden, a discussão principal foi a renegociação da moratória técnica decretada no ano passado pela Argentina, a fim de atrair de volta os investidores. Numa coletiva de imprensa, denunciou o colapso da democracia na Venezuela. Em suma, Macri quer desfazer o legado das políticas "desastrosas" de Cristina Kirchner nos últimos anos.
A “década perdida”do Brasil
O protagonismo do novo presidente argentino contrasta com o descrédito do governo de Dilma Rousseff. Já no início do, ano analistas viam a Argentina “substituindo” o Brasil aos olhos dos investidores. Em forte contraste com alguns anos atrás, o Brasil nunca esteve tão desprestigiado no evento. Em 2010 Lula chegou a receber o prêmio de “estadista global”, mas desde então, a realidade da deterioração econômica se impôs.
Dilma Rousseff chegou a participar do Fórum em 2014 e fazer promessas de reformas que nunca se concretizaram, mas se absteve em 2015 e este ano. Sobrou para o Ministro da Fazenda Nelson Barbosa, sozinho, explicar para a imprensa e investidores o derretimento das ações da petrolífera estatal, o encolhimento de 3,7% do PIB e fechamento de 1,5 milhão de postos de trabalho em 2015, a taxa de juros a 14,25% e as previsões para mais uma forte retração econômica em 2016. O investidor Ray Dalio foi contundente ao afirmar que “o Brasil está caminhando para uma década perdida”.
Para além de questões acerca da conjuntura ruim da economia internacional e sobre as Olimpíadas do Rio de Janeiro, o Brasil despertou pouco interesse nas reuniões. Este ano, o painel sobre as perspectivas da América Latina - tradicionalmente liderado pelo Brasil - teve à frente o presidente mexicano Enrique Peña Nieto, visto junto a Macri como uma nova liderança na América Latina.
Lava-Jato
A operação Lava-Jato também contribuiu para o esvaziamento brasileiro de Davos. Muitos empresários nacionais de alto perfil, que eram figuras carimbadas no fórum, encontram-se encarcerados devido às investigações. O banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, encontra-se preso em Bangu 8, no Rio de Janeiro. Marcelo Odebrecht, agraciado há seis anos como jovem líder global em Davos, cumpre pena em Pinhais, no Paraná. Representantes da Petrobrás e da Andrade Gutierrez também se ausentaram em função da crise ou do constrangimento.