Em 2001, a Argentina em meio a uma crise econômica e política, decidiu não realizar o pagamento da sua dívida pública, que era de cerca de US$ 100 bilhões. Com isso, pessoas físicas, empresas e os fundos que tinham títulos da dívida, ou seja, que haviam emprestado dinheiro ao Governo, deixaram de receber seus rendimentos e foram impedidos de resgatá-los
Após quatro anos, o Governo de Néstor Kirchner, numa tentativa de recuperar a credibilidade com um plano de renegociações daqueles débitos, renegociou 90% do valor. Então, 75% dos credores aceitaram receber menos e de forma parcelada. No entanto, os outros 25% não quiseram renegociar e venderam as dívidas, em forma de títulos, para fundos especulativos, como os dos Estados Unidos, que aceitaram comprar os títulos dos credores a preços bem baixos e foram chamados pelo Governo argentino de ‘fundos abutres’.A questão, por fim, foi parar na Justiça dos EUA, onde os fundos foram tentar receber o total dos valores dos títulos, sem descontos ou parcelamentos.
Em entrevista à Sputnik Brasil, o professor do Inest – Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense, Fernando Almeida, analisou a declaração de Daniel Scioli como necessária, em razão de novas especulações a respeito da situação da Argentina, sendo evidente que ele não consideraria esse pagamento prioritário, já que o valor da dívida atualmente é de cerca de US$ 15 bilhões.
“Hoje há 47 fundos com essa característica de abutres, sendo que três são muito grandes, e o pagamento a só esses três seria de US$ 1,5 bilhão”, diz o Professor Fernando Almeida. “Isso poderia chegar a uma soma de US$ 15 bilhões, e a Argentina não tem o menor interesse em entrar de novo nessa discussão. É uma declaração [a de Scioli] que se faz necessária, por um caráter de nacionalismo argentino. Afinal, ele é candidato pelo partido peronista Frenta pela Vitória, e é claro que isso não seria prioridade para ele.”
Fernando Almeida também acredita que Scioli deve garantir a vitória como novo presidente da Argentina nas eleições de domingo, sem necessidade de segundo turno, principalmente devido ao apoio de Cristina Kirchner.
“Ele terá que conquistar agora 45% dos votos, e deverá ter, sim, porque Cristina Kirchner sai em uma situação boa, ela tem mais de 40% de apoio, e ele seria um continuador das políticas sociais todas da presidente.”Quanto às especulações de que Daniel Scioli não teria o perfil ideal de candidato que a Presidente Cristina Kirchner gostaria de ter em seu sucessor, o professor de Relações Internacionais concorda com os boatos, e acredita que isso ocorra pelo fato de ele ser um personagem novo no peronismo.
“Ele é mais ou menos recém-chegado ao peronismo. Daniel Scioli foi um atleta muito conhecido, oito vezes campeão mundial de motonáutica, tem seu lado empresarial, mas se tornou uma liderança carismática. Foi vice-presidente de Néstor Kirschner, é governador de Buenos Aires. Realmente, ele é um candidato que tem boa aceitação pela população e pode usar o prestígio de Cristina para sair vencedor na eleição de domingo.”