Curiosidades relevantes sobre o novo governo argentino

 

 

Melhorar a relação com o Brasil e acelerar acordos para liberar o comércio com a União Europeia e com a Aliança do Pacífico são alguns dos pontos já definidos pelo presidente eleito da Argentina, Mauricio Macri, em sua política externa.

 

Macri reafirmou a promessa de propor ao Mercosul acionar a cláusula democrática contra a Venezuela em razão dos políticos presos pelo governo Maduro. Nas palavras do argentino, o líder venezuelano age com “abuso e perseguição” contra seus opositores. Definiu como “evidente” a aplicação dessa cláusula, porque, segundo ele, “as denúncias são claras e contundentes, não são uma invenção e nada tem a ver com o compromisso democrático” assumido pelos integrantes do bloco.

 

A mulher do venezuelano, que foi condenado a 14 anos de prisão em um julgamento controverso, esteve na Argentina no domingo e acompanhou o resultado da apuração na sede da coligação Cambiemos, encabeçada por Macri.

 

É possível que o tema seja o primeiro ponto de atrito entre o Brasil e a Argentina sob a gestão de Macri, uma vez que o governo de Dilma Rousseff vem mantendo silêncio sobre a política venezuelana. Em seu discurso, porém, Macri tenta minimizar contradições. “Queremos construir e afiançar boas relações com todos os governantes da América Latina e com o mundo”.

 

 

O presidente eleito argentino reiterou que sua primeira viagem oficial será a Brasília, mas ainda não foi marcada uma data – pode ser antes da posse. Dilma e Macri têm encontro marcado na cúpula do Mercosul, no dia 21, em Assunção.

 

Macri voltou a afirmar que o bloco está “congelado há muitos anos”. Expressou intenção de avançar na facilitação comercial com a União Europeia – com quem o Mercosul discute há anos um acordo de livre comércio, normalmente bloqueado por Cristina Kirchner – e com a Aliança do Pacífico, com o objetivo de aumentar o intercâmbio.

 

“Temos que dar vitalidade e dinâmica à agenda do Mercosul, avançar em convênios com a União Europeia, com Aliança do Pacífico e tentar aumentar a capacidade de comércio em geral”, disse o presidente eleito argentino.

 

 

Uma determinação de Macri: proporá o cancelamento do acordo com o Irã, costurado por Cristina com o objetivo, segundo o governo, de interrogar suspeitos do ataque a bomba em Buenos Aires, em 1994. O acordo foi alvo de investigação do procurador Alberto Nisman, encontrado morto em janeiro em caso ainda sem solução. Ele acusava Cristina de encobrir supostos envolvidos em troca de vantagens comerciais. Faria essa denúncia no dia seguinte ao da sua morte.

 

 

A nova primeira-dama da Argentina, Juliana Awada, 41 anos, conheceu o marido em 2009, enquanto fazia exercícios no “transport” de uma academia do Barrio Parque, bairro nobre de Buenos Aires, onde ficam várias embaixadas. Foi do alto desse aparelho que ela começou a flertar com Macri, que preferia a bicicleta com encosto, na qual lia os jornais.

O namoro e o casamento ocorreram rapidamente, e em menos de dois anos já haviam regularizado seu vínculo e tiveram uma filha, Antonia. Descendente de sírios e libaneses, Awada estudou em um colégio bilíngue do bairro de Belgrano e sempre gostou de atividades físicas, praticando hóquei e golfe.

 

Leia aqui o perfil feito por este blogueiro para a Zero Hora desta terça-feira.

 

Juliana é amiga de algumas mulheres de políticos, entre elas a ex-modelo Karina Rabolini, casada com o governista Daniel Scioli. Antes de Macri, teve um longo relacionamento com o empresário belga Bruno Laurent Barbier, que conheceu na primeira classe de um voo a Paris. Com ele, teve uma filha, Valentina.

 

 

Os principais vizinhos da Argentina disseram esperar uma melhor relação com o país e menos protecionismo econômico com a chegada de Macri à Casa Rosada. Vão ao encontro das primeiras declarações do argentino.

 

O presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, disse que ele e Macri concordaram em “trabalhar em conjunto e superar as diferenças” entre os países. “Macri quer superar essas instâncias e encontrar uma solução aos problemas que temos às vezes entre argentinos e uruguaios”, disse Tabaré.

 

A sensação é a mesma no Paraguai, governado pelo empresário Horacio Cartes. Macri e Cartes se reuniram neste mês e já se conheciam pelo futebol – Cartes era presidente do Libertad na época que Macri comandava o Boca Juniors.

 

Com relações congeladas (para dizer o mínimo) sob Cristina, a presidente do Chile, Michelle Bachelet, sublinhou “a importância de manter o espírito de colaboração” com Macri.

 

Já o boliviano Evo Morales, que apoiou Scioli expressamente, mostrou sua discordância sobre a posição dos dois em relação à Venezuela. “Parabenizo o presidente eleito, mas expresso o desejo de um trabalho conjunto, respeitando nossos programas, princípios e especialmente a cláusula democrática da Unasul.”

 

 

A sobrancelha arqueada enquanto fala é uma marca de Mauricio Macri, assim como o modo como parece se assustar quando é surpreendido por uma intervenção vinda do outro lado da sala. Pessoas próximas afirmam que, por muito tempo, ele manteve o costume de colar-se à parede, de costas, ao entrar num ambiente novo. O jeito alerta teria surgido após os 12 dias que passou em cativeiro ao ser sequestrado, em 1991, aos 32 anos, até que fossem pagos os US$ 6 milhões de resgate.

O episódio não só mudou o comportamento do engenheiro como deu projeção nacional a alguém que era apenas conhecido pela elite de Buenos Aires como o filho de um empresário milionário que apreciava festas e mulheres.

 

Mauricio é o mais velho dos seis filhos de Franco Macri, italiano que chegou à Argentina nos anos 40 e se tornou um dos mais importantes empresários do país. Está à frente da Sociedade Macri, com empresas de construção, carros, correio e coletora de lixo. Quando Macri tinha 23 anos, Franco o pôs em um cargo de direção. Colegas da época dizem que era tímido, quase não falava. Deixou, então, o bigode crescer, para ganhar autoridade sobre subordinados mais velhos que ele.

 

As relações com o pai sempre foram difíceis, e Macri acabou se afastando da empresa. Quando se lançou candidato desta vez, Franco permaneceu kirchnerista. Só nas últimas semanas, quando o filho começou a despontar como possível ganhador, deu sinais de reaproximação. Coincidência ou não, Franco Macri sempre se alinhou ao governista de plantão.

 

A vida pública de Macri deslanchou mesmo quando foi eleito, em 1995, presidente do Boca Juniors. Embalado pelo espírito otimista da década Carlos Menem (anos 90), fez grandes investimentos. Criou um fundo para contratar jogadores estrelados e reformou o estádio da Bombonera. Logo, vieram os títulos, 17 até o fim de sua gestão, em 2007.

 

A crise de 2001 acordou Macri para a política. Começou a articular com aliados a ideia de formar um partido. Daí surgiu o Proposta Republicana (PRO), pelo qual foi eleito e reeleito como prefeito da cidade de Buenos Aires, em 2007 e 2011.

 

As propostas desse grupo giravam em torno da ideia de que eram um grupo de gestores diferentes dos partidos tradicionais, a quem os manifestantes diziam “que se vayan todos” (que todos vão embora). Em seus oito anos na prefeitura, acumulou êxitos em melhorias no trânsito – com corredores e ciclovias-  e estimulando a recuperação de áreas degradadas.

 

Macri permitiu, no entanto, derrubar casarões históricos para que subissem edifícios comerciais e processou uma associação de cidadãos que impedia a construção de uma estação que destruía uma praça.

 

Em 2011, o agora presidente eleito flertou com a sucessão de Cristina. Como a presidente tinha força nas pesquisas, desistiu e preferiu se reeleger na cidade. Da cadeira de prefeito, criticava a condução da economia, da restrição ao dólar às estatizações – ponto sobre o qual viria a mudar de opinião, chegando ao ponto de hoje dizer que não as desfará.

 

Macri é admirador do papa Francisco. Pediu ajuda de Deus para governar a Argentina.

 

O presidente eleito se casou três vezes.

 

Com Ivonne Bordeu, Macri teve três filhos. Com a modelo Isabel de Menditeguy ficou mais de 10 anos, sem filhos. Desde 2009, está com Juliana Awada. O casal, com a filha Antonia, se divide entre o apartamento em Buenos Aires e a casa de Los Abrojos.

 

Claro, Macri continua fanático pelo Boca. Vibrou com o título da Copa Argentina e, agora que o arquirrival River Plate disputa o Mundial no Japão, promete recebê-lo “como cabe”, se vencer. “Torcer por eles seria demais”, ressalvou.

 

O presidente eleito promete “governar para absolutamente todos” em um país polarizado depois de 12 anos de governos kirchneristas de centro-esquerda, enquanto os mercados financeiros receberam com otimismo o resultado.

“A ideia é governar para absolutamente todos, tivemos muitos anos de enfrentamentos, com o foco nas dissidências, mas é muito mais o que nos une do que o que nos separa”, disse em sua primeira coletiva de imprensa como presidente eleito.

 

O que Cristina disse a Macri, segundo ele próprio, ao telefonar-lhe: “Disse que estava contente de termos tido a maior eleição da história da Argentina. Me desejou a maior das sortes e mandou um beijo para a minha mulher.”

 

Grande parte do Legislativo apoia Cristina. Macri será obrigado a estabelecer alianças pelo menos até 2017, quando haverá eleições parlamentares. A seu favor, o presidente eleito conta com a província de Buenos Aires, a de maior população, assim como três das cinco maiores províncias do país, que serão governadas por sua aliança de centro-direita ‘Cambiemos’.

 

“Peço a Deus que me ilumine para poder ajudar cada argentino a encontrar sua forma de progredir. Eu estou aqui por vocês, assim peço, por favor, não me abandonem, sigamos juntos”, disse Macri.

 

 

Em 10 de dezembro, quando Cristina Kirchner entregar o poder, o país iniciará uma etapa inédita com novo espaço político conservador. Em quase um século, a Argentina não teve nenhum presidente eleito em votação livre e sem fraude que não fosse peronista ou ‘radical’ (social-democratas da UCR, União Cívica Radical). Sim, em sua vida democrática, a Argentina apenas teve no poder a alternância entre o Partido Justicialista (PJ, peronista) e a UCR.

 

“Isto é história”, disse Marcos Peña, chefe de campanha de Macri e um dos mentores do Pro (Propuesta Republicana), o partido do novo chefe de Estado, em meio aos aplausos dos simpatizantes ao vencedor da eleição.

 

Terminou a festa para Mauricio Macri. No dia seguinte de ser eleito presidente da Argentina, já não tem tempo para lua de mel. A economia urge e a política o obriga a negociar com uma oposição que deve repensar lideranças após encerrar 12 anos de kirchnerismo.

Com apenas 10 dias hábeis até assumir o mandato em 10 de dezembro, Macri fala sobre “construir pontes”.

 

O tempo de espera que normalmente o eleitorado concede a um novo governo, a lua de mel, já está sendo descontado”, afirma o sociólogo e analista político Gustavo Córdoba. “Os argentinos precisam começar a escutar as principais definições, seu gabinete e suas medidas”, disse o  sociólogo. “Os desafios de governabilidade são muito mais urgentes, basicamente pela magnitude do desafio econômico e social”, indicou. No plano econômico, Macri forneceu pistas que permitem vislumbrar uma reforma nessa área sensível. O presidente eleito terá um gabinete econômico de seis ministros, embora evite anunciar quem ocupará os cargos.

 

O novo presidente deve resolver o litígio na justiça dos Estados Unidos com os fundos “abutres” que ganharam um julgamento por US$ 1,6 bilhão em títulos não remunerados da dívida.

 

No plano doméstico, Macri prometeu liberar o mercado cambial, restrito desde 2011 para prevenir a perda de reservas que giram em torno de US$ 26 bilhões. A inflação supera os 20% anuais.

 

Existe uma discussão dentro da Cambiemos – a aliança de Macri –  sobre o quão súbita ou gradual serão feitas as mudanças que foram planteadas, afirma Sergio Morresi, politólogo e pesquisador do Conicet, o Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas da Argentina. Macri estruturou sua campanha eleitoral com promessas de mudanças drásticas ante o gradualismo que propunha o peronista moderado Daniel Scioli. Mas, à luz da realidade, seus planos podem mudar.

 

“Nas próximas semanas serão revistas quais as possibilidades de implementar essas mudanças de maneira tão drástica como se planejou originalmente, porque a situação econômica do país parece delicada”, explicou Morresi.

 

O PRO (Propuesta Republicana) de Macri é mais um dentro da aliança Cambiemos, onde o outro ator de peso é a força social-democrata Unión Cívica Radical. No plano político, a negociação será de dentro para fora.

 

“Também é muito importante a relação de Macri com os sindicatos”, disse o politólogo Rosendo Fraga, que prevê uma boa sintonia baseada em sua “capacidade de gerar acordos e somar a sua coalização um setor do peronismo que continua sendo o de maior força em termos de províncias, Congresso, legislatura provinciais e intendentes”.

 

 

A expectativa dos países que fazem fronteira com a Argentina é que a relação com o país vizinho melhore com a chegada de Macri à Casa Rosada a partir de 10 de dezembro. Ao confirmar sua primeira viagem ao Brasil, Macri chamou o país vizinho de “principal sócio econômico”. A resposta foi dada horas depois de receber o convite da presidente Dilma Rousseff.

 

Macri sobre o Mercosul. “O Mercosul tem que avançar nos convênios com a União Europeia e convergir para uma aliança com o Pacífico.” A abertura comercial é um desejo dos outros três membros originais do bloco regional – Brasil, Uruguai e Paraguai -, mas que era impedido pela Argentina devido ao protecionismo desempenhado por Cristina Kirchner.

 

 

Em telefonema às 11h40min (horário de Brasília) de segunda-feira, no qual a presidente Dilma Rousseff parabenizou Macri pela vitória, o novo presidente afirmou que pretende dar “nova vitalidade” ao Mercosul e planeja ter uma relação “fluida” e “dinâmica” com o Brasil, em uma referência às dificuldades econômicas entre os dois países durante o governo de Cristina.

 

Na conversa, a presidente convidou o argentino a vir ao Brasil para uma audiência no Palácio do Planalto antes da cerimônia de posse, em 10 de dezembro. O presidente eleito respondeu que tentará viabilizar a viagem em sua agenda de compromissos.

 

Dilma também informou ao argentino que vai comparecer à cerimônia de posse em Buenos Aires e reafirmou a disposição do Brasil em estreitar laços comerciais e políticos com o país vizinho.

 

A viagem ao país vizinho está prevista na agenda de compromissos oficiais da presidente, que tem defendido o gesto como sinal de disposição da administração brasileira em construir um canal de diálogo com o novo governo argentino.

 

A ligação de cerca de 10 minutos foi feita após reunião de coordenação política, realizada nesta segunda-feira com a presença de 11 ministros e líderes do governo no Congresso. O gabinete presidencial entrara em contato pela manhã com a equipe do argentino para informar a intenção da petista em parabenizá-lo por telefone.

 

O embaixador do Brasil na Argentina, Everton Vargas, reuniu-se no início deste mês com a equipe de Macri, que defendeu durante a campanha eleitoral uma maior aproximação do governo argentino com a administração da petista caso fosse eleito.

 

Macri defende o fortalecimento das relações bilaterais com o Brasil, sobretudo no aumento do atual fluxo comercial. O Brasil é o principal fornecedor do mercado argentino e, em outubro, as exportações brasileiras para o país vizinho registraram o primeiro crescimento desde 2013.

 

Em outubro, a presidente recebeu Daniel Scioli no Planalto e lhe garantiu que vai alongar as linhas de financiamento à exportação para a Argentina. Assim, os importadores argentinos teriam mais prazo para pagar as compras feitas no Brasil.

 

Claro que isso vale também para Macri.

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