Lateral-esquerdo disputa o Campeonato Argentino pelo Colón, que briga para não ser rebaixado
Ele jogou a Copa do Mundo de 2010 pela seleção argentina e ganhou medalha de ouro na Olimpíada de 2004. Foi tricampeão da Libertadores e é ídolo até hoje do Boca Juniors. Apesar do currículo extremamente vitorioso, o destino reservou a Clemente Rodríguez os capítulos mais tristes de sua carreira durante os 19 meses em que esteve no São Paulo, de 2013 até o início deste ano. Com direito a afastamento do elenco profissional, o que o levou a treinar com os juniores por longos dez meses, no CT de Cotia.
Atualmente no Colón, time da primeira divisão do futebol argentino, o lateral-esquerdo de 34 anos atendeu ao Blog por telefone, durante 35 minutos, e falou pela primeira vez desde a sua rescisão, em fevereiro. Na conversa, o parceiro de Riquelme demonstrou decepção com os dirigentes, que nunca lhe deram satisfação, e afirmou que não recebeu o apoio dos companheiros do time profissional, além de assegurar que quer uma nova chance no País do Futebol.
BLOG_ Você passou uma temporada e meia no São Paulo e só fez três jogos. Por que não deu certo?
CLEMENTE RODRÍGUEZ_ Foram uma série de motivos que acabaram atrapalhando. Primeiro, eu cheguei quando o Milton Cruz estava de técnico interino e, logo depois, assumiu um outro técnico (Muricy Ramalho). Teve também o lado político. E eu só ficava no banco de reservas. Faltou oportunidade de jogar para que eu pudesse mostrar meu trabalho.
Mas não concorda que foi mal no futebol brasileiro?
Acho que nem dá para fazer essa avaliação. As pessoas só poderiam fazer uma crítica sobre minha passagem depois que eu jogasse mais. Aí, sim, daria para dizer se fui bem ou mal. Mas foram só três partidas. Depois, fiquei na reserva, fui parar no CT de Cotia e o resto da história todo mundo conhece.
Você citou a política, que hoje em dia anda superagitada. O que viu acontecer de julho de 2013 a fevereiro de 2015?
Ah, foram muitas coisas que passaram. Cheguei contratado por uma diretoria (o presidente era o Juvenal Juvêncio e o diretor de futebol, Adalberto Baptista) e, meses depois, assumiu outro presidente (Carlos Miguel Aidar, com o vice de futebol Ataíde Gil Guerreiro). Além disso, eu tinha um custo alto e era olhado com desconfiança.
Depois de ser reserva durante quase todo o segundo semestre de 2013, você ainda foi afastado e passou a treinar no CT de Cotia, com os juniores, a partir de abril de 2014. Foi uma pressão da diretoria para forçá-lo a sair do clube?
Eu penso que sim. Eles queriam que eu saísse o mais rápido possível do São Paulo. E até apareceram algumas propostas, mas nenhuma delas era interessante. Nenhum daqueles times me empolgava. Por isso, segui treinando em Cotia.
Mas você morava em Perdizes, na Zona Oeste de São Paulo, a mais de 40 km de distância do CT da base…
Sim. Eu demorava duas horas para ir treinar e outras duas para voltar. Eram quatro horas todo dia no trânsito. Como percebi que me deixariam lá por bastante tempo, acabei me mudando para uma casa no Morumbi. Aí, passei a gastar 40 minutos para ir e 40 para voltar. Foi o jeito que deu.
Em algum momento, saíram notícias de que você não era muito dedicado aos treinos.
Isso é mentira! Eu não me atrasei nem sequer a um treino e nunca faltei. Foram vários dias em que trabalhei em dois turnos, de manhã e de tarde, mesmo sem qualquer expectativa de ser relacionado para o jogo do fim de semana. Era meu trabalho e pagavam meu salário. Uma vez ou outra, quando me davam o fim de semana folga, eu viajava para a Argentina.
Com quem você treinava no CT de Cotia?
Com os jovens. Às vezes, com o time sub-20, às vezes, com o sub-17. Com quem estivesse lá. Apesar de ter sido afastado, não posso reclamar de nenhuma das pessoas de Cotia, que me tratavam bem.
Você havia trocado o Boca Juniors pelo São Paulo. Como foi deixar de ser titular do clube mais tradicional da Argentina para ficar encostado com os juniores no Brasil?
Foi o pior momento da minha vida como jogador de futebol. Eu vim de um clube gigante, era convocado sempre para a seleção argentina e queria jogar no São Paulo para continuar sendo convocado. Mas só quem esteve do meu lado sabe o que eu passei no Brasil.
E quem foram essas pessoas que o ajudaram em São Paulo?
Principalmente a minha mulher (Agustina) e o Titico, um amigo que me ajudou bastante com palavras de tranquilidade. Quando eu estava muito chateado, ele sempre aparecia com uma mensagem positiva.
Lateral é titular absoluto do Colón e já foi eleito para a seleção da rodada algumas vezes
A diretoria são-paulina lhe dava satisfação?
Nunca ninguém do São Paulo falou comigo. O Gustavo (Vieira de Oliveira, que deve voltar a ser o gerente de futebol nos próximos dias) só falou comigo uma vez, quando comunicou que eu não treinaria mais no plantel profissional e me encaminhou para Cotia. E ninguém mais deu satisfação, apoio ou qualquer explicação.
Nem sequer os outros jogadores do time profissional?
Nenhum. Eles só falavam comigo enquanto eu estava no CT da Barra Funda. E eu aprendi que amigo é amigo na hora boa e na hora ruim.
Você ficou de 15 de agosto de 2013 a 2 de fevereiro deste ano sem jogar. Em algum momento durante este longo período, pensou na hipótese de abandonar a carreira?
Não. Eu sei que ainda tenho muito tempo para jogar e só me concentrava na ideia de que não poderia desistir.
Depois de tudo isso, ainda tem vontade de voltar a jogar futebol no Brasil?
Eu gostaria. Quero ter uma nova chance para mostrar que eu posso ser melhor aproveitado do que fui no São Paulo. Ficaria muito contente se a oportunidade aparecesse.
No São Paulo?
O São Paulo, primeiro, precisa pagar a parcela que resta do nosso acerto. Eles pagaram as quatro primeiras, mas a última está atrasada há um tempão.
Qual o valor?
Aproximadamente R$ 100 mil. E está muito atrasada. Espero que não tenha de ir à Justiça para receber. No fim do ano, devo voltar a São Paulo para resolver algumas coisas e tentarei receber. Se não der, vou cobrar nos tribunais.
A notícia de que o presidente Carlos Miguel Aidar renunciou em meio a denúncias de corrupção chegou aí?
Para falar a verdade, não sabia de nada sobre essa crise. Fui para o São Paulo porque tinha a imagem de um clube organizado. Mas, na verdade, não era bem assim.
Você imagina voltar para jogar no Brasil quando?
Ainda não falei com nenhum clube, até porque tenho contrato até dezembro com o Colón, de Santa Fé. Aí, vou sair de férias e tentarei conversar com alguns empresários aí no Brasil. Vou ver se consigo algo, senão, continuo aqui na Argentina, onde não me falta mercado.
Tem jogado como titular?
Sim, estou jogando todas as partidas, sempre como titular. Fui eleito várias vezes o melhor do Colón e já estive em algumas oportunidades na seleção da rodada, que fazem aqui. O time é que não está tão bem, passa um momento meio complicando, por falta de resultados (o Colón é o 26º entre os 30 clubes da Primeira Divisão do Campeonato Argentino).
Os campeonatos no Brasil e na Argentina são muito diferentes?
Completamente. As partidas aí são bem mais jogadas do que aqui. Na Argentina, prevalece a força. Há sempre divididas mais fortes, é um jogo de bastante contato.
Talvez por estar habituado a jogar neste tipo de futebol que você não vingou?
Eu tenho certeza de que teria me encaixado bem no São Paulo se tivessem me dado mais oportunidades. Também sei ser técnico, bato bem na bola. Só que fui expulso logo na minha primeira partida (contra o Bahia), joguei contra o Cruzeiro, depois atuei improvisado como lateral-direito (diante do Atlético-PR) e nunca mais.
Ainda tem contato, ainda que por WhatsApp, com alguém do clube?
Ninguém. Nem jogador nem dirigente nem ninguém.
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