Copa América

Desde que o futebol saiu de Inglaterra e se espalhou pelos quatro cantos do Mundo que a América do Sul rivaliza com a Europa pela supremacia do desporto rei. Desde o primeiro jogo em terras argentinas por trabalhadores ingleses dos caminhos-de-ferro que o futebol fez um longo caminho até conquistar o coração do continente. 

Das praias de Copacabana no Rio, aos baldios de Boca em Buenos Aires, passando pelos bairros de lata nos arredores de Cali, Lima ou Assunção, o futebol é uma paixão descontrolada dos sul-americanos, que abençoado pelos deuses da bola viu nascer e jogar nos seus campos lendas como Cubillas, Ronaldo, Zamorano, Figueroa, Schiaffino, Zico, Messi, Batistuta, Di Stéfano, Francescoli, Valderrama e Romário, sem esquecer Maradona e Pelé.

A bola rola desde as profundezas tropicais da Amazónia às grandes planícies das Pampas. Da Terra do Fogo à Venezuela, de Santiago do Chile às alturas de La Paz, o futebol é o desporto rei dos sul-americanos que têm na Copa América a sua competição de eleição.

 A Copa América é uma competição com características únicas pois é a única competição continental de seleções sem fase de qualificação. Como a CONMEBOL só têm dez países membros, a existência de uma fase de qualificação torna-se desnecessária. Por sua vez o número reduzido de seleções participantes fez com que a CONMEBOL passasse a convidar seleções de outras confederações continentais para participarem na prova.

Além do seu formato sui generis, a Copa América é a decana das competições continentais de seleções, tendo a sua primeira edição tido lugar em 1916 para celebrar o centenário da independência argentina.

As primeiras edições

Enquanto o continente europeu se dilacerava com a Primeira Guerra Mundial, três nações sul americanas (Brasil, Uruguai e Chile) aceitaram o convite argentino e deslocaram-se a Buenos Aires para disputar o Campeonato Sudamericano de Fútbol, que se jogou entre 2 e 17 de julho.

A Argentina acabou por ver o vizinho Uruguai levantar o troféu, depois dos uruguaios empatarem com os anfitriões a zero no último jogo da prova, garantindo assim a vitória na prova, ao terminar com mais um ponto do que os argentinos. 

Desse torneio nasceu a ideia de se criar uma confederação sul-americana de futebol. A 15 de dezembro do mesmo ano, representantes dos mesmos quatro países encontraram-se novamente em Buenos Aires para fazer nascer a Confederação Sul Americana de Futebol, mais conhecida pelo acrónimo CONMEBOL.

No ano seguinte, já sob a égide da CONMEBOL, surgia a segunda edição do certame, desta feita realizada em terras uruguaias. A jogar em casa a equipa charrua fez valer o fator casa e conquistaria o bicampeonato.

O torneio passava a ter uma periodicidade anual. A cada ano um dos quatro países receberia a organização da prova. Em 1918 o torneio estava marcado para o Rio de Janeiro, mas a pandemia da gripe espanhola que grassava por terras brasileiras impediu a realização do torneio que ficou adiado para o ano seguinte. 

Brasileiros e uruguaios disputaram a vitória no torneio até ao último jogo, onde um empate a duas bolas obrigou a um jogo de desempate. Vinte mil presenciaram essa histórica tarde nas Laranjeiras, onde Artur Friedenreich apontou o único golo da partida, já no prolongamento e deu ao Brasil o seu primeiro troféu internacional de futebol.

Os anos 20

Em 1920 foi a vez de o Chile receber a competição pela primeira vez. Pela terceira vez em quatro edições, a vitória final sorriu aos uruguaios, que levaram a melhor sobre a Argentina na diferença de golos.

 Um ano volvido a prova regressou à Argentina, para finalmente a equipa das Pampas se superiorizar aos rivais. 1921 marcou também a estreia do Paraguai que tomou o lugar dos chilenos nessa edição. A estreia dos paraguaios até foi auspiciosa, com uma surpreendente vitória sobre o Uruguai. Mas as derrotas pesadas com o Brasil e a Argentina relegaram os paraguaios para última posição. 

A sexta edição teve lugar no Brasil e viu a equipa da casa recuperar o cetro, superando-se ao Paraguai no jogo de desempate. Nas duas edições seguintes o torneio seria disputado no Uruguai, com a Celeste a chamar a si a vitória na prova. 

A ausência do Uruguai foi o principal destaque da edição de 1925 que os argentinos a jogar em casa conquistaram com relativa facilidade. 

A expansão

Depois do Paraguai, chegou a vez das estreias da Bolívia (1926) e do Peru (1927) que tornaram a expressão e importância da competição no continente cada vez maior, em provas que seriam vencidas respetivamente por uruguaios e argentinos.

O domínio das duas seleções divididas pelo Rio da Prata - com a Argentina a vencer em 1929 e 1937 e o Uruguai a vencer a edição de 1937 - vincaram a superioridade das duas seleções sobre as restantes equipas do continente, situação que se repetiria ao longo da história. 

Seriam dois anos depois que uma nova seleção inscreveria o seu nome na lista de vencedores: o Peru, vitorioso na prova que organizou em 1939, edição que também contou com a estreia do Equador na competição. 

Meses depois da competição terminar em Lima começava na Europa a Segunda Guerra Mundial. Durante seis anos, enquanto a Europa, Ásia e África pegavam em armas a América do Sul vivia em paz.

O torneio contou com três edições enquanto o conflito durou (1941,1942 e 1945). Ao Chile coube a organização da prova em 1941 e 1945, enquanto em 1942 foi a vez dos uruguaios organizarem e vencer o troféu. 

Nos dois torneios realizados para lá dos Andes, a vitória sorriu à Albiceleste que assim se impôs aos rivais na casa dos vizinhos chilenos. No último dos quais, em 1945, a seleção colombiana participou pela primeira vez na prova, tornando-se a 9ª equipa a participar na competição. Ficava a faltar a Venezuela...

Novos ventos

Terminada a guerra o Paraguai surgiu como a nova sensação da competição, contando com jogadores como Arce e Benítez a Albirroja chegou ao segundo lugar em 1947 (atrás da tricampeã Argentina) e 1949, onde venceram o anfitrião Brasil por 2x1 obrigando a uma finalíssima, onde os brasileiros se vigaram - e de que maneira! - vencendo por 7x0.

Mas dois anos depois em terras peruanas o Paraguai voltou decidido a conquistar o título que lhe escapava. Com a Argentina ausente, os favoritos eram o Brasil e o Campeão Mundial Uruguai, partindo o Paraguai e o anfitrião Peru numa segunda linha.

Numa prova emocionante desde o primeiro dia, o Paraguai e o Brasil acabaram por se encontrar no último jogo com a Albirroja a vencer novamente a obrigar a finalíssima. Contudo, neste segundo "tira-teimas" entre brasileiros e uruguaios, os albirrojos levaram a melhor e venceram por 3x2, levando pela primeira vez a Taça para Assunção. 

Campeões do Rio da Prata e um novo formato

As vitórias do Brasil e Paraguai interromperam uma série de vitórias de uruguaios e argentinos, mas rapidamente os dois gigantes do Rio da Prata voltaram a chamar a si o domínio da competição. Entre 1955 e 1959 a Argentina venceu por três vezes e o Uruguai por duas vezes. 

 A prova passou então a ser disputada de quatro em quatro anos e coube à Bolívia o direito de a organizar pela primeira vez em 1963. 

A jogar em casa a La Verde fez valer o fator casa - e altitude - levando de vencida a concorrência, conquistando um troféu que poucos imaginavam que a seleção andina seria capaz de vencer. 

Em 1967 o Uruguai voltou a receber a prova e a vencer o torneio. A notícia no torneio de 1967 foi a ausência do Brasil, que já não falhava a prova desde 1955. Outra nota de destaque foi a estreia da Venezuela, que terminou no penúltimo lugar, batendo a Bolívia, que assim regressou à «lanterna vermelha».

Nova denominação

A prova só regressaria oito anos depois e com uma nova denominação: Copa América. Além do mais, o formato mudava por completo, sem uma fase final e uma sede para receber a final.

Com brasileiros e argentinos no mesmo grupo de qualificação, o caminho da final estava aberto para uma equipa revelação. O Uruguai estava já qualificado para as meias-finais a duas mãos, graças à vitória na edição anterior.

Os três grupos foram disputados com duas voltas, jogos em casa e fora e Brasil, Peru e Colômbia qualificaram-se para as meias finais, onde surpreendentemente brasileiros e uruguaios ficaram pelo caminho. Na final, com direito a terceiro jogo, o Peru de Cubillas levou a melhor e conquistou o troféu pela segunda vez.

Nas duas edições seguintes, jogadas ainda no mesmo formato, a vitória sorriria respetivamente ao Paraguai e ao Uruguai.

Regresso da fase final

Em 1987 nem Maradona, nem o fator casa valeram à campeã do Mundo. A Argentina caiu nas meias-finais vencida pelo Uruguai e ainda acabou no quarto lugar atrás da Colômbia. A vitória sorriu ao Uruguai que se impôs no outro lado do Rio da Prata. 

Dois anos depois o Brasil que não passara da primeira fase em 1987 recebeu a prova e venceu-a com classe batendo o Uruguai de Francescoli no jogo final. O herói da partida e da competição seria Romário, que cinco anos mais tarde "daria" o tão almejado «tetra» aos brasileiros. 

 Entre 1991 e 1995 o domínio do futebol sul-americano voltou ao Rio da Prata com três vitórias em três edições.

No Chile, em 1991, Batistuta, Simeone e Cannigia brilharam. Na edição seguinte, seria novamente Batistuta a liderar a vitória argentina.

Já em 1995, a Argentina caiu nos quartos e assistiu já de casa à vitória uruguaia na final, batendo a «Canarinha» no desempate por grandes penalidades. 

A Copa América abria-se ao Mundo, o México e os Estados Unidos foram convidados para participar na edição de 1993, fazendo com que o torneio contasse a partir de então com doze equipas. Os mexicanos seriam a grande surpresa da prova chegando à final que perderam para a Argentina.

A prova de 2001 contou com a ausência dos argentinos, descontentes com os problemas na organização e a ameaça aos seus jogadores. A CONMEBOL convidou então as Honduras para se juntar ao México e a Costa Rica como uma das equipas convidadas da prova

O convidado "mais estranho" da competição seria a equipa do Japão que participou na edição de 1999 que se realizou no Paraguai e onde os nipónicos acabaram eliminados logo na primeira fase com um empate e duas derrotas.

Nada pára a «Canarinha»

A competição passou a ser organizada em sistema de rotação o que permitiu a estreia do Paraguai, Colômbia e Venezuela como organizadores do certame.  

Entre 1997 e 2007 o Brasil viveu o seu período mais dourado, no que toca à Copa América, vencendo quatro em cinco edições enquanto a Argentina ficava em jejum desde 1993 e o Uruguai só punha termo à seca de títulos em 2011.

De permeio, em 2001, a Colômbia recebeu a prova e conquistou o troféu, depois de bater o México na final, para se tornar a sétima seleção na lista de vencedores, um rol onde em quase cem anos de competição, tão poucos conseguiram inscrever o seu nome. 

Ganhar a Copa América não é para todos, que o digam Maradona e Pelé, os dois reis do futebol sul-americano que nunca venceram o troféu. 

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