Com 30% de eleitores indecisos, Argentina vota para presidente …

Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires

A Argentina decide em poucos dias se continua ou se muda de rumo, mas a continuidade do "kirchnerismo" está em jogo. Ninguém se atreve a afirmar se haverá segundo turno, previsto para o dia 22 de novembro.

Essa é a disputa mais acirrada, mas é também a que conta com mais indecisos: um terço dos eleitores ainda não têm certeza sobre em quem vão votar. Isso indica que a decisão pode ser feita em cima da hora.

Os indecisos são 10% dos eleitores, mas aqueles que afirmam ter escolhido um candidato, mas que podem mudar de de opinião chegam a 20%. No total, há 30% de votos "voláteis". Isso demonstra que nenhum candidato tem um "jogo consolidado".

Pesquisas de intenção de voto

Daniel Scioli, atual governador da província de Buenos Aires, tem cerca de 40% dos votos. As sondagens variam de 37 a 42%.

A Argentina tem um sistema eleitoral único e, para ser eleito presidente no primeiro turno, bastam 45% dos votos. Scioli não chega a 45%, mas o sistema também prevê vitória no caso de um candidato ter 40% dos votos desde que haja uma diferença de, pelo menos, 10 pontos com o segundo colocado.

O segundo colocado nas sondagens é Mauricio Macri, atual governador do distrito federal de Buenos Aires. Ele tem cerca de 30% das intenções de voto.

Em terceiro lugar, com cerca de 20%, aparece o deputado Sergio Massa, ex-chefe do gabinete de ministros de Cristina Kirchner com quem ele rompeu em 2013.

Macri e Massa teriam maior condição de conquistar esse eleitor ainda indeciso, mas que pode determinar quem será o futuro presidente do país.

Estratégias

Segundo os analistas, os indecisos fazem parte da classe média que vota na oposição. Um terço dos argentinos quer uma mudança total. Outro terço quer continuidade. E o outro terço quer um pouco dos dois: uma mudança parcial.

Há dois meses, quando um precisou conquistar votos no terreno do outro, todos os candidatos mudaram de discurso. Saíram da esquerda ou da direita rumo ao centro em busca de uma postura mais abrangente.

Massa migrou de uma mudança parcial a um discurso de mudança total. Prometeu o uso do Exército nas favelas e prisão perpétua para envolvidos com o tráfico de drogas, além de prisão efetiva aos corruptos.

O discurso de Macri, voltado a princípios republicanos e respeito às instituições, saiu de uma mudança total e passou a defender os programas sociais e até as estatizações de Cristina Kirchner. Macri adotou a bandeira social da "pobreza zero".

Já Daniel Scioli passou da continuidade à tentativa de se mostrar menos como uma marionete de Cristina Kirchner para tentar conquistar o voto independente. 60% dos eleitores acreditam que, num governo Scioli, quem vai mandar é a atual presidente.

Confusão para os eleitores

A estratégia de simbiose causou confusão nos eleitores, que não conseguem mais identificar bem quais são as diferenças entre cada candidato. Por isso, o que termina definindo as escolhas é o dilema básico de continuar ou mudar.

E para isso surgiu o que aqui se chama a estratégia do "voto útil". Isso significa votar não necessariamente no melhor, mas naquele que tem chances de derrotar o pior. Tanto Macri quanto Massa apelam para o argumento do voto útil e se apresentam como a alternativa para derrotar Scioli para acabar com o "kirchnerismo".

Macri faz um apelo aos eleitores porque se considera o único em condições de chegar ao segundo turno. Massa, por sua vez, baseia-se em algumas sondagens nas quais ele aparece como o único capaz de derrotar Scioli numa disputa direta no segundo turno.

Em outro aspectos todos se parecem e todos evitam a palavra "ajuste". Ganhe quem ganhar, a partir de 10 de dezembro, quando Cristina Kirchner deixar o poder, o que há de certo é o anúncio de um ajuste. Aliás, um forte ajuste, muito maior do que a maioria dos eleitores imagina e do que os candidatos tiveram coragem de expor para não perderem votos.

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