Crise pesa e dólar renova maior preço em 5 meses

A crise na Argentina e na Turquia respingou ontem no dólar, que renovou suas máximas em cinco meses. A Bolsa brasileira também se contaminou com esse pessimismo dos investidores com os mercados emergentes e encerrou em baixa. O Ibovespa, principal índice do mercado acionário brasileiro, caiu 0,18%, aos 47.701 pontos. A desvalorização do índice no mês já chega a 7,39%. A crise cambial e política na Argentina e na Turquia pesaram não só sobre a Bolsa brasileira, mas também sobre os mercados mundiais, afirma Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco Mizuho. "Os últimos acontecimentos na Turquia e na Argentina têm impacto nos mercados locais. Primeiro no câmbio, pois a desvalorização do peso argentino trouxe a preocupação de uma crise cambial lá que poderia ter reflexos no Brasil, já que a Argentina é o terceiro maior parceiro comercial brasileiro", afirma.

Ontem, o governo argentino anunciou que restringirá a compra de dólares como investimento aos cidadãos com renda mensal de no mínimo de 7.200 pesos (R$ 2.155) -o equivalente a dois salários mínimos-, registrados na Afip, a Receita Federal do país. A Casa Rosada também informou que o limite para a aquisição da moeda americana será de US$ 2.000 por mês.  "O medo é de que os emergentes sejam contagiados pelo pessimismo em relação à Argentina. O investidor não quer saber se o Brasil é igual à Argentina. Ele quer tirar o dinheiro dele do jogo e ir embora", afirma André Moraes, analista da corretora Rico.com.vc. Bruno Gonçalves, analista do WinTrade, home broker da Alpes Corretora, vê a Argentina com um impacto limitado sobre o mercado brasileiro. "A crise lá traz um sentimento adicional de preocupação com os mercado emergentes, mas não é um fator preponderante, pois a situação dos países é bem diferente", afirma.

Na Turquia, a preocupação é com o escândalo de corrupção que afeta o governo e com a expectativa de que o banco central turco anuncie um aumento dos juros para conter a saída de recursos do país. O escândalo estaria relacionado a projetos estatais de construção e ao setor imobiliário, além de ao comércio de ouro da Turquia com o Irã. Tatiane Cruz, analista da corretora Coinvalores, acredita que o mercado sabe distinguir os países. "Os investidores sabem separar o joio do trigo. O Brasil tem um sistema bancário muito sólido, empresas sólidas, e está barato", diz. No cenário doméstico, o último boletim Focus do Banco Central não trouxe notícias muito animadoras para o mercado. Os economistas reduziram a projeção para a expansão do PIB (Produto Interno Bruto), para 1,91%, e elevaram a da taxa básica de juros (Selic) para 11% ao ano.

Ao longo da semana os investidores prestarão atenção à reunião do Federal Reserve (Fed, banco central americano), nos dias 28 e 29, e também à temporada de divulgação de balanços de empresas. Na Bolsa o destaque ficou com os papéis da B2W, controladora da Americanas.com e do Submarino. As ações da empresa subiram 41,61%, a R$ 21,95, em resposta ao anúncio feito na sexta-feira (24) de aumento de capital. A empresa pretende fazer capitalização de R$ 2,38 bilhões. O acordo prevê a emissão de 95,2 milhões de ações ao preço unitário de R$ 25.

Dólar

Após abrir perto da estabilidade, o dólar passou a subir com os investidores de olho na reunião do Fed dos dias 28 e 29 e renovou suas máximas. O dólar à vista, referência no mercado financeiro, subiu 0,76%, a R$ 2,420, maior patamar desde 22 de agosto do ano passado, quando a divisa encerrou cotada em R$ 2,4299. O dólar comercial, usado no comércio exterior, registrou alta de 1,16%, a R$ 2,425, maior nível também desde 22 de agosto de 2013 (R$ 2,432). Há a expectativa de que o banco central americano dê continuidade à sua política de redução dos estímulos que concede à economia dos Estados Unidos. O mercado espera um novo corte de US$ 10 bilhões em seu programa de recompra de títulos, de US$ 75 bilhões para US$ 65 bilhões mensais. O corte dos estímulos enxugaria o volume de recursos disponíveis para investimento nos emergentes, como o Brasil, prejudicando tanto a Bolsa quanto o câmbio nacional.

Para Guilherme Prado, especialista em câmbio da Fitta DTVM, a tendência do dólar segue ascendente, com a expectativa em torno da decisão do Fed pautando os investidores. "É uma questão de fundamentos. O mercado está olhando a decisão do Fed, e já trabalhando com um corte de US$ 10 bilhões", diz. O Banco Central brasileiro deu continuidade às intervenções diárias no câmbio e vendeu oferta total de 4.000 contratos de swap tradicionais -equivalentes à venda futura de dólares. Foram 2.200 contratos com vencimento em 1º de setembro e 1.800 com vencimento em 1º de dezembro deste ano. A operação teve volume equivalente a US$ 197,2 milhões. A autoridade monetária também realizou a oitava etapa da rolagem dos contratos de swap que vencem em 3 de fevereiro, vendendo a oferta total de 25.000 contratos. Com isso, restam apenas cerca de 10% do lote total do mês que vem, equivalente a US$ 11,028 bilhões.
 

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